O Significado Mais Profundo Da Apresentação No Templo

Para muitos católicos, o quarto mistério gozoso — a Apresentação de Jesus no Templo — pode ser uma cena difícil de meditar. Afinal, do que se trata o episódio? E qual poderia ser o seu significado mais profundo?
Começando pela primeira pergunta, é importante lembrar que a Apresentação descrita em Lucas 2,22-38 não é a circuncisão de Jesus. Esta já ocorreu oito dias após o Seu nascimento. Em vez disso, a Apresentação ocorreu para cumprir dois preceitos diferentes da Lei Mosaica.
O primeiro deles, extraído de Levítico 12, determinava que as mães precisavam ser purificadas quarenta dias após darem à luz um filho homem. É por isso que a Apresentação é celebrada no calendário da Igreja em 2 de fevereiro — também conhecido como "Candelária" - vide "Leituras Adicionais"- , uma alusão às palavras de Simeão sobre o menino Jesus ser "luz para iluminar as nações" (Lc 2,32) — porque o evento ocorre quarenta dias após o nascimento (contando 25 de dezembro como o primeiro dia).
Para realizar a purificação, a mãe em questão era obrigada a sacrificar um cordeiro, além de um pombo ou uma rolinha. A lei, no entanto, previa que as famílias que fossem pobres demais para comprar um cordeiro poderiam sacrificar um par de rolas ou dois pombinhos. São Lucas se esforça para informar ao leitor que era exatamente isso que a Sagrada Família fazia, lembrando-nos assim de sua pobreza material (ver Lc 2,24).
O segundo preceito da Lei Mosaica que Maria e José seguiam era a exigência de Êxodo 13,2 de que todos os primogênitos fossem consagrados a Deus de uma maneira especial. Mais especificamente, esse ritual baseava-se no entendimento de que o primogênito pertencia naturalmente a Deus e, portanto, esperava-se que os pais humanos da criança "resgatassem" (do latim redimō, que significa "comprar de volta") seu filho pagando cinco shekels ao sacerdote.
Tudo isso nos ajuda a ver que a Apresentação no Templo envolveu dois aspectos importantes: (1) a purificação de Maria e (2) o resgate do menino Jesus. Até aqui, tudo bem. Mas há dois outros elementos aqui que merecem atenção. Por um lado, a Lei Mosaica em nenhum momento exigia que a purificação ou a redenção ocorressem dentro do Templo. Isso significa que a Sagrada Família estava sendo extremamente devota ao ir ao Templo naquele dia especial.
Além disso, há um detalhe na narrativa da Apresentação que é surpreendente por sua ausência. Embora São Lucas mencione que Maria e José compraram as duas rolinhas, ele nunca se dá ao trabalho de mencionar o pagamento dos cinco shekels para resgatar o menino Jesus. Em outras palavras, ele cita o preceito do resgate dos primogênitos estabelecido em Êxodo 13,2, mas omite uma descrição desse resgate. Por que isso acontece?
Para o falecido Papa Bento XVI, em seu livro Jesus de Nazaré: A Infância de Jesus, a resposta era óbvia. São Lucas deixa um silêncio literário na passagem para enfatizar a ideia de que o menino Jesus pertence ao Seu Pai Celestial:
[Lucas] Pretende evidentemente dizer: este menino não foi resgatado nem voltou à propriedade dos pais; antes, pelo contrário, foi entregue no Templo pessoalmente a Deus, totalmente dado a Ele em propriedade. … A propósito do ato de resgate, prescrito pela Lei, Lucas não diz nada; em lugar disso, evidencia-se o contrário: a entrega do Menino a Deus, a quem deve pertencer totalmente.
Compreender esse detalhe pode nos ajudar a dar vida ao quarto mistério gozoso de uma nova maneira. A Apresentação não é apenas mais um ritual religioso tedioso. Pelo contrário, é um momento profundamente simbólico que aponta para a identidade divina de Jesus e para a perfeita cooperação de Maria e José com Sua missão divina.
Autor: Clement Harrold
Original em inglês: St. Paul Center