Pedro a Pedra

19/05/2025

Há alguns anos, antes de me interessar de fato pela leitura da Bíblia, eu tentava evitar os missionários que apareciam à minha porta. É claro que eu tinha uma Bíblia, mas não recorria muito a ela; por isso, tinha pouco a dizer sobre a Bíblia quando os missionários me encurralavam. Eu não sabia a quais versículos deveria me referir ao explicar a posição católica.

Para um leigo, suponho que eu estivesse razoavelmente bem informado sobre minha fé - pelo menos nunca duvidei dela ou deixei de praticá-la -, mas minha própria leitura não me equipou para duelos verbais.

Então, um dia, deparei-me com uma informação valiosa que causou um verdadeiro choque no próximo missionário que tocou a campainha, e isso me provou que tornar-se habilidoso em apologética não é, na verdade, tão difícil assim. Aqui está o que aconteceu.

Quando atendi a porta, o missionário solitário se apresentou como Adventista do Sétimo Dia. Ele perguntou se poderia "compartilhar" comigo algumas ideias da Bíblia. Eu lhe disse que sim.

Ele passou de uma página para outra, citando um versículo e outro, tentando demonstrar os erros da Igreja de Roma e a verdade manifesta da posição de sua própria denominação.

Não há muito o que dizer

Alguns dos versículos eu já havia visto antes. Eu não era totalmente analfabeto em relação à Bíblia, mas muitos versículos eram novos para mim. Quer fossem familiares ou não, os versículos não provocaram nenhuma resposta de minha parte, porque eu não sabia o suficiente sobre a Bíblia para responder de forma eficaz.

Finalmente, o missionário chegou a Mateus 16,18: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja"

"Espere aí!", eu disse. "Eu conheço esse versículo. Foi nesse versículo que Jesus designou Simão como o líder terreno da Igreja. Foi aí que ele o nomeou o primeiro papa." Fiz uma pausa e sorri amplamente, sabendo o que o missionário diria em resposta.

Eu sabia que ele normalmente não encontrava nenhuma defesa da posição católica ao bater de porta em porta, mas às vezes um católico respondia, como eu havia feito. Ele tinha uma réplica, e eu sabia qual seria, e estava pronto para ela.

"Entendo o que você está pensando," ele disse, "mas vocês católicos interpretam mal esse versículo porque não conhecem o grego. Esse é o problema da sua Igreja e dos seus estudiosos. Vocês não conhecem a língua em que o Novo Testamento foi escrito. Para entender Mateus 16,18, temos que ir além do português e voltar ao grego."

"É mesmo?" eu disse, incentivando-o. Fingi ignorar a armadilha que estava sendo armada para mim.

"Sim", disse ele. "Em grego, a palavra para rocha é petra, que significa uma pedra grande e maciça. A palavra usada para o novo nome de Simão é diferente; é Petros, que significa uma pequena pedra, um seixo".

Na realidade, o que o missionário me dizia neste ponto era falso. Como admitem os estudiosos do grego - mesmo os não católicos -, as palavras petros e petra eram sinônimos no grego do primeiro século. Elas significavam "pequena pedra" e "rocha grande" em algumas poesias gregas antigas, séculos antes do tempo de Cristo, mas essa distinção havia desaparecido do idioma quando o Evangelho de Mateus foi redigido em grego. A diferença de significado só pode ser encontrada no grego ático, mas o Novo Testamento foi escrito em grego koiné, um dialeto completamente diferente. No grego koiné, tanto petros quanto petra significavam simplesmente "pedra". Se Jesus quisesse chamar Simão de uma pequena pedra, o grego lithos teria sido usado. O argumento do missionário não funcionou e mostrou um conhecimento deficiente do grego. (Para ver a admissão desse fato por um estudioso evangélico protestante do grego, D. A. O Carson, O Comentário de Mateus, Shedd Publicações, 2011.

"Vocês católicos," o missionário continuou, "por não conhecerem o grego, imaginam que Jesus estava equiparando Simão à rocha. Na verdade, era exatamente o oposto. De um lado, a rocha sobre a qual a Igreja seria edificada, Jesus mesmo; do outro, esse simples seixo. Jesus estava, na verdade, dizendo que ele mesmo seria o alicerce, e enfatizava que Simão não tinha qualificação para isso."

"Bem", respondi, começando a usar aquela dica de informação que havia descoberto, "concordo com você que precisamos passar do português para o grego". Ele sorriu mais um pouco e assentiu. "Mas tenho certeza de que você concordará comigo que devemos passar do grego para o aramaico."

"O quê?", perguntou ele.

"O aramaico", eu disse. "Como você sabe, o aramaico era o idioma que Jesus, os apóstolos e todos os judeus da Palestina falavam. Era a língua comum do lugar."

"Pensei que fosse o grego."

"Não," respondi. "Muitos, senão a maioria, sabiam grego, claro, pois o grego era a lingua franca do mundo mediterrâneo. Era a língua da cultura e do comércio; e a maioria dos livros do Novo Testamento foi escrita nela, pois foram escritos não só para os cristãos da Palestina, mas também para os cristãos de lugares como Roma, Alexandria e Antioquia, onde o aramaico não era a língua falada.

"A maior parte do Novo Testamento foi escrita em grego, mas não todo. Muitos sustentam que o Evangelho de Mateus foi escrito em aramaico, sabemos disso pelos registros mantidos por Eusébio de Cesareia, mas foi traduzido para o grego logo no início, talvez pelo próprio Mateus. De qualquer forma, o original aramaico se perdeu (assim como todos os originais dos livros do Novo Testamento), portanto, tudo o que temos hoje é o grego."

