O Que Foi O Exílio Babilônico E Por Que Devo Me Importar?
O exílio na Babilônia é um dos eventos mais importantes da história da salvação. De fato, há grandes partes das Escrituras - a maioria dos profetas, por exemplo - que não fazem sentido até que aprendamos a entender o que foi o exílio e por que ele é importante.
Então, o que é exatamente o exílio? Também conhecido como Cativeiro Babilônico, o exílio babilônico refere-se à deportação do povo judeu de sua terra natal, Judá, para a Babilônia, a capital do Império Neobabilônico (também conhecido como Império Caldeu). Embora não exista mais, a Babilônia estava localizada no rio Eufrates, no sul da Mesopotâmia, no atual Iraque.
Esse não foi o primeiro exílio a afligir o povo de Deus. Em 722 a.C., o poderoso Império Assírio havia concluído a conquista do reino do norte de Israel. Esse exílio assírio deixou as dez tribos do norte em cativeiro, mas o reino do sul - Judá - manteria sua independência por mais dois séculos.
No entanto, no decorrer desses dois séculos, o reino de Judá começou a imitar a mesma idolatria e corrupção religiosa que havia derrubado o reino do norte. Embora Deus tenha pacientemente enviado os profetas para advertir Seu povo a mudar seus caminhos, essas advertências foram repetidamente ignoradas. Finalmente, veio o julgamento. Dessa vez, no entanto, ele não veio das mãos dos assírios, mas dos babilônios, que vinham aumentando gradualmente seu poder na região e que já haviam conquistado Nínive, a capital assíria, em 612 a.C.
O exílio babilônico se desenvolveu em três estágios distintos. O primeiro estágio ocorreu durante o reinado de Jeoaquim, rei de Judá, cuja aliança imprudente com o Egito (inimigo jurado da Babilônia) levou o rei babilônico Nabucodonosor II a sitiar Jerusalém, a capital do reino de Judá, por volta do ano 605 a.C. Em resposta a essa situação desesperadora, Jeoaquim concordou em pagar a Nabucodonosor grandes somas de dinheiro e enviar membros da nobreza judaica para a Babilônia como reféns. Esse foi o primeiro estágio do exílio, e entre os que foram levados para o cativeiro estavam o profeta Daniel e seus companheiros.
Alguns anos depois, Jeoaquim optou por ignorar as advertências do profeta Jeremias, liderando uma rebelião contra os opressores babilônicos. Mais uma vez, Nabucodonosor marchou sobre Jerusalém com seus exércitos, mas dessa vez Jeoaquim morreu antes de chegarem lá. Portanto, foi durante o breve reinado de Jeconias, filho de Jeoaquim, que ocorreu a segunda etapa do exílio, em 597 a.C. Tendo reinado por apenas três meses, Jeconias foi forçado ao cativeiro junto com milhares de membros das classes alta e média de Judá. Essa foi a maior onda do exílio, e o profeta Ezequiel estava entre os que foram levados.
O terceiro e mais cataclísmico estágio do exílio ocorreu dez anos depois, sob o reinado de Sedecias, tio de Jeconias e irmão de Jeoaquim, e o último rei de Judá. Depois de governar por onze anos, Sedecias seguiu os passos de seu irmão, tentando usurpar o controle da Babilônia sobre a região. Essa decisão seria sua ruína. Em 587 a.C., os exércitos babilônicos chegaram a Jerusalém mais uma vez, mas dessa vez a paciência de Nabucodonosor havia se esgotado. Ele ordenou que suas forças destruíssem completamente a cidade, e Sedecias foi forçado a testemunhar a execução de seus filhos antes de ter seus olhos arrancados e ser levado para a Babilônia junto com toda a nobreza judaica que ainda restava (consulte 2Rs 25).
Esse estágio final do exílio babilônico provou ser, de longe, o mais decisivo e o mais traumático, envolvendo a obliteração não apenas da cidade de Jerusalém, mas também do magnífico Templo Salomônico, a morada de Deus na Terra. A esse respeito, é difícil para o cristão moderno compreender o sentimento de devastação espiritual e emocional que o judeu do Antigo Testamento teria sentido ao testemunhar a destruição desse edifício que servia como centro da vida litúrgica, política e econômica.
Se acordássemos amanhã de manhã e descobríssemos que a Basílica de São Pedro, em Roma, o Santuário Nacional da Imaculada Conceição, em Washington D.C., e a Bolsa de Valores de Nova York foram todos explodidos durante a noite, isso poderia nos dar uma pequena amostra do sentimento de tristeza nacional vivido pelo povo judeu no ano 587. Sua terra prometida havia sido invadida; seus lugares sagrados, profanados; seu povo, dispersado, e milhares deles marcharam nus e acorrentados na jornada de 966 Km de Jerusalém à Babilônia.
Em um sentido aterrorizante, a demolição do Templo de Jerusalém simbolizava dramaticamente a morte da nação judaica que havia começado sob o comando do rei Davi quinhentos anos antes. De forma ainda mais aguda, sua destruição parecia indicar a derrota do Deus de Israel, pois Seu lugar santo estava em ruínas pisoteadas aos pés dos exércitos pagãos.
Esse foi o ponto mais baixo da história de Israel, quando toda a esperança parecia perdida. No entanto, a narrativa mais ampla do Antigo Testamento revela que, em meio a tudo isso, Deus tinha um plano, e o exílio se tornou um tempo de purificação e penitência por meio do qual uma nova vida poderia surgir para Seu povo. O Catecismo da Igreja Católica coloca isso da seguinte forma:
O esquecimento da Lei e a infidelidade à Aliança levam à morte: é o Exílio, aparentemente o fracasso das promessas, mas, na realidade, fidelidade misteriosa do Deus salvador e o princípio duma restauração prometida, mas segundo o Espírito. Era preciso que o povo de Deus sofresse esta purificação. O exílio traz já a sombra da cruz no desígnio de Deus; e o «resto» dos pobres que regressa do Exílio é uma das figuras mais transparentes da Igreja. (§710)
Na vida da Igreja hoje, continuamos a refletir sobre o período do exílio como um símbolo espiritual para a peregrinação terrena na qual nos encontramos afastados de nosso lar celestial.
O exílio na Babilônia é importante porque é parte integrante da história de Israel e, portanto, da história da Igreja. Mas não é o fim da história. Mesmo em seus momentos mais sombrios, Israel continuará a ser encorajado pelos profetas que dão voz à redenção e à restauração que Yahweh pretende trazer.
Autor: Clement Harrold
Original em inglês: St. Paul Center