5 Passagens Da Bíblia Que Apontam Para O Purgatório

Uma afirmação comum dos protestantes é que a doutrina católica do purgatório não se encontra em nenhuma parte da Bíblia. Mas será isso verdade? Uma vez que a Bíblia nos assegura que nada impuro entrará no céu (ver Ap 21, 27; cf. Hb 12, 14), isso implica que as almas que morrem em estado de amizade imperfeita com Deus devem passar por algum tipo de purificação final antes de entrarem na vida eterna. Isso se encaixa com o que a Sagrada Escritura ensina de maneira mais geral sobre como Deus age como um "fogo do fundidor" (Malaquias 3,2) que disciplina Seus filhos a fim de purificá-los de seus apegos doentios ao pecado (ver Sb 3,1-9; Hb 12,5-6.10-11). Mas, mesmo assim, se os católicos estão certos sobre o purgatório, então esperaríamos que houvesse algumas passagens na Bíblia que apontassem para a sua existência. Aqui, exploraremos cinco dessas passagens.
2 Macabeus 12, 39-45
"No dia seguinte, sendo já urgente a tarefa, partiram os homens de Judas para recolherem os corpos dos que haviam tombado, a fim de inumá- los junto com os seus parentes, nos túmulos de seus pais. Então encontraram, debaixo das túnicas de cada um dos mortos, objetos consagrados aos ídolos de Jâmnia, cujo uso a Lei vedava aos judeus. Tornou-se assim evidente, para todos, que foi por esse motivo que eles sucumbiram. Todos, pois, tendo bendito o modo de proceder do Senhor, justo Juiz que torna manifestas as coisas escondidas, puseram-se em oração para pedir que o pecado cometido fosse completamente cancelado. E o nobre Judas exortou a multidão a se conservar isenta de pecado, tendo com os próprios olhos visto o que acontecera por causa do pecado dos que haviam tombado. Depois, tendo organizado uma coleta individual, enviou a Jerusalém cerca de duas mil dracmas de prata, a fim de que se oferecesse um sacrifício pelo pecado: agiu assim absolutamente bem e nobremente, com o pensamento na ressurreição. De fato, se ele não esperasse que os que haviam sucumbido iriam ressuscitar, seria supérfluo e tolo rezar pelos mortos. Mas, se considerava que uma belíssima recompensa está reservada para os que adormecem na piedade, então era santo e piedoso o seu modo de pensar. Eis por que ele mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, a fim de que fossem absolvidos do seu pecado".
Neste texto bem conhecido, Judas Macabeu e seus homens rezam pelas almas de alguns soldados judeus que morreram em batalha. Isso aponta para a realidade do purgatório, já que somente as almas no purgatório poderiam se beneficiar das orações dos vivos. É claro que os protestantes não aceitam 2 Macabeus como canônico, mas isso apenas ressalta a arbitrariedade de sua posição sobre o cânone bíblico. (Como eles podem ter certeza de que 2 Macabeus não é canônico quando todos os católicos e cristãos ortodoxos do mundo, sem mencionar os Padres da Igreja como Santo Agostinho, o consideram canônico?) De qualquer forma, 2 Macabeus continua sendo significativo como texto histórico, independentemente de seu status canônico; ele indica que os judeus do século II a.C. acreditavam em alguma forma de purificação pós-morte, o que mostra que a doutrina católica do purgatório está enraizada em uma tradição antiga.
Outra objeção que os protestantes às vezes levantam é que os soldados judeus nesta passagem morreram em estado de pecado grave, uma vez que foram encontrados símbolos dos ídolos de Jamnia em seus cadáveres. Isso não significa que os homens que morreram foram para o inferno em vez do purgatório? Bem, Judas e seus homens aparentemente não pensavam assim. Talvez eles acreditassem que o pecado dos soldados mortos era venial, e não mortal (é possível que os soldados fossem culpados de um pecado menor de superstição, em vez do pecado mais grave de idolatria declarada). Ou talvez eles mantivessem a esperança de que os soldados tivessem se arrependido de seus pecados nos momentos antes de sua morte. De qualquer forma, o que é significativo é que Judas e seus homens consideravam pelo menos possível que as almas dos soldados mortos pudessem ser ajudadas por suas orações. Isso é suficiente para mostrar que eles acreditavam em algum tipo de purgatório.
Mateus 5,25-26
"Assume logo uma atitude conciliadora com o teu adversário, enquanto estás com ele no caminho, para não acontecer que o adversário te entregue ao juiz e o juiz ao oficial de justiça e, assim, sejas lançado na prisão. Em verdade te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo".
Nesta passagem, Jesus faz uma advertência sobre um homem que vai a tribunal com seu acusador. Embora esta passagem possa estar simplesmente falando sobre como enfrentar o julgamento nesta vida presente, é razoável supor que Jesus também está tentando nos ensinar algo sobre o julgamento muito mais importante que nos espera na vida futura. Os versículos ao redor, bem como o contexto mais amplo do Sermão da Montanha, mostram que as consequências eternas de nossas ações estão muito presentes na mente de Jesus; e a passagem em questão está inserida entre advertências sobre os tipos de pecados que levam ao fogo do inferno (ver Mateus 5,21-22, 27-30). Seria, portanto, estranho se, nos versículos 25-26, Jesus estivesse apenas nos oferecendo conselhos sobre como evitar problemas legais.
