Uma Fé Desconhecida
![Paulo Pregando em Atenas, de Rafael (tapeçaria), c. 1519 [Pinacoteca dos Museus do Vaticano, Roma]](https://6323b73651.clvaw-cdnwnd.com/24b39ffcea37433b4ba1d3b1f650338a/200002903-4b04f4b051/Paul-preaching-by-Raphael-1.jpeg?ph=6323b73651)
A evidência episódica, embora não seja necessariamente sem valor ou veracidade, precisa de fatos sólidos para ser confirmada como realidade. Nos últimos anos, tem-se falado muito sobre o aumento do número de jovens, especialmente homens, que estão se aproximando do cristianismo ortodoxo e, em particular, da fé católica. Essas histórias agora têm uma base factual. Mais de 10.000 pessoas foram batizadas ou recebidas na Igreja na França no ano passado. Em outros países europeus e nos Estados Unidos, mais pessoas entraram para a Igreja na Vigília Pascal do que em décadas anteriores.
Algo sobre o qual se fala está de fato acontecendo.
Talvez seja cedo demais e dramático demais falar de um "renascimento religioso" no Ocidente desoladoramente secular. Mas o desejo, entre muitos que sabem pouco ou nada sobre Cristo, de descobrir as verdades antigas da fé cristã é - se a Igreja deve ler os "sinais dos tempos" - algo não apenas a ser bem-vindo, mas a ser fomentado, com os tesouros de beleza, verdade e bondade que a história de 2000 anos da Igreja possui.
A familiaridade, como diz o antigo provérbio, gera desprezo. Mas Chesterton, escrevendo há mais de oitenta anos, falou da "fadiga da familiaridade". Ele escrevia numa época em que, mesmo que já não houvesse uma prática generalizada da fé na Grã-Bretanha, havia, para qualquer pessoa com um mínimo de instrução — ainda que apenas de nível fundamental —, um conhecimento geral dos fatos simples da fé cristã.
Como escreveu certa vez o romancista americano John Dos Passos, a "leitura constante da Bíblia em centenas de milhares de lares humildes mantinha um piso básico de alfabetização para a linguagem como um todo, e para a língua inglesa em particular".
O ponto de Chesterton, no que ele chamava de o "especialmente do cristianismo", era a quase impossibilidade de "dar cores vivas aos fatos, porque são fatos conhecidos; e para homens decaídos muitas vezes é verdade que a familiaridade é exaustão". Ele prosseguia dizendo que, se Cristo fosse apresentado como um herói chinês (isto é, como uma figura exótica), as pessoas estariam mais dispostas a reagir.
Essa familiaridade simplesmente não existe mais, e não apenas na Grã-Bretanha. Em todo o mundo ocidental, três ou quatro gerações foram educadas com sucesso para a ignorância, não apenas da fundação da civilização ocidental, que é o cristianismo, mas também das obras de literatura, música e arte que são frutos dessa civilização.
Citações da Bíblia ou de Shakespeare, cujo conhecimento se podia presumir na época em que Chesterton escrevia, hoje são tão estranhas quanto versos em sânscrito. Falar de "ver através de um espelho embaçado" ou dos "cegos guiando cegos" não faz sentido para pessoas que são fruto de quatro anos de privação mental cara, conhecida como curso de bacharelado.
Tudo isso, no entanto, não deve ser visto como obstáculo, mas antes como uma oportunidade magnífica, na verdade, um momento providencial.
Já não há mais a "exaustão da familiaridade", porque os fatos do cristianismo não são apenas pouco familiares — são desconhecidos.
O sociólogo católico Stephen Bullivant falou da necessidade de uma "imunidade de rebanho" ao Evangelho, para que a fé possa novamente ser proclamada com melhores perspectivas de sucesso. A menos que eu o esteja compreendendo mal, parece ser exatamente o oposto. As massas, especialmente os jovens, não são imunes a um Evangelho que jamais ouviram; estão prontas para ser contagiadas.
São Paulo entrou no Areópago, onde os Atos dos Apóstolos nos dizem que as pessoas não se entretinham "senão em dizer, ou ouvir, as últimas novidades". Portanto, neste novo momento do Areópago, o Evangelho, sempre antigo e sempre novo, pode acender o mesmo fogo em um grupo de pessoas surpreendentemente semelhante, separado pelo tempo, mas não pelo desejo.
É verdade que muitos, como naquele tempo, zombarão. Mas outros dirão e já estão dizendo: "A respeito disto vamos ouvir-te outra vez". Sabemos que um Dionísio e uma mulher chamada Dâmaris se converteram pela pregação da Palavra feita por Paulo, o querigma. Hoje, não temos apenas uma Dâmaris e um Dionísio. Onde a Palavra é devidamente pregada, eles são muitos.
Neste momento providencial, não deveríamos nos surpreender que o mundo esteja matando vidas humanas inocentes no início e no fim de sua existência, e que os suicídios entre adolescentes estejam em níveis jamais vistos. Como disse T. S. Eliot, está-se tentando "formar uma moralidade civilizada, porém não cristã", uma tentativa que, segundo ele, acabaria por fracassar..
O frescor do Evangelho, a Boa-Nova da vida após a morte, do verdadeiro significado do ser humano, homem e mulher criados à imagem e semelhança de Deus, da Encarnação e da Ressurreição é, de fato, a única vacina contra o desespero..
Um grande obstáculo, é claro, é que muitos dos responsáveis pela liderança na Igreja, tanto clérigos quanto bispos, são, de fato, os que mais sofrem com a "exaustão da familiaridade".
Essa exaustão foi amplamente demonstrada durante o surto de COVID-19. Somente um grupo de homens profundamente exaustos teria se apressado, naquele momento crucial, a fechar igrejas e negar os sacramentos às pessoas.
Salvação, Encarnação e Redenção não são palavras ou conceitos do léxico moderno. Mas, precisamente porque este é um novo momento do Areópago, um Paulo, ou um exército de evangelistas paulinos, com o apoio e a compreensão da hierarquia, deve agora desenvolver um vocabulário totalmente ortodoxo, que fale com ousadia, como Paulo fez em Atenas, para as pessoas de hoje.
Agora é a hora, como São João Paulo costumava dizer, de a Igreja "propor" a mensagem de esperança e, mais uma vez, em uma sociedade pós-cristã e pós-moderna, conquistar corações e mentes ansiosos e aguardando a libertação desses antigos oponentes: a morte e o desespero.
Autor: Pe. Benedict Kiely
Original em inglês: The Catholic Thing
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