De Abortista A Líder Pró-Vida: O Que Mudou O Coração Desta Médica?
Kathi Aultman tinha seis semanas de pós-parto quando voltou a trabalhar em uma clínica de aborto em Gainesville, Flórida. Ela fazia abortos nos fins de semana para ganhar dinheiro durante sua residência.
"Eu acreditava fortemente que o aborto era um direito da mulher", disse Aultman à CNA em uma entrevista em 17 de setembro. "Ou seja, eu tinha comprado o pacote inteiro do aborto."
"Eu até fiz abortos quando estava grávida – muito grávida. Mas não via nenhuma contradição. Meu bebê era desejado, o deles não. Se eles queriam abortar o bebê, era direito deles".
Mas Aultman lembra que algo estava diferente naquele primeiro aborto que ela realizou depois de dar à luz e cuidar de seu próprio bebê. Pela primeira vez em sua vida, Aultman fez a conexão de que o feto que ela estava abortando era, de fato, uma criança. Não muito diferente de seu próprio filho.
Aultman completou o aborto e os demais agendados para ela naquele dia. Mas ela disse que sua experiência naquele primeiro dia após a licença maternidade marcou o início de sua jornada para se tornar uma defensora pró-vida.
Hoje, Aultman trata sobre questões pró-vida perante órgãos estaduais, do Congresso e tribunais estaduais, e auxiliou vários procuradores estaduais e o Departamento de Justiça na consideração de casos relacionados ao aborto. Ela foi palestrante na Marcha pela Vida de 2019 em Washington.
Mais recentemente, Aultman foi uma das 240 mulheres pró-vida a assinar um 'Amicus Brief' (1) em apoio à Dobbs v. Jackson Women's Health Organization, um caso do Mississippi que tem o potencial de anular a proteção federal ao aborto nos Estados Unidos.
'Eu não os via como pessoas'
Aultman tinha uma mente para a ciência desde muito jovem. Ela se lembra de ajudar com entusiasmo seu pai, um pregador metodista, a limpar o peixe depois das pescarias. Aultman gostava de examinar os órgãos internos dos peixes e inspecionar seus globos oculares. Quando sua mãe trazia corações de animais para casa para as refeições da família, Aultman colocava água no órgão para examinar suas válvulas em ação.
A tia de Aultman era bioengenheira e se tornou um modelo para sua sobrinha curiosa. Quando Aultman estava na quarta série, ela visitou o laboratório de sua tia e se lembra de ter ficado tão impressionada que decidiu, na hora, se tornar uma cientista.
Depois de tirar o seu diploma de graduação na Drew University em 1972, Aultman voltou sua atenção para um Ph.D. em pesquisa básica. Mas ela escolheu estudar medicina, porque a área parecia oferecer perspectivas de emprego mais seguras do que a pesquisa.
Aultman foi aceita na faculdade de medicina em Nova Jersey. Antes do início das aulas, Aultman descobriu que estava grávida.
"E é a mesma velha história", disse Aultman. "Eu pensei que … se eu ficasse com o bebê, não seria capaz de ser médica. Eu tinha medo de acabarmos nos divorciando, porque íamos nos casar por obrigação. Eu tinha medo do que minha família e amigos iriam pensar.
"Então eu decidi fazer um aborto."
Após seu primeiro ano na faculdade de medicina em Nova Jersey, Aultman se transferiu para a Universidade da Flórida para ficar mais perto de seu então marido. Depois de concluir a faculdade de medicina em 1977, Aultman descobriu que tinha um interesse natural por obstetrícia e ginecologia. Ela gostou da experiência que teve com o parto de bebês, realizando cirurgias e checagem de saúde da mulher. Mas ela disse que sua experiência pessoal com o aborto tornou o campo ainda mais atraente para ela.
Todos os programas padrões de residência em Obstetrícia/Ginecologia incluem treinamento sobre aborto, embora os residentes possam apresentar objeção de consciência. Aultman lembra que alguns de seus colegas residentes apresentaram objeção de consciência e não aprenderam a fazer abortos. Mas Aultman achava que o aborto era um direito da mulher, especialmente depois de sua própria experiência. Ela felizmente aprendeu a realizar abortos no primeiro trimestre de gestação, tendo ainda buscado treinamento especial fora de seu programa para aprender a realizar abortos de desmembramento no segundo trimestre de gestação.
Depois de obter sua licença médica, Aultman começou a trabalhar em uma clínica de aborto para pagar as contas durante sua residência em Obstetrícia/Ginecologia.
Aultman disse que os abortos se inseriram no fascínio pela biologia que ela experimentou quando criança. Ela disse que adorava examinar as pequenas mãos e pés dos bebês abortados, com seus dedos das mãos e pés perfeitamente formados.
