Um Senso Santo Do Dever - E Amor
![São João Evangelista em Patmo, de Ticiano, c. 1553-55 [Galeria Nacional de Arte, Washington, D.C.].](https://6323b73651.clvaw-cdnwnd.com/24b39ffcea37433b4ba1d3b1f650338a/200002614-7a13b7a13d/saint_john_the_evangelist_on_patmos_1957.14.6.jpeg?ph=6323b73651)
O calendário católico traz essa designação digna de nota em várias datas: "Dia Santo de Preceito". A Igreja exige que assistamos à Missa para honrar o Terceiro Mandamento. Aqueles de nós que estão presentes na Missa devem obedecer com um senso de dever. Um senso de dever adequadamente direcionado é santo e bom. Mas a salvação não vem apenas do cumprimento do dever.
Um senso de dever mantém as famílias. Os pais, como bons maridos, cumprem os horários obedientemente, vão trabalhar para colocar comida na mesa e pagam o aluguel. As mães também são obedientes, como boas esposas, em suas tarefas maternas, tornando o lar uma igreja doméstica. Um bebê recompensa a solicitude materna com sua primeira palavra, mamãe.
Por vocação e circunstância, pessoas solteiras e atenciosas geralmente têm um senso de dever intensamente focado, dedicando suas vidas a empreendimentos que beneficiam a comunidade local e o mundo inteiro. Os padres preparam e executam obedientemente a programação da paróquia com Missas, Confissões e Batismos. O dever motiva os trabalhadores a fazer com que os trens circulem pontualmente. O dever constrói e defende as nações. O senso de dever é a pedra angular da eficiência, da produtividade e da realização do trabalho.
Cumprimos nosso dever religioso de guardar o Shabath participando da Missa aos domingos e dias santos.
Mas cumprir nossa obrigação de comparecer à Missa é estéril sem amor. Um padre excessivamente eficiente prejudica sua vida de oração. (A lei da Igreja proíbe os padres de celebrar um número excessivo de Missas.) Corremos o risco de reduzir a frequência à Missa a uma observação do relógio — especialmente a prática odiosa e absolutamente horrível de verificar os relógios durante as homilias, sem dúvida, eloquentes de um padre. Aqueles com um senso de dever truncado costumam chegar atrasados à Missa ou sair mais cedo para evitar o trânsito.
O dever precisa de nosso amor.
A maioria dos católicos ama a realidade da Missa com seus inúmeros símbolos e relações humanas. O choro das crianças é lindo e enriquece o realismo sacramental da Missa. Mas Maria provavelmente saiu da sinagoga quando o bebê Jesus estava chorando para comer ou trocar a fralda. - Não há um relato disso no Evangelho de Lucas, mas deveria haver. - Adoramos a conversa no narthex após a Missa. Tanto os casados quanto os solteiros encontram consolo amoroso na adoração a Deus em nossas comunidades paroquiais. Os pós-Missa são, muitas vezes, involuntariamente conversas santas (e não tão santas também). O amor resiste a todas as coisas.
Mas nosso senso de dever, fortalecido por nosso amor, não pode nos salvar da realidade rompida por nossos pecados. Como pecadores, temos uma sensação subliminar permanente de que não somos amáveis ou somos incapazes de amar. As pesquisas revelam que 99,9% do mundo inteiro é carente de amor. Os 0,1% restantes são, suspeitos, ou estão mentindo. Somente o amor de Deus pode curar a realidade de nossa dignidade humana ferida e a lembrança culposa de nossas traições pecaminosas.
São João, o Apóstolo, escreve: "Nisto consiste o amor: não em termos nós amado a Deus, mas em ter-nos ele amado, e enviado o seu Filho para expiar os nossos pecados. Caríssimos, se Deus assim nos amou, também nós nos devemos amar uns aos outros" (1Jo 4,10-11). Vamos à missa para agradecer o amor de Deus e Sua oferta infalível de perdão.
Precisa de evidências do Seu amor? Contemple a Cruz acima do altar: "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos" (João 15, 13). Duro demais para as sensibilidades do Natal? Contemple o Presépio: "Não temais, eis que vos anuncio uma Boa-Nova que será alegria para todo o povo: hoje vos nasceu na Cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: achareis um recém-nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura" (Lucas 2,10-12).
Uma criança indefesa atrai o amor e a adoração de Maria e José, dos pastores e dos Magos. Deus e o homem são reconciliados em uma Criança nascida da Virgem. O céu e a terra são reconciliados em Belém. O próprio nome de Belém prefigura Sua missão salvadora: a "Casa do Pão", o Pão superabundante da Santíssima Eucaristia, o Pão da vida eterna - a Missa! Jesus e Sua Sagrada Família revelam Seu amor permanente e nos ensinam a amar uns aos outros.
João provavelmente já era um homem idoso quando escreveu suas cartas e seu Evangelho e teve sua visão apocalíptica em Patmos. Como o apóstolo mais jovem, ele era conhecido como o Discípulo Amado. Sua juventude e inocência imprudente podem ter despertado uma afeição especial. - Há humor na cena do Evangelho em que ele e seu irmão Tiago pedem a Jesus para lançar fogo e enxofre sobre seus inimigos -.
João estava sob a Cruz com Maria. Jesus, na Cruz, nomeou-o guardião de Maria ao elevá-la à condição de Mãe Universal. João passou seus últimos anos em Éfeso e arredores com a Mãe de Deus, oferecendo a Missa com ela ao tornar presente o amor de Deus na Santa Comunhão.
Diz a história - e a história parece verdadeira - que o idoso João gostava de dizer: "As criancinhas amam umas às outras". Seus discípulos em Cristo lhe perguntaram por que ele repetia uma frase tão delicada e sentimental. João respondeu: "Porque foi isso que Ele nos disse".
A salvação vem de Emmanuel: o amor de Deus personificado está conosco. Seu amor revigora nossos muitos deveres com sua graça. "Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas. Porque meu jugo é suave e meu peso é leve"(Mateus 11, 29-30).
Autor: Rev. Jerry J. Pokorsky
Original em inglês: The Catholic Sense