Sete Considerações Sobre A Imaculada Conceição

08/12/2025
Deus Pai retratando a Imaculada Conceição, José García Hidalgo, c.1690, Madri, Museu do Prado.
Deus Pai retratando a Imaculada Conceição, José García Hidalgo, c.1690, Madri, Museu do Prado.

Muitos católicos interpretam mal a festa de hoje, que também é a festa padroeira dos EUA (o primeiro país a reivindicá-la com este título). Eles confundem a Imaculada Conceição de Maria com a concepção virginal de Jesus. Mas hoje celebramos o fato de Maria ter sido sem pecado desde o primeiro instante de sua existência – o que é extremamente importante porque demonstra o cuidado com que Deus guiou todo o processo de nossa salvação.

Não é mera coincidência que a Igreja celebre esta festa no início do Advento. Este privilégio concedido a Nossa Senhora fez parte da obra da salvação iniciada no próprio momento em que o pecado entrou no mundo. A experiência do pecado e seu domínio em nosso mundo surgiram por causa da fraqueza e do orgulho humanos. Assim como uma mulher tornou possível o primeiro pecado, também uma mulher tornaria possível a obra da nossa salvação. Maria foi a resposta de Deus a Eva.

Os cristãos de hoje e de todas as épocas amam Maria porque ela personifica, literalmente, tudo o que almejamos ser. É por isso que Wordsworth pôde exaltá-la como "o único orgulho de nossa natureza corrompida". Por sua fé e disposição em cooperar com Deus, Maria mostrou ser uma verdadeira filha de Abraão. A humilde jovem de Nazaré demonstrou ainda que a verdadeira libertação não consiste em fazer o que se quer, mas sim em fazer o que Deus quer. Ela provou que o anjo estava certo, que o Senhor estava verdadeiramente com ela, ao proferir aquele "sim" temeroso, porém firme, que reverteu todos os "nãos" anteriores da história.

Esta solenidade nos oferece uma oportunidade de ouro para considerarmos várias dimensões teológicas da Imaculada Conceição.

Primeiro, o pecado original. O pecado original não é algo que possamos compreender; é a ausência de santidade original, graça e unidade com o Criador. E é uma "herança" de nossos primeiros pais. O pecado original está "inerentemente programado" em nossa natureza. Isso levou São Paulo a refletir sobre por que achamos mais fácil fazer o mal do que o bem (cf. Romanos 7,19).

Segundo, o pecado original nos constitui como "filhos da ira" (Efésios 2,3). É comum olhar para um bebê e exclamar: "Que anjo!". No entanto, isso é mais um desejo do que uma realidade. Um bebê é totalmente egocêntrico e exigente. G.K. Chesterton chamou o pecado original de "a única parte da teologia cristã que pode realmente ser comprovada". São John Henry Newman a identifica como "alguma terrível calamidade aborígine".

Em terceiro lugar, o batismo, que é necessário porque nos conduz do Reino das Trevas para o Reino da Luz. Ele nos reconduz ao Jardim do Éden antes da queda. Georges Bernanos, em uma expressão encantadora, referiu-se a Nossa Senhora em sua Imaculada Conceição como "mais jovem que o pecado". O batismo, podemos dizer, então, é a "fonte da juventude" do cristão, pois nos reconduz àquele estado original de santidade, justiça e graça. Daí a afirmação de Nosso Senhor a Nicodemos: "Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus" (João 3,5).

Em quarto lugar, temos que lidar com uma objeção protestante comum à Imaculada Conceição, a saber, que ela "diviniza" Maria. Mas vários importantes reformadores protestantes acreditavam na doutrina da Imaculada Conceição – quatro séculos antes de sua definição dogmática! Da mesma forma, o Cardeal Newman, treze anos antes de sua conversão, já conseguia pregar:

Quem pode estimar a santidade e a perfeição daquela que foi escolhida para ser a Mãe de Cristo? