O Que A Bíblia Diz Sobre Israel?

27/10/2025

Na narrativa bíblica, Israel é uma pessoa antes de ser um povo. O grande patriarca Jacó, filho de Isaac e neto de Abraão, é renomeado Israel ("aquele que luta com Deus") após sua luta noturna com o Senhor:

Levantou-se, ainda de noite, tomou suas duas mulheres, as duas escravas e os onze filhos e passou o vau do Jaboc. Jacó ajudou todos a passar a torrente e fez atravessar tudo o que tinha. Quando depois ficou sozinho, um homem se pôs a lutar com ele até o raiar da aurora. Vendo que não podia vencê-lo, atingiu a coxa de Jacó, de modo que o tendão se deslocou enquanto lutava com ele. O homem disse a Jacó: "Larga-me, pois já surge a aurora". Mas Jacó respondeu: "Não te largarei, se não me abençoares". E o homem lhe perguntou: "Qual é o teu nome?" – "Jacó", respondeu. E ele lhe disse: "Doravante não te chamarás Jacó, mas Israel, porque lutaste com Deus e com homens, e venceste"." (Gen 32,22-28)

Jacó (Israel) teve nada menos que doze filhos: Ruben, Simeão, Levi, Judá, Dã, Naftali, Gade, Aser, Issacar, Zebulom, José e Benjamim. Esses doze filhos foram a base para o que acabou se tornando as doze tribos da nação de Israel.

Quando José foi traído por seus irmãos e vendido como escravo no Egito, ele mais tarde se tornou uma tábua de salvação para eles e para muitos outros quando a terra foi atingida pela fome. A convite de José, seu pai e seus irmãos se estabeleceram no Egito junto com suas esposas e filhos. Com o passar das gerações, seu número cresceu constantemente: "Os israelitas foram fecundos, proliferaram, multiplicaram-se e tornaram-se cada vez mais poderosos, de modo que o país ficou repleto deles" (Êxodo 1,7). Os israelitas estavam se tornando um grande povo. Como resultado, os egípcios invejosos começaram a persegui-los de várias maneiras.

Depois de ver o sofrimento de Seu povo aumentar ao longo de um período de 430 anos (ver Êxodo 12,40), Deus finalmente chamou Moisés para liderá-los no êxodo do Egito para a terra de Canaã. Era a terra de Canaã que Deus havia prometido a Abraão e seus descendentes em Gênesis 17 (cf. Gênesis 12, 15 e 22). As instruções de Deus a Moisés destacam Seu afeto especial por Seu povo escolhido: "Tu lhe dirás: 'Assim fala o Senhor: Israel é meu filho, meu primogênito.'" (Êxodo 4,22).

Embora a fuga inicial do Egito tenha sido bem-sucedida, a desobediência subsequente dos israelitas levou-os a passar cerca de quarenta anos vagando no deserto. Foi durante esse período de purificação espiritual que os israelitas receberam a Lei, por meio da qual se esperava que manifestassem a santidade de Deus a todas as nações (ver Levítico 11,44; Deuteronômio 4,5-8).

Quando os israelitas finalmente chegaram à terra prometida, receberam a ordem de purificá-la de seus habitantes perversos e recuperá-la para o Senhor. Vários séculos se passaram, durante os quais Israel viveu o período dos juízes. Mas o povo não estava satisfeito com seus juízes e logo começou a pedir um rei. O primeiro rei israelita foi um homem impressionante, mas imperfeito, chamado Saul. Seu sucessor foi o jovem e carismático Davi, que tomou Jerusalém dos jebuseus e conseguiu unir as doze tribos de Israel.

Pela primeira vez em sua história, Israel era um reino unido. No entanto, essa unificação durou muito pouco. Embora o reino unido tenha se mantido sob o comando do filho do rei Davi, Salomão, ele logo chegou a um fim amargo sob o comando do filho de Salomão, Roboão. Em resposta à má governança de Roboão, as dez tribos do norte se separaram sob a liderança de um homem chamado Jeroboão por volta do ano 922 a.C.

Tragicamente, o povo de Deus estava agora dividido em duas entidades distintas: o reino do norte, Israel, e o reino do sul, Judá. O reino do sul era composto pelas tribos de Judá e Benjamim, enquanto o reino do norte era composto pelas dez tribos restantes. Entre estas, a tribo de Simeão era incomum por pertencer politicamente ao reino do norte, mas geograficamente parece ter sido um enclave localizado dentro da tribo do sul, Judá. Parece que a razão pela qual Simeão foi reconhecido como uma das dez tribos do norte se deveu ao fato de a maior parte de seus habitantes ter emigrado para o norte, com o restante sendo eventualmente assimilado pela tribo de Judá.

A numeração das tribos também fica um pouco confusa. Quando Jacó estava abençoando seus doze filhos no final de sua vida, ele deu uma espécie de "porção dupla" a José por meio de seus filhos Efraim e Manassés (ver Gn 48). Portanto, em vez de haver uma única tribo de José, havia na verdade duas tribos distintas: Efraim e Manassés. Isso eleva o número total de tribos para treze. Mas, como a Bíblia prefere o número doze como número simbólico, ela tende a resolver essa dificuldade numérica de duas maneiras. Às vezes, Efraim e Manassés ainda são contados como pertencentes à única tribo de José (por exemplo, Apocalipse 7,8). Em outras ocasiões, a solução vem do fato de que a tribo sacerdotal de Levi não herdou nenhuma terra e, portanto, "as doze tribos" referem-se simplesmente às doze tribos proprietárias de terras.

