O Vocabulário 'Folha De Figueira' Da Heresia

06/05/2025
Placa com Cristo apresentando as chaves a São Pedro e a lei a São Paulo, de um artista alemão desconhecido, c. 1150-1200 [Museu de Arte Moderna, Nova York]
Placa com Cristo apresentando as chaves a São Pedro e a lei a São Paulo, de um artista alemão desconhecido, c. 1150-1200 [Museu de Arte Moderna, Nova York]

"Então os olhos de ambos se abriram, e, como reparassem que estavam nus, teceram para si tangas com folhas de figueira" (Gênesis 3,7).

A cada geração, o mundo assiste ao campeonato eclesiástico católico, quando os cardeais se reúnem em Roma para eleger um novo papa. A escolha é sempre, no fundo, teológica. Eles elegerão alguém que acredita que Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança? Ou o novo papa acreditará, como a maioria dos católicos de hoje (aparentemente), que o homem criou Deus à imagem e semelhança do homem? Infelizmente, grande parte do mundo católico substituiu a linguagem da fé católica por termos à la 'folha de figueira' que abrangem vários tipos de heresia.

O termo "herege" é descritivo, devidamente entendido, e não meramente polêmico. Ele vem do grego haerein, que significa selecionar - geralmente apenas o que nos agrada - de toda a gama de verdades. A ortodoxia (ou seja, a crença correta) nos aponta a direção certa, embora muitas vezes não estejamos à altura da verdade. Os hereges negam deliberadamente uma ou mais verdades da fé católica. Os hereges abertos são, pelo menos, honestos. Mas os católicos professos que frequentemente impõem suas opiniões dissidentes à Igreja por meio de linguagem enganosa são hereges desonestos.

O papa é o sucessor de Pedro. O ministério petrino, estabelecido por Jesus, participa do papado de São Pedro. Por sua própria função, todo papa deve ser o guardião da fé católica. Ele é o Vigário de Cristo e o primeiro entre os bispos. Com seus irmãos bispos, o papa é um embaixador sagrado do infalível Depósito da Fé.

Descobrimos quem somos quando estudamos e aceitamos a revelação de Deus com fé. A reflexão teológica aprofunda nossa compreensão da revelação de Deus. Liderada pelos sucessores dos Apóstolos, com o papa como Vigário de Cristo, a Igreja transmite a fé. A Tradição, as Escrituras e o Magistério, sob a orientação do Espírito Santo, formam uma estrutura bela e lógica de doutrina.

No entanto, o papa não é um Oráculo de Delfos dos últimos tempos. Como ele se senta na Cátedra de São Pedro, o papa é infalível pela graça de Deus, mas somente sob condições estritas que aplicam a lógica teológica ao Depósito da Fé existente. A razão humana apoiada pela fé lhe permite, por exemplo, proclamar a Imaculada Conceição e a gloriosa Assunção corporal de Maria ao céu. Um papa é o servo, não o mestre, da revelação de Deus.

Séculos de ensinamentos da Igreja e de especulações teológicas nos deram o vocabulário da fé: formulações do Credo, os Dez Mandamentos, os Sacramentos e a oração. Tomando emprestado das disciplinas filosóficas, acrescentamos à herança das Escrituras um vocabulário de virtude enraizado no amor cristão. A Igreja também destaca os sete pecados capitais: orgulho, avareza, ira, inveja, luxúria, gula e preguiça. O pecado distorce e degrada a marca divina em nossa humanidade.

Examinamos nossa consciência contra essas violações de Sua bondade. Obtemos a graça dos Sacramentos, principalmente da Eucaristia, para nos sustentar em uma vida de virtude. No final de nossa vida, nos apresentamos diante de Deus, manifestando nossa responsabilidade por nossa vida. Nossas virtudes demonstram nosso compromisso com a verdade de que Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança. O purgatório purifica o trabalho inacabado de nossa busca pela santidade.

Mas a maioria dos católicos parece acreditar que o homem criou Deus à imagem e semelhança do homem. As evidências dessa contenda ultrajante se tornaram inconfundíveis durante este período eclesiástico. Quase todos os meios de comunicação católicos usam um vocabulário 'folha de figueira' que esconde várias heresias: a rejeição generalizada da totalidade do ensino católico.

A mídia cita os chamados especialistas que classificam os candidatos em várias categorias: tradicionais, progressistas, moderados, liberais, conservadores e centristas. Mas esse léxico é contrário à fé. As designações categorizam Deus e os ensinamentos da Igreja em nossos termos, não nos de Deus, como se a fé fosse meramente uma versão espiritual da política secular. O vocabulário ideológico disfarça as heresias sob um rótulo católico. Muitos de nós nos tornamos hereges desonestos.

Os moderados e progressistas revogam (muitas vezes por equívoco e ambiguidade) o Sexto e o Nono Mandamentos, negam que vários atos de mutilação física violem o Quinto Mandamento e eliminam a luxúria da lista dos pecados capitais. Eles esperam que sua postura oculte sua dissidência e heresia porque sentem que uma Igreja herética é uma contradição em termos.

Aqueles que se opõem a eles são frequentemente rotulados como "extremistas de direita", tradicionalistas ou conservadores "rígidos". Nessa perspectiva, a ortodoxia é dura e, na verdade, viola os ensinamentos católicos porque (supostamente) bloqueia o amor de Jesus. Por outro lado, os moderados e progressistas são, em sua própria estimativa, inclusivos e convidam todos (exceto os tradicionalistas) a participar da comunhão. Mas sem as normas objetivas da justiça de Deus, a ideologia progressista é desprovida da verdadeira misericórdia.

A ortodoxia católica não é garantia de virtude cristã. O demônio é perfeitamente ortodoxo sobre o que constitui a doutrina católica. Mas ele a rejeita. Os apóstolos fugiram de Jesus após se acorvadarem no Jardim. São Pedro era um devoto seguidor de Jesus. Mas na hora da verdade, ele O negou três vezes.

John Henry Newman disse em algum lugar que seu status de teólogo proeminente não o tornava santo, mas o tornava mais responsável no Dia do Julgamento. Todos os fiéis, tanto os grandes quanto os humildes, um dia se apresentarão diante de Deus e prestarão contas de suas vidas.

Imagine um papa, bispo ou sacerdote - imagine qualquer pessoa - diante do Senhor no Dia do Juízo. Imagine que ele invoque as palavras 'folha de figueira' para cobrir a vergonha de sua heresia e domínio sobre a Igreja de Deus: "Senhor, eu era um católico progressista! Eu era inclusivo! As pessoas gostavam de mim!"

Mas Jesus diz: "Nem todo aquele que me diz 'Senhor, Senhor' entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: 'Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos e em teu nome que expulsa- mos demônios e em teu nome que fizemos muitos milagres?'. Então eu lhes declararei: 'Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade'" (Mateus 7,21-23).

Palavras para viver: "Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou" (Gênesis 1,27).

Autor: Rev. Jerry J. Pokorsky

Original em inglês: The Catholic Thing