"Fiquei fascinada", disse ela. "Eu achava que eram tão interessantes. Eu adorava enviar partes fetais para a patologia para que eu pudesse olhar as lâminas e ver como era o tecido embrionário. Eu não os via como pessoas."
Na mesma época, Aultman ajudou a abrir o primeiro centro de tratamento de estupro em Jacksonville, Flórida. O centro parecia uma ramificação natural de seu interesse em cuidar de mulheres. Ela realizou exames de estupro no centro, mas nunca fez aborto intencionalmente em nenhuma das mulheres que atendeu lá.
Na verdade, ela nunca fez aborto intencional em nenhuma vítima de estupro - no centro ou na clínica de aborto. Aultman lembra que as pacientes da clínica de aborto eram obrigadas a dar um motivo para o aborto. Se elas não tivessem um motivo claro, Aultman disse que normalmente listaria como "saúde psicológica" na documentação.
"Se você precisa ter esse bebê e não tem como cuidar dele, blá, blá, blá", disse Aultman. "Eu nunca fiz um aborto especificamente porque o bebê estava deformado ou pela saúde da mãe. Eles eram todos eletivos."
'Eu não quero fazer isso'
Aultman disse que três encontros que ela teve com pacientes de aborto em seu último dia de realização do procedimento permanecem gravados em sua memória.
A primeira paciente era jovem e Aultman a reconheceu porque já havia feito três abortos para ela.
"Fui até a administração e disse: 'Não quero fazer esse aborto. Eu já fiz pessoalmente três nela'", disse Aultman. "E eles disseram: 'Bem, isso não depende de você. É um direito dela e você não pode discriminá-la.' Olhei para eles e disse: 'Tá ok, tudo bem para você, mas não é você quem está matando'."
Aultman realizou o aborto naquele dia. Mas foi a primeira vez que ela associou o aborto à palavra "matar", e ela percebeu isso.
Uma segunda paciente fez um aborto e trouxe uma amiga para apoiá-la. Após o aborto, a amiga perguntou à paciente se ela gostaria de ver o bebê abortado.
"E ela disse: 'Não, só quero matá-lo'", lembrou Aultman. "E isso me impressionou, sabe, como ela pode ser tão hostil e irritadiça com esse bebê? Não tinha feito nada de errado. Isso realmente me afetou."
Uma terceira paciente entrou para um aborto. Ela já tinha quatro filhos, mas ela e o marido decidiram que não podiam sustentar outro filho. Aultman lembra que a paciente chorou durante todo o aborto. Essa foi a gota d'água para Aultman e o último aborto que ela faria.
"Depois disso, não pude mais fazer abortos presencialmente", disse Aultman. "Eu não podia abortar bebês só porque eram indesejados."
Uma mudança dramática no pensamento
Aultman não fazia mais abortos, mas por vários anos ela continuou a se referir ao aborto em seu próprio consultório, que abriu em 1981. Nesse mesmo ano, ela aceitou o cargo de diretora médica da Planned Parenthood do nordeste da Flórida. A clínica não realizava abortos na época. Aultman deixou o cargo em 1983, quando a clínica expandiu seus serviços para incluir o aborto.
Mas Aultman ainda acreditava que o aborto era um direito da mulher. Era fácil para ela se perguntar onde estaria se não fosse por seu próprio aborto tantos anos atrás.
"Eu acreditava que a pior coisa que poderia acontecer a uma mulher era uma gravidez indesejada", disse ela.
Depois Aultman veria jovens com gravidez não planejada chegando ao seu consultório e prosperando após dar à luz seus filhos. Ela lembra que uma família em sua igreja cristã teve um bebê com Síndrome de Down, e Aultman ficava admirada enquanto o bebê crescia e se tornava o que Aultman descreveu como uma doce menina. Mas muitas das mulheres que ela via em sua prática apresentavam complicações psicológicas ou físicas após o aborto.
"Lentamente, isso começou a me fazer pensar se tudo em que eu acreditava [sobre o aborto] era realmente verdade", disse Aultman.
Em termos de seu próprio aborto, Aultman começou a perceber que os medos que ela tinha na época eram infundados. Ela conheceu muitas mulheres que tiveram bebês e agora eram médicas bem-sucedidas. Ela e o primeiro marido acabaram se divorciando, apesar do aborto. Aultman também percebeu que a família e os amigos que realmente importavam teriam sido compreensivos com sua gravidez não planejada.
"Portanto, nenhuma das razões que inventei para fazer o aborto acabou sendo válida", disse Aultman.
