O Que A Igreja Primitiva Acreditava: A Autoridade Do Papa (Parte I)

20/05/2025

Em outros artigos do Catholic Answers, mostramos que os Padres da Igreja reconheceram que Jesus fez de Pedro a pedra sobre a qual construiria sua Igreja, que isso deu a Pedro uma primazia especial, que Pedro foi para Roma e que deixou sucessores lá. Neste artigo, mostraremos que eles também entendiam que os sucessores de Pedro compartilhavam de sua autoridade especial ou primazia.

De várias maneiras, os Padres atestam o fato de que a Igreja de Roma era a Igreja central e de maior autoridade. Eles atestam a confiança da Igreja em Roma para aconselhamento, mediação de disputas e orientação sobre questões doutrinárias. Eles observam, como faz Inácio de Antioquia, que Roma "detém a presidência" entre as outras igrejas e que, como explica Irineu, "é um assunto de necessidade que cada Igreja deve concordar com esta Igreja". Eles também são claros quanto ao fato de que é a comunhão com Roma e com o bispo de Roma que faz com que alguém esteja em comunhão com a Igreja Católica. Isso demonstra um reconhecimento de que, como diz Cipriano de Cartago, Roma é "a Igreja principal, donde se originou a unidade sacerdotal".

Mais significativas são as passagens abaixo, nas quais os papas, por meio de suas declarações ou ações, revelam sua compreensão de sua própria autoridade na Igreja, como quando o Papa Clemente I ordenou que a Igreja de Corinto restabelecesse sua liderança, ou quando o Papa Vítor excomungou as Igrejas da Ásia Menor como um grupo, após o que os outros bispos tentaram mudar a opinião de Vítor, mas não desafiaram sua autoridade de ter feito a excomunhão.

Neste tratado, abordaremos os pontos de vista dos papas e de outros Padres da Igreja até o ano 341 d.C. Os pontos de vista dos Pais após esse período serão abordados no tratado A Autoridade do Papa - Parte II.

Papa Clemente I

"Devido às repentinas e repetidas calamidades e infortúnios que nos sobrevieram, devemos reconhecer que demoramos um pouco a voltar nossa atenção para os assuntos em disputa entre vós, amados; e especialmente aquela abominável e profana sedição, estranha e alheia aos eleitos de Deus, que algumas pessoas precipitadas e obstinadas inflamaram a tal loucura que vosso venerável e ilustre nome, digno de ser amado por todos os homens, foi grandemente difamado. . . . Recebei nossos conselhos, e não vos arrependereis. … Se alguns desobedecem ao que nós lhe dissemos da parte de Deus, saibam eles que estão incorrendo em falta e não poucos perigos. … Vós nos dareis alegria e contentamento, se obedecerdes ao que escrevemos por meio do Espírito Santo, se acabardes com a cólera injusta da vossa inveja" (Carta aos Coríntios 1, 58-59, 63 [80 d.C.]).

Inácio de Antioquia

Inácio, … à Igreja que preside na região dos romanos, digna de Deus, digna de honra, digna de ser chamada feliz, digna de louvor, digna de sucesso, digna de pureza, que preside ao amor, que porta a lei de Cristo, que porta o nome do Pai; eu a saúdo em nome de Jesus Cristo, o Filho do Pai (Carta aos Romanos 1,1 [110 d.C.]).

"Nunca [a igreja em Roma] tiveste inveja de ninguém; ensinastes a outros. Quanto a mim, quero que permaneça firme o que ensinastes"(ibid., 3,1).

Dionísio de Corinto

"Desde o início, tendes o costume de beneficiar de várias maneiras a todos os irmãos e enviar auxílios a muitas Igrejas em cada cidade. … mantendes o uso tradicional dos romanos. Vosso bem-aventurado bispo Sotero não somente o conserva, mas estimula, enviando abundantes esmolas aos santos, e consolando com felizes expressões os irmãos que o procuram" 4:23:9 [170 d.C.]).