Após a divisão entre os reinos do sul e do norte, a história de "Israel" (aqui usamos este termo para abranger tanto o reino do sul quanto o do norte) torna-se uma série de eventos infelizes. Devido às suas repetidas falhas morais, o povo de Deus sofreu séculos de conquistas, exílio e domínio estrangeiro. Em 722 a.C., o reino do norte foi conquistado pelo Império Neoassírio. Cerca de cem anos depois, os assírios foram, por sua vez, invadidos pelo Império Babilônico, que vinha aumentando gradualmente seu poder na região, culminando na conquista de Nínive, a capital assíria, em 612 a.C. Agora, o reino do norte de Israel era governado pela Babilônia, e não demoraria muito para que o reino do sul de Judá tivesse um destino semelhante.

O exílio babilônico do reino do sul de Judá se desenrolou em três etapas. A última delas foi de longe a mais cataclísmica e terminou com a destruição de Jerusalém e do templo de Salomão em 587/586 a.C. Esse foi o capítulo mais sombrio da história de Israel, quando as promessas de Deus ao Seu povo pareciam ter se tornado em nada. No entanto, foi também o período em que Deus enviou muitos profetas para lembrar a Israel de Sua fidelidade e da restauração que estava por vir: "Vou fazer de ti a luz das nações, para propagar minha salvação até os confins do mundo" (Isaías 49,6).

Não demorou muito para que surgisse um novo império. Em 539 a.C., o Império Persa, liderado pelo Rei Ciro, o Grande, completou a conquista da Babilônia. No mesmo ano, Ciro emitiu um decreto incentivando o povo judeu a retornar a Jerusalém e reconstruir o templo (ver 2 Crônicas 36,22-23; Esdras 1,1-4). Este segundo templo foi construído por volta de 516 a.C. e mais tarde seria reformado e ampliado pelo Rei Herodes, o Grande, por volta de 18 a.C. Durante os dois séculos seguintes, tanto o sul quanto o norte de Israel funcionaram como províncias dentro do Império Persa. Em 330 a.C., porém, o Império Persa foi conquistado por Alexandre, o Grande.

Após a morte prematura de Alexandre em 323 a.C., a região se dividiu em vários reinos diferentes. O maior e mais poderoso deles foi o Império Selêucida. Em 312 a.C., essa nova superpotência havia incorporado o sul e o norte de Israel sob seu domínio. Algum tempo depois, em 168 a.C., um rei selêucida chamado Antíoco IV Epifânio iniciou uma campanha de perseguição contínua à religião judaica. No ano seguinte, houve uma rebelião armada na Judeia, liderada por Judas Macabeu. Apesar de reveses significativos, a rebelião foi bem-sucedida e, em 160 a.C., o domínio selêucida sobre a Judeia estava severamente comprometido.

O ano 141 a.C. marcou o início do que é conhecido como a dinastia Hasmoneu. Pela primeira vez em mais de 400 anos, a Judeia funcionou como um estado autônomo e gradualmente começou a recuperar os territórios vizinhos (incluindo o norte de Israel) do decadente Império Selêucida. Essa situação perdurou até 63 a.C., quando o Reino Hasmoneu se tornou um estado vassalo do Império Romano após a conquista da região pelo general romano Pompeu.

Isso nos leva ao fim da era do Antigo Testamento e ao início da do Novo. Cerca de 1.700 anos após a época de Jacó, Jesus nasceu em Belém, na Judeia, uma província do Império Romano, e foi criado na Galileia, outra província romana. Como o tão esperado Messias, Jesus completa as antigas alianças e inaugura a nova e eterna aliança predita pelos profetas (ver Jr 31,31).

Os teólogos debatem qual o papel que o povo judeu continua a desempenhar no plano de salvação de Deus após a vinda de Cristo, e o próprio Novo Testamento permite diferentes interpretações sobre este ponto. Mas o que é claro é que Jesus estabeleceu a Igreja, que é o novo e maior Israel, e o cumprimento vivo de todas as promessas de Deus:

"Mas, assim como Israel segundo a carne, que peregrinava no deserto, é já chamado Igreja de Deus (cfr. 2 Esdr. 13,1; Num. 20,4; Deut. 23,1 ss.), assim o novo Israel, que ainda caminha no tempo presente e se dirige para a futura e perene cidade (cfr. Hebr. 13-14), se chama também Igreja de Cristo (cfr. Mt. 16,18), pois que Ele a adquiriu com o Seu próprio sangue (cfr. Act. 20,28), encheu-a com o Seu espírito e dotou-a dos meios convenientes para a unidade visível e social. Aos que se voltam com fé para Cristo, autor de salvação e princípio de unidade e de paz, Deus chamou-os e constituiu-os em Igreja, a fim de que ela seja para todos e cada um sacramento visível desta unidade salutar (15). Destinada a estender-se a todas as regiões, ela entra na história dos homens, ao mesmo tempo que transcende os tempos e as fronteiras dos povos. Caminhando por meio de tentações e tribulações, a Igreja é confortada pela força da graça de Deus que lhe foi prometida pelo Senhor para que não se afaste da perfeita fidelidade por causa da fraqueza da carne, mas permaneça digna esposa do seu Senhor, e, sob a acção do Espírito Santo, não cesse de se renovar até, pela cruz, chegar à luz que não conhece ocaso" (Lumen Gentium II.9).

Autor: Clement Harrold

Original em inglês: St. Paul Center