Aultman revirou essas questões em sua mente. Um dia, um amigo de sua igreja enviou a ela um artigo que comparava o aborto com o Holocausto. Foi um tema particularmente sensível para Aultman porque seu pai tinha estado com a unidade que libertou o primeiro campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Ela cresceu com as histórias e fotografias daquele momento histórico e angustiante.
"Além disso, quando me tornei médica, não conseguia entender como os médicos alemães podiam fazer o que faziam", disse Aultman. "Então, com esse histórico, quando li este artigo, ele realmente me atingiu. Ou seja, isso... acabou removendo as vendas. De repente, pensei: 'Bem, não é de admirar que eles pudessem fazer o que fizeram. Veja o que eu fiz porque não via [os nascituros] como seres humanos."
De repente, Aultman se viu como uma assassina em massa. Isso aconteceu quando o infame assassino em série Ted Bundy estava no noticiário, e Aultman se lembra de pensar que ela provavelmente havia matado muito mais pessoas do que Bundy.
"Foi nesse momento que entendi que o aborto era errado e me tornei pró-vida."
Cura e defesa
Aultman tornou-se pró-vida por volta do ano de 1995, e disse que demorou mais um ano para realmente se curar e se perdoar por seu envolvimento anterior com o aborto.
Durante aquele ano, ela visitou o Centro de Cura Cristã em Jacksonville e disse que ali teve uma experiência de perdão. Enquanto uma mulher rezava por ela, Aultman se viu aos pés de Jesus. Ela teve um diálogo com Jesus, no qual Ele perguntou por que ela não conseguia se perdoar quando Ele a havia perdoado. Aultman então viu o bebê que ela havia abortado. Era um garotinho e disse a ela que a perdoava.
Logo depois, Aultman tornou público sua posição pró-vida, falando contra o aborto e, em particular, contra o aborto de parto parcial.
Mesmo com sua experiência de perdão de Deus e seu bebê abortado, Aultman ainda lutou para contar a seu atual marido, Ron Combs, sobre seu passado. Os dois se conheceram em 2000, e Combs lembra que Aultman esperou para compartilhar sua história com ele.
"Mas eu entendi a jornada e como aconteceu, porque sou dessa mesma geração", disse ele. "Lembro-me de como o pró-aborto surgiu fortemente nos anos 60, 70 e início dos anos 80 ... Eles estavam pressionando muito. Posso entender por que todas as mulheres pensavam que esse era o caminho a seguir."
Combs compartilha as crenças pró-vida de sua esposa e, apesar do seu trabalho pró-vida às vezes exija viagens e longas horas, Combs diz que apóia totalmente sua esposa e o trabalho que ela está fazendo.
"Estou muito orgulhoso e feliz por ser casado com ela", disse ele. "Ela está comprometida e acredita nisso. .. E eu a apoio até onde ela puder física e mentalmente, porque é claro que há muita resistência quando você vai lá e conta os fatos às pessoas. Sabe como é, as pessoas não gostam de fatos o tempo todo.
Aultman disse que seu envolvimento em batalhas legais relacionadas ao aborto sempre foi um desafio.
"Eu apenas confiei que Deus cuidaria de mim."
Aultman se aposentou de sua prática e de sua defesa pró-vida em 2014, por motivos médicos. Após um ano de recuperação, Aultman começou a rezar a Deus por orientação para sua aposentadoria. Ela sempre imaginou passar sua aposentadoria no campo missionário, trabalhando na África ou em algum lugar semelhante, mas seus problemas de saúde não permitiam isso. Ela pediu a Deus que a deixasse fazer algo significativo.
Na semana seguinte, ela recebeu uma ligação se ela poderia ir a Washington e depor perante o Congresso sobre um Projeto de Lei "Batimento Cardíaco". Ela concordou alegremente. Desde então, Aultman deu testemunhos, escreveu depoimentos e declarações em casos de aborto em todo o país, mais recentemente em Nova York e Louisiana.
Quando Aultman soube que a Suprema Corte dos EUA examinaria Dobbs v. Jackson Women's Health Organization, ela ficou imediatamente intrigada. Ela foi uma das 240 mulheres pró-vida a assinar um Amicus Brief no processo, desafiando a suposição de que as mulheres ficam social e economicamente melhores com acesso ao aborto legal.
"Me senti como uma daquelas mulheres que acreditavam que as mulheres precisavam abortar para ter sucesso", disse Aultman. "Isso era uma mentira. Não era verdade. Eu ainda podia ser uma profissional, ainda podia fazer o que fiz, como muitas outras mulheres com quem treinei. Então, senti que era importante assinar esse Amicus Brief."
Um poderoso testemunho pró-vida
Em 18 de janeiro de 2019, uma multidão de defensores da vida se reuniu diante de um palco da Marcha Nacional pela Vida em Washington.