"Hoje, portanto, celebramos o santo dia do Senhor, no qual lemos vossa carta; nós a guardaremos sempre para lê-la qual advertência, e igualmente a primeira carta que nos escreveu Clemente" (ibid., 4,23:11).

Os Mártires de Lion

"Como foi justamente então que os partidários de Montano, [os Montanistas], … havendo surgido discrepâncias por sua causa, novamente os irmãos da Gália … haviam escrito aos irmãos da Frígia, e não somente a eles, mas também a Eleutério, então [175 d.C.] bispo de Roma, como embaixadores em favor da paz das igrejas" (Eusébio, História da Igreja 5:3:4 [312 d.C.]).

"Os mesmos mártires recomendavam Irineu, que já então era presbítero da igreja de Lion, ao mencionado bispo de Roma, dando sobre ele numerosos testemunhos, como demonstram as palavras seguintes: De novo e sempre rogamos que gozes de saúde em Deus, pai Eleutério. Estimulamos nosso irmão e companheiro Irineu para que te leve esta carta, e te rogamos que o tenhas por recomendado, zelador como é do testamento de Cristo" (ibid., 5:4:1–2).

Irineu

"Mas visto que seria coisa bastante longa elencar, numa obra como esta, as sucessões de todas as igrejas, limitar-nos-emos à maior e mais antiga e conhecida por todos, à igreja fundada e constituída em Roma, pelos dois gloriosíssimos apóstolos, Pedro e Paulo, e, indicando a sua tradição recebida dos apóstolos e a fé anunciada aos homens, que chegou até nós pelas sucessões dos bispos, refutaremos todos os que de alguma forma, quer por enfatuação ou vanglória, quer por cegueira ou por doutrina errada, se reúnem prescindindo de qualquer legitimidade. Com efeito, deve necessariamente estar de acordo com ela, por causa da sua origem mais excelente, toda a igreja, isto é, os fiéis de todos os lugares, porque nela sempre foi conservada, de maneira especial, a tradição que deriva dos apóstolos"(Contra Heresias 3:3:2 [189 d.C.]).

Eusébio de Cesaréia

Por este tempo [190 d.C.] levantou-se uma questão bastante grave, por certo, porque as igrejas de toda a Ásia [Menor], apoiando-se em uma tradição muito antiga, pensavam que era preciso guardar o décimo quarto dia da lua para a festa da Páscoa do Salvador, dia em que os judeus deviam sacrificar o cordeiro e no qual era necessário a todo custo, caindo no dia que fosse na semana, pôr fim aos jejuns, sendo que as igrejas de todo o resto do mundo não tinham por costume realizá-lo deste modo, mas por tradição apostólica, guardavam o costume que prevaleceu até hoje: que não é correto terminar os jejuns [Quaresma] em outro dia que não o da ressurreição de nosso Salvador [Domingo]. Para tratar deste ponto houve sínodos e reuniões de bispos, e todos unânimes, por meio de cartas, formularam para os fiéis de todas as partes um decreto eclesiástico: que nunca se celebre o mistério da ressurreição do Senhor dentre os mortos em outro dia que não no domingo, e que somente nesse dia guardemos o fim dos jejuns pascais. … Ante isto, [Papa] Victor, que presidia a igreja de Roma, tentou separar em massa da união comum todas as comunidades da Ásia e as igrejas limítrofes, alegando que eram heterodoxas, e publicou uma condenação por meio de cartas proclamando que todos os irmãos daquela região, sem exceção, estavam excomungados. Mas esta medida não agradou a todos os bispos, que por sua parte exortavam-no a ter em conta a paz e a união e a caridade para com o próximo"( Eusébio, História da Igreja, 5:23, 1-4; 24:9-10).

