O Que A Bíblia Diz Sobre Combater O Desânimo?

O desânimo é algo que todos nós enfrentamos em diferentes momentos da vida. Seja pelos males do mundo, pela corrupção na Igreja, por dificuldades em nossas famílias ou simplesmente por nossa própria fragilidade humana — não faltam motivos para nos sentirmos para baixo. Em meio a essas diversas lutas, a Sagrada Escritura nos oferece ajuda e inspiração. Com suas histórias de profetas cansados, salmos de lamento e fracassos humanos contínuos, a Bíblia nos apresenta uma visão profundamente esperançosa de um Deus que conhece nossa fraqueza e nos encoraja em todas as nossas provações.
"Animai-vos mutuamente cada dia"
O Novo Testamento fala claramente sobre a importância de nos encorajarmos uns aos outros no Senhor:
Animai-vos mutuamente cada dia durante todo o tempo compreendido na palavra hoje, para não acontecer que alguém se torne empedernido com a sedução do pecado. (Hb 3,13 — Bíblia Sagrada, versão Ave Maria)
Assim, pois, consolai-vos mutuamente e edificai-vos uns aos outros, como já o fazeis. (1 Ts 5,11 — Bíblia Sagrada, versão Ave Maria)
O verbo grego que o Novo Testamento usa para "encorajar" é parakaléō. É uma palavra rica, que também pode significar "exortar" ou até mesmo "consolar". Em certo ponto de suas cartas, São Paulo descreve Deus como aquele que consola (encoraja) os abatidos (cf. 2 Cor 7,6). Anteriormente
Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias, Deus de toda a consolação (paráklēsis), que nos conforta em todas as nossas tribulações, para que, pela consolação (paráklēsis) com que nós mesmos somos consolados (parakaloumetha) por Deus, possamos consolar (parakalein) os que estão em qualquer angústia! Com efeito, à medida que em nós crescem os sofrimentos de Cristo, crescem também por Cristo as nossas consolações (paráklēsis). (2 Cor 1,3–5)
Para Paulo, Deus Pai é um Deus que encoraja, que nos dá seu Filho para nos consolar em todas as nossas aflições.
Essa mensagem se reflete nos Atos dos Apóstolos, que enfatizam a necessidade do encorajamento mais do que qualquer outro livro do Novo Testamento. Repetidamente, o livro descreve como os primeiros cristãos se esforçavam por rezar juntos e se fortalecer mutuamente. Vejamos a conduta de Paulo em Antioquia, logo após ter sido apedrejado pelos judeus e deixado como morto:
Os discípulos o rodearam. Ele se levantou e entrou na cidade. No dia seguinte, partiu com Barnabé para Derbe. Depois de ter pregado o Evangelho à cidade de Derbe, onde ganharam muitos discípulos, voltaram para Listra, Icônio e Antioquia (da Pisídia). Confirmavam as almas dos discípulos e exortavam-nos a perseverar na fé, dizendo que é necessário entrarmos no Reino de Deus por meio de muitas tribulações. (At 14,20–22)
Há algo muito apropriado no fato de que o companheiro de Paulo nessa viagem era Barnabé, cujo nome significa "filho da consolação" (At 4,36). O tema do encorajamento continua ao longo dos Atos dos Apóstolos:
Judas e Silas, que eram também profetas, dirigiram aos irmãos muitas palavras de exortação e de animação. (At 15,32)
Saindo do cárcere, entraram em casa de Lídia, onde reviram e consolaram os irmãos. Depois partiram. (At 16,40)
Depois que cessou o tumulto, Paulo convocou os discípulos. Fez-lhes uma exortação, despediu-se e pôs-se a caminho para ir à Macedônia. Percorreu aquela região, exortou os discípulos com muitas palavras e chegou à Grécia, onde se deteve por três meses. (At 20,1–3)
Sem dúvida, essas passagens contêm lições importantes para nós. Com que frequência nos esforçamos para afirmar e fortalecer nossos irmãos que estão desanimados ou sobrecarregados?
