Tome Coragem - Espere Pelo Senhor

01/12/2024
Missa inaugural de João Paulo II, em 22 de outubro de 1978. “Não tenham medo. Abram bem as portas para Cristo.” [Imagem: Vatican News]
Missa inaugural de João Paulo II, em 22 de outubro de 1978. “Não tenham medo. Abram bem as portas para Cristo.” [Imagem: Vatican News]

Recentemente, no Ofício de Leituras, um autor anônimo do século II exortou seus leitores a "tomar coragem". Esse conselho me trouxe à mente um evento de meu passado distante que ainda ressoa ao iniciarmos este período do Advento.

Eu estava prestes a começar meus estudos doutrinários no King's College e estava escuro quando cheguei ao nosso convento capuchinho no bairro de Peckham, no sudeste de Londres. Quando me mostraram meu quarto, imediatamente olhei pela janela para ter uma visão dos próximos três anos. Do outro lado da rua, havia um bar. Acima de sua porta, em grandes letras vermelhas em neon, estava a frase: "Tomar Coragem".

Um dos frades me informou que aquele bar vendia uma cerveja chamada "Coragem" e, portanto, o lema da cervejaria, "Tomar Coragem". Entendi isso como um sinal providencial, pois estava prestes a estudar para o meu doutorado. Ao longo dos anos, também bebi um ou dois canecos de Coragem, embora tenha descoberto que isso não me tornou mais corajoso.

A frase "tomar coragem" contém em si o futuro, mas não simplesmente um futuro neutro, aquele do "ainda" a ser vivido. Em vez disso, ela olha para um futuro que será repleto de desafios, riscos e até perigos. Diante desses futuros encontros ameaçadores, é preciso "tomar coragem". A empresa cervejeira Coragem não é a única a nos incitar a "tomar coragem". O próprio Deus, ao longo de todo o Antigo Testamento, exorta o povo judeu a "tomar coragem".

Embora Moisés não tenha entrado na Terra Prometida, uma terra que estava ocupada por outros povos, Deus declarou a Moisés: "Coragem! E sede fortes. Nada vos atemorize, e não os temais, porque é o Senhor, vosso Deus, que marcha à vossa frente: ele não vos deixará nem vos abandonará" (Deuteronômio 31,6). Embora o futuro estivesse repleto de muitos perigos, Moisés deveria tomar coragem, pois o Senhor estaria presente em todos os momentos.

Deus também prometeu a Josué que, assim como ele estava com Moisés, agora ele estaria com Ele: "Sê firme e corajoso, porque tu hás de introduzir esse povo na posse da terra que jurei a seus pais dar-lhes." (Josué 1,9).

Quando Salomão herdou o trono real de Davi, Deus disse que lhe daria "sabedoria e inteligência" e, portanto, ele deveria "Sê forte e corajoso (1 Crônicas 22,12-13).

Nesses casos históricos, esses indivíduos importantes não deveriam temer o futuro, mas deveriam tomar coragem em todas as circunstâncias porque Deus estaria com eles em todos os momentos.

Além disso, o salmista rezou na esperança de que veria a bondade do Senhor na terra dos vivos. Portanto, ele afirmou para si mesmo: "Espera no Senhor e sê forte! Fortifique-se o teu coração e espera no Senhor!". (Salmo 26,14)

O salmista pode ter precisado aguardar o futuro, mas o fez corajosamente, pois aguardou com a certeza da ação salvadora do Senhor. Da mesma forma, os santos deveriam "amar o Senhor", pois ele preserva os fiéis. Portanto: "Tende coragem e um coração firme, vós todos que esperais no Senhor." (Salmo 31, 23-24).

Paulo, em suas epístolas, exorta continuamente seus leitores a serem fiéis ao Evangelho. Essa lealdade exige coragem em meio a provações e perseguições. Portanto, ele exortou os coríntios: "Vigiai, permanecei firmes na fé, sede corajosos, sede fortes!" (1 Coríntios 16,13).

Entre outras coisas, a coragem exige vigilância, para que ninguém desanime e abandone a fé. A coragem é a firme defensora da vida cristã.

A coragem, para os cristãos, está fundamentada em Jesus. Por meio de Sua paixão, Jesus venceu o pecado e derrotou a morte - que é o que mais assusta a humanidade. Por meio da fé em Jesus, os cristãos foram salvos do pecado e, portanto, da maldição da morte. Em Sua ressurreição, os cristãos obtêm a vida eterna.

Portanto, Jesus pode realmente proclamar a Seus apóstolos: "No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo" (João 16, 33). Quaisquer que sejam as tribulações que possam surgir no decorrer da vida cristã, podemos tomar coragem pelo fato de Jesus tê-las vencido e, portanto, podemos tomar coragem.

Hoje, cada vez mais, os cristãos vivem em um mundo que é antitético ao que eles acreditam. Isso é especialmente verdade nos países secularizados do Ocidente, onde o cristianismo é visto como hostil ao Zeitgeist - ao espírito da época - reinante. Recentemente, a França sofreu uma onda de vandalismo em igrejas. Casos semelhantes ocorreram nos Estados Unidos e no Canadá. Mas os cristãos, e particularmente os católicos, devem tomar coragem.

O futuro pode não ser um bom presságio para nós. Podemos ser ridicularizados, desprezados e condenados ao ostracismo por defendermos e promovermos as normas morais cristãs relativas ao aborto, à sexualidade, à identidade de gênero e à eutanásia. Mas, com coragem, vivemos na boa esperança de que, no final, Jesus e Seu evangelho da vida prevalecerão. Devemos esperar no Senhor.

Da mesma forma, mesmo dentro da Igreja, os fiéis, tanto clérigos quanto leigos, devem tomar coragem. Muitos teólogos, bispos, cardeais, sínodos e até mesmo membros do Vaticano no mais alto nível estão promovendo uma agenda que é contrária ao ensino teológico perene e ao magistério apostólico, como o endosso da legitimidade moral do adultério, da fornicação, dos atos homossexuais, do transgenerismo e das mulheres sacerdotes.

Mais uma vez, os católicos fiéis, tanto o clero quanto os leigos, devem ter coragem. Sabemos, com fé, que esses ensinamentos heterodoxos não prevalecerão. Eles não têm futuro. O futuro pertence àqueles que corajosamente se apegam à fé.

Tomar coragem é ter esperança no futuro, e esse futuro é escatológico. Quando Jesus retornar em glória no final dos tempos, o que a coragem sustentou, o que a coragem fez avançar e pelo que por coragem se morreu, vencerá. Ao fazer isso, aqueles que tomaram coragem receberão a recompensa da coragem - a vida eterna.

O bar do lado de fora da minha janela estava declarando algo mais do que o proprietário imaginava. Tome coragem!

Autor: Pe. Thomas G. Weinandy, OFM, Cap.

Original em inglês: The Catholic Thing