Cipriano de Cartago

"O Senhor diz a Pedro: "Eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja e as portas dos infernos não a sobrepujarão. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus e o que ligares na terra será ligado também nos céus, e tudo aquilo que desligares na terra será também desligado nos céus" (Mateus 16,18-19]). … edifica sobre ele [Pedro] a Igreja e lhe confia suas ovelhas para apascentá-las [João 21:17]. Se bem que dá igual poder a todos os apóstolos, constitui, todavia, uma só cátedra e dispõe, por sua autoridade, a origem e o motivo da unidade. Por certo os demais apóstolos eram como Pedro [i.e., apóstolo]; mas o primado é dado a Pedro, e a unidade da Igreja e a da cátedra são assim demonstradas. Todos [apóstolos] são pastores, mas, como se vê, um só é o rebanho apascentado pelo consenso unânime de todos os apóstolos. Julga conservar a fé quem não conserva esta unidade recomendada por Paulo? Confia estar na Igreja, quem abandona a Cátedra de Pedro sobre a qual está fundada a Igreja?" [Unidade da Igreja Católica 4 ([251 d.C.]).

"Cipriano ao irmão [Papa] Cornélio, saudação. … aprouvenos determinar … que se escrevessem cartas da parte de todos os que estão aqui [onde estou] constituídos, tal como, de fato, se estão escrevendo, para que todos os colegas nossos te aprovassem e guardassem firmemente a tua comunhão, isto é, tanto a unidade como a caridade da Igreja católica"(Cartas 48:1,3 [253 d.C.])..

"Cipriano ao irmão Antoniano, saudação. … Escreveste também que eu enviasse um exemplar dessa mesma carta a nosso colega [Papa] Cornélio, a fim de que este, deposta toda e qualquer inquietação, soubesse que estás em comunhão com ele, isto é, com a Igreja Católica" (ibid., 55:1).

"Um falso bispo, ordenado por hereges, ousam navegar até a cátedra de Pedro,[287] até a Igreja principal,[288] donde se originou a unidade sacerdotal,[289] levando cartas escritas por cismáticos e profanos" (ibid., 59:14).

Firmiliano

"[O papa] Estêvão ... se vangloria do lugar de seu episcopado e afirma que ele detém a sucessão de Pedro, sobre o qual os fundamentos da Igreja foram lançados [Mateus 16:18]. (...) Estêvão (...) anuncia que ele detém por sucessão o trono de Pedro" (coletado nas Cartas de Cipriano 74[75]:17 [253 d.C.]).

"[O Papa] Estêvão, pois quem tanto se gloria da Sé de seu episcopado, alegando guardar a sucessão de Pedro, sobre o qual foram estabelecidos os fundamentos da Igreja [Mateus 16,18]. (…) Estêvão (…) anuncia ter a cátedra de Pedro por sucessão (coletado nas Cartas de Cipriano 75:17 [253 d.C.]).

Papa Júlio I

"[O] caso [a respeito de Atanásio] deveria ter sido conduzido, não desta maneira, mas conforme o Cânon da Igreja. Deveríeis ter-nos escrito a todos, para que uma sentença justa pudesse proceder de todos nós. … Acaso não sabeis que o costume é que a palavra nos seja primeiramente dirigida, e então uma decisão justa seja proferida deste lugar? Se, pois, havia alguma suspeita que recaísse sobre o bispo dali, a notificação disso deveria ter sido enviada à Igreja deste lugar; entretanto, negligenciando informar-nos, e procedendo por vossa própria autoridade, conforme vos aprouve, agora desejais obter nossa anuência às vossas decisões, embora jamais o tenhamos condenado. O mesmo não se deu com as constituições de Paulo, nem com as tradições dos Padres; este é outro modo de proceder, uma prática nova. … O que vos escrevo é para o bem comum. Segundo o que recebemos do bem-aventurado apóstolo Pedro, isso é o que vos transmito." Carta em favor de Atanásio [341 d.C.], em Atanásio, Apologia Contra Arianos (Parte I), 2; 35).


NIHIL OBSTAT: Concluí que os materiais apresentados nesta obra estão livres de erros doutrinários ou morais. Bernadeane Carr, STL, Censor Librorum, 10 de agosto de 2004

IMPRIMATUR: De acordo com o CIC 827 de 1983, a permissão para publicar este trabalho é concedida. +Robert H. Brom, Bispo de San Diego, 10 de agosto de 2004


Original em inglês: Catholic Answers