Na fraqueza que a força se realiza plenamente
Parte essencial da receita bíblica para o verdadeiro encorajamento é o reconhecimento de que somos seres humanos fracos — e, de certo modo, isso está bem! Foi algo que São Paulo teve de aprender depois de ter rezado repetidamente para que Deus o libertasse de seu misterioso "espinho na carne":
E para que a grandeza das revelações não me enchesse de orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás, para me esbofetear, a fim de que eu não me torne orgulhoso. A esse respeito, roguei três vezes ao Senhor que ficasse longe de mim. 9 Mas o Senhor disse-me: "Basta-te a minha graça; pois é na fraqueza que a força se realiza plenamente". Por isso, de bom grado, me gloriarei das minhas fraquezas, para que a força de Cristo habite em mim; e me comprazo nas fraquezas, nos insultos, nas dificuldades, nas perseguições e nas angústias por causa de Cristo. Pois, quando sou fraco, então sou forte. (2 Cor 12,7–10)
Por meio de suas tribulações, São Paulo descobriu que é precisamente nossa fraqueza e fragilidade que oferece o terreno mais fértil para que Deus nos fortaleça e nos aperfeiçoe. Esse reconhecimento aparece anteriormente na mesma carta:
Porque Deus que disse: "Das trevas brilhe a luz", é também aquele que fez brilhar a sua luz em nossos corações, para que irradiássemos o conhecimento do esplendor de Deus, que se reflete na face de Cristo. Porém, temos este tesouro em vasos de barro, para que transpareça claramente que este poder extraordinário provém de Deus e não de nós. Em tudo somos oprimidos, mas não sucumbimos. Vivemos em completa penúria, mas não desesperamos. Somos perseguidos, mas não ficamos desamparados. Somos abatidos, mas não somos destruídos. Trazemos sempre em nosso corpo os traços da morte de Jesus para que também a vida de Jesus se manifeste em nosso corpo. (2 Cor 4,6–10)
Essas palavras poderosas devem nos desafiar a abandonar o ego, renunciar ao perfeccionismo e abraçar a esperança e o encorajamento que Deus nos oferece por meio de seu Filho.
Uma lição para os desanimados
Uma figura bíblica que aparentemente tinha bons motivos para sentir-se desanimada foi o profeta Jeremias. Por quase meio século, ele enfrentou a ingrata missão de exortar o povo de Deus a abandonar seus pecados para evitar a destruição iminente de Jerusalém. Seus esforços pareceram inúteis quando as forças babilônicas destruíram a cidade em 587 a.C.
A história da vida de Jeremias é tão desoladora que inspirou São João Henrique Newman a compor um sermão intitulado "Jeremias, uma lição para os desanimados". Nele, o santo oferece um encorajamento cheio de sabedoria bíblica:
Não desistas de teus esforços para servir a Deus, mesmo que não vejas frutos deles. Vigia e ora, e obedece à tua consciência, ainda que não percebas progresso algum em santidade. Continua, e não poderás senão avançar; crê nisso, mesmo sem ver. Cumpre os deveres do teu estado de vida, mesmo que sejam penosos. Educa teus filhos com cuidado no bom caminho, mesmo sem saber até que ponto a graça de Deus tocou seus corações. Que tua luz brilhe diante dos homens, e glorifica a Deus com uma vida coerente, ainda que outros não pareçam glorificar o Pai por tua causa, nem se beneficiar de teu exemplo... Convido-te a tomar a cruz de Cristo, para que possas usar sua coroa. Entrega teu coração a Ele, e resolverás por ti mesmo a dificuldade de como os cristãos podem ser tristes, e ainda assim sempre cheios de alegria.
Como cristãos, somos chamados a viver e trabalhar neste mundo, mas sempre com a certeza de que a vitória final já está garantida (cf. Ap 17,14). Por isso, não desanimamos, por mais difíceis que as coisas pareçam. Pois sabemos que o mesmo Deus que alimentou cinco mil pessoas com cinco pães e dois peixes pode transformar todos os nossos humildes esforços numa abundante colheita de graça.
Autor: Clement Harrold
Original em inglês: St. Paul Center
Leituras que mencionam São John Henry Newman :
Livros de São John Henry Newman