Parece muito mais provável que Jesus esteja oferecendo uma mini parábola que aponta para uma realidade mais profunda: devemos buscar a reconciliação com o próximo a quem prejudicamos (nosso "acusador") antes do momento da nossa morte (chegando ao "tribunal") para que Deus ("o juiz") não nos condene a uma sentença severa. Se não nos reconciliarmos com nosso próximo, podemos esperar ser entregues ao "guarda" (talvez os anjos) e jogados na prisão — ou no purgatório. Sabemos que a prisão se refere ao purgatório e não ao inferno porque Jesus diz "dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo". Em outras palavras, não escaparemos do purgatório antes de recebermos as punições necessárias para restaurar a justiça divina, reordenar nossa vontade e nos purificar de nosso apego ao pecado.
Mateus 12, 32
"Se alguém disser uma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado, mas se disser contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no vindouro".
Este versículo é significativo porque implica que algum perdão dos pecados ocorre no mundo vindouro, ou seja, após a morte. Isso se encaixa bem com a visão católica do purgatório, que sustenta que uma alma pode morrer em estado de amizade com Deus sem ter se arrependido de todos os seus pecados veniais. Essa alma entrará então no purgatório, onde passará por um processo de purificação pelo qual se arrependerá até mesmo dos seus menores pecados e receberá o perdão de Deus por meio desse processo. É claro que Jesus não diz explicitamente que alguns pecados serão perdoados no mundo vindouro, mas suas palavras seriam confusas se não fosse esse o caso. Por que Jesus alertaria que o pecado de falar contra o Espírito Santo não pode ser perdoado no mundo vindouro se não existe tal coisa como receber perdão no mundo vindouro?
Lucas 12,42-48
"O Senhor respondeu: "Qual é, então, o administrador fiel e prudente que o senhor constituirá sobre o seu pessoal para dar em tempo oportuno a ração de trigo? Feliz aquele servo que o senhor, ao chegar, encontrar assim ocupado! Verdadeiramente, eu vos digo, ele o constituirá sobre todos os seus bens. Se aquele servo, porém, disser em seu coração: 'O meu senhor tarda a vir', e começar a espancar servos e servas, a comer, a beber e a se embriagar, o senhor daquele servo virá em dia imprevisto e em hora ignorada; ele o partirá ao meio e lhe imporá a sorte dos infiéis. Aquele servo que conheceu a vontade de seu senhor, mas não se preparou e não agiu conforme sua vontade, será açoitado muitas vezes. Todavia, aquele que não a conheceu e tiver feito coisas dignas de chicotadas, será açoitado poucas vezes. Àquele a quem muito se deu, muito será pedido, e a quem muito se houver confiado, mais será reclamado".
Nesta parábola sobre o julgamento divino, Jesus distingue os diferentes tipos de punições que um senhor aplicará ao seu servo. A punição mais severa é para o servo que é o partido ao meio e imposto "a sorte dos infiéis" — aparentemente uma alusão às punições do inferno. Mas há o servo que será "açoitado muitas vezes" ou "açoitado poucas vezes". Essas distinções seriam desconcertantes se não existisse o purgatório. Mas se o purgatório existe, então elas fazem todo o sentido: o servo que é perfeitamente fiel irá direto para o céu, enquanto o servo que é culpado de crimes terríveis irá para o inferno. Mas há outros servos que são imperfeitos o suficiente para merecer punição, mas não tão depravados a ponto de pertencerem ao inferno. São essas almas que chegam ao céu futuramente, mas somente depois de terem recebido as punições purificadoras do purgatório.
1 Coríntios 3,10-15
"Segundo a graça que Deus me deu, como bom arquiteto, lancei o fundamento; outro constrói por cima. Mas cada um veja como constrói. Quanto ao fundamento, ninguém pode colocar outro diverso do que foi posto: Jesus Cristo. Se alguém sobre esse fundamento constrói com ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno ou palha, a obra de cada um será posta em evidência. O Dia torná-la-á conhecida, pois ele se manifestará pelo fogo e o fogo provará o que vale a obra de cada um. Se a obra construída sobre o fundamento subsistir, o operário receberá uma recompensa. Aquele, porém, cuja obra for queimada perderá a recompensa. Ele mesmo, entretanto, será salvo, mas como que através do fogo".
São Paulo descreve lindamente como todos nós somos arquitetos chamados a construir nossas vidas sobre o fundamento que é Cristo. Mas podemos construir nossas vidas com muitas coisas diferentes: desde ouro e prata até feno e palha. No dia do nosso julgamento, a verdadeira natureza dos nossos esforços será revelada. Construímos uma vida que pode resistir à santidade ardente do Deus que as Escrituras descrevem como "fogo consumidor" (Hb 12,29)? Se não, então esperamos que a presença divina queime toda a nossa futilidade, todas as nossas impurezas, toda a nossa aparência vazia. É a isso que chamamos purgatório. São Paulo nos adverte que, por meio dessa purificação, "perdereremos a recompensa" — ou seja, será doloroso. De fato, nossa purificação pós-morte será " através do fogo", pois somente matando nosso velho eu e sendo formados de novo em Cristo é que nossas almas estarão finalmente prontas para entrar na alegria do céu.
Autor: Clement Harrold
Original em inglês: St. Paul Center
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