Homens, mulheres e crianças vestiam casacos e cachecóis para se protegerem do frio do inverno. Eles seguravam cartazes com mensagens como "Escolha a vida" e "Não Financie a Planned Parenthood" e observavam Aultman subir ao pódio no palco.
"Meu nome é Dra. Kathi Aultman", ela começou. "Eu sou obstetra e ginecologista aposentada. Eu costumava fazer abortos, mas pela graça de Deus, agora sou pró-vida".
"Ajudem as pessoas a ver que o que está no útero é uma pessoa, com característica e potencial únicos, não apenas uma colherzinha de células", disse Aultman.
"Uma mulher não pode matar seu filho e permanecer ilesa. Há milhões de mulheres nos Estados Unidos que fizeram abortos. Algumas de vocês estão aqui. Elas estão sofrendo e precisam de sua ajuda e compaixão. Elas precisam saber que Deus quer curá-las e restaurá-las".
Sue Liebel é diretora de política estadual da Anthony Susan B. Anthony List. Ela se lembra da primeira vez que ouviu Aultman compartilhar a história de sua conversão pró-vida e testemunhar sobre o aborto de parto parcial.
"Fiquei realmente chocada", disse Liebel à CNA. "Então, fiquei hipnotizada quando ela descreveu com tanta transparência exatamente como ela fez abortos em sua carreira anterior.
"Embora dolorosamente claro como o procedimento – especialmente o desmembramento – mata o bebê e às vezes machuca o corpo da mãe, Aultman ainda mostrava respeito e cuidado com suas pacientes."
Desde então, Liebel viu Aultman testemunhar três outras vezes e disse que a perspectiva única de Aultman como ex-abortista é poderosa para a causa pró-vida.
"Seu testemunho é tão poderoso", disse Liebel. "Eu a conheço pessoalmente e às vezes isso a deixa exausta, mas ela continua porque pode falar a verdade no debate sobre o aborto. E as pessoas param e escutam."
Embora o testemunho de Aultman seja poderoso, Liebel disse que seu comportamento é incrivelmente humilde.
"Sua voz gentil e abordagem respeitosa removem a crítica mordaz visto em muitas das audiências [de aborto]", disse Liebel. "Ela quer trazer a verdade e a cura para a dolorosa realidade do aborto na América."
Amor e bravura podem mudar corações
Hoje, Aultman tem duas filhas. Ela ainda mora na Flórida com o marido, Ron. É pesquisadora associada do Charlotte Lozier Institute, ramo de pesquisa e educação da Susan B. Anthony List.
Ela disse à CNA que não está em um ambiente em que ouve muitas críticas por suas crenças pró-vida. Ela tem amigos e familiares que são pró-aborto, incluindo sua mãe. Mas Aultman disse que sua mãe apóia seu trabalho pró-vida.
Aultman acredita que uma abordagem gentil e amorosa é a melhor maneira de convencer os outros a reconsiderar sua posição sobre o aborto. Ela se lembra do exemplo de pacientes em seu consultório, quando ela ainda se referia a abortos. Várias delas a procuraram quando estavam grávidas e perguntavam sobre sua posição sobre o aborto. Quando ela dizia a elas que apoiava o aborto como um direito da mulher, elas calmamente diziam que não podiam mais continuar em sua prática e iam embora.
"Isso fez a diferença para mim", disse Aultman. "Acho que isso também foi uma das coisas que começaram a mudar minha perspectiva. Elas foram corajosas o suficiente e fizeram isso com delicadeza. Elas não faziam isso de uma maneira mesquinha."
"Portanto, eu acho que você tem que amar as pessoas, mas creio que você tem que ser corajoso o suficiente para ser honesto sobre seus sentimentos e deixar as pessoas saberem de um jeito que não seja ofensivo, que você acredita na vida."
Correção: Kathi Aultman realizou seus últimos abortos todos no mesmo dia, não ao longo de várias semanas, conforme relatado em uma versão anterior desta história. Além disso, ela engravidou pela primeira vez pouco antes de entrar na faculdade de medicina, não enquanto era estudante de medicina, e disse que os residentes, não os estudantes de medicina, podem optar por não participar do treinamento sobre aborto.
Autor: Kate Olivera
Original em inglês: Catholic News Agency
Nota:
(1) - Há de se começar pelo termo legal amicus curiae que é uma expressão latina que literalmente significa "amigo do tribunal". O termo é usado para se referir a um documento legal, chamado de amicus brief que pode ser apresentado a um tribunal de apelação, incluindo uma suprema corte, por uma parte não envolvida com um caso atual, mas em apoio a um lado ou outro no processo legal em questão. O termo em inglês "brief' vem a ser um "sumário jurídico".
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