O Aramaico no Novo Testamento

Continuei: "Sabemos que Jesus falava aramaico porque algumas de suas palavras foram preservadas para nós nos Evangelhos. Veja Mateus 27, 46, onde ele diz da cruz: "Eli, Eli, lammá sabactáni?". Isso não é grego; é aramaico, e significa: 'Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?'

"Além disso", eu disse, "nas epístolas de Paulo — quatro vezes em Gálatas e quatro vezes em 1 Coríntios — temos a forma aramaica do novo nome de Simão preservada para nós. Em nossas Bíblias, aparece como Cefas. Isso não é grego. É uma transliteração da palavra aramaica Kepha (traduzida como Kephas em sua forma helenística).

E o que significa Kepha? Significa pedra, o mesmo que petra. Não significa uma pequena pedra ou um seixo. O que Jesus disse a Simão em Mateus 16,18 foi isto: 'Tu és Kepha, e sobre esta Kepha edificarei a minha Igreja.'

"Quando você entende o que o aramaico diz, vê que Jesus estava equiparando Simão e a pedra; ele não os estava contrastando. Vemos isso claramente em algumas traduções modernas, como no inglês, que traduzem o versículo da seguinte forma: 'Tu és Pedra (Rock), e sobre essa pedra (rock) edificarei a minha Igreja'. Em francês, uma única palavra, pierre, sempre foi usada tanto para o novo nome de Simão quanto para a pedra."

Por alguns momentos, o missionário pareceu perplexo. Então lhe ocorreu a ideia.

"Espere um segundo", disse ele. "Se kepha significa o mesmo que petra, por que não lemos no grego: 'Tu és Petra, e sobre esta petra edificarei minha Igreja'? Por que, para o novo nome de Simão, Mateus usa uma palavra grega, Petros, que significa algo bem diferente de petra?"

"Porque ele não tinha escolha", eu disse. "O grego e o aramaico têm estruturas gramaticais diferentes. Em aramaico, você pode usar kepha em ambos os lugares em Mateus 16,18. No grego, você encontra um problema decorrente do fato de que os substantivos têm diferentes terminações de gênero.

"Você tem substantivos masculinos, femininos e neutros. A palavra grega petra é feminina. Você pode usá-la na segunda metade de Mateus 16,18 sem nenhum problema. Mas não pode usá-la como o novo nome de Simão, porque não se pode dar a um homem um nome feminino - pelo menos naquela época não se podia. É preciso mudar a terminação do substantivo para torná-lo masculino. Quando se faz isso, obtém-se Petros,que era uma palavra já existente que significava pedra.

"Admito que essa é uma tradução imperfeita do aramaico; você perde parte do jogo de palavras. Em português, onde temos 'Pedro' e 'rocha', perde-se tudo isso. Mas é o melhor que se pode fazer em grego.

"Além da evidência gramatical, a estrutura da narrativa não permite minimizar o papel de Pedro na Igreja. Observe a forma como Mateus 16,15-19 está estruturado. Depois que Pedro faz uma confissão sobre a identidade de Jesus, o Senhor faz o mesmo em troca de Pedro. Jesus não diz: ""Bem-aventurado és, Simão Bar-Jona, porque não foi a carne e o sangue que te revelaram, mas meu Pai que está nos céus. E eu lhe digo que você é uma pequena pedra insignificante e sobre essa pedra edificarei a minha Igreja… Eu te darei as chaves do reino dos céus". Jesus está dando a Pedro uma bênção tríplice, incluindo o dom das chaves do reino, e não minando sua autoridade.

"Dizer que Jesus está diminuindo Pedro vai contra o contexto. Jesus está instalando Pedro como uma espécie de administrador-chefe ou primeiro-ministro sob o Rei dos Reis ao lhe dar as chaves do reino. Como se vê em Isaías 22,22, reis no Antigo Testamento nomeavam um administrador-chefe para servir sob eles com grande autoridade para governar os habitantes do reino. Jesus cita quase literalmente essa passagem de Isaías, e assim fica claro o que ele tem em mente. Ele está elevando Pedro como uma figura paterna para a casa da fé (Is 22,21), para liderá-la e guiar o rebanho (Jo 21,15-17). Essa autoridade do primeiro-ministro sob o rei era transmitida de um homem para outro ao longo das eras por meio da entrega das chaves, que eram usadas no ombro como sinal de autoridade. Da mesma forma, a autoridade de Pedro tem sido transmitida há 2.000 anos por meio do papado."

"Parei e sorri. O missionário sorriu de volta, desconfortável, mas não disse nada. Então ele olhou para o relógio, percebeu que o tempo havia passado e se desculpou. Nunca mais o vi.

Então, o que aconteceu nesse encontro? Duas coisas: uma para mim e outra para ele.

Comecei a desenvolver um senso de confiança. Comecei a perceber que poderia defender minha fé se fizesse um pouco de lição de casa. Quanto mais estudo, melhor a defesa.

Percebi que qualquer católico alfabetizado - inclusive você - poderia fazer o mesmo. Você não precisa suspeitar que sua fé possa ser falsa quando não consegue responder a uma questão específica.

Depois de desenvolver um senso de confiança, você pode dizer a si mesmo: "Talvez eu não saiba a resposta para isso, mas sei que poderia encontrar a resposta se consultasse os livros. A resposta está lá, se eu dedicar tempo para procurá-la".

E quanto ao missionário? Será que ele levou algo consigo? Acho que sim. Acho que ele saiu com uma dúvida sobre sua compreensão (ou falta de compreensão) dos católicos e da fé católica. Espero que essa dúvida tenha amadurecido e se transformado em um sentido de que talvez, só talvez, os católicos tenham algo a dizer em defesa de sua religião e que ele devesse examinar com mais atenção a Fé que antes combatia tão convictamente.

Original em inglês: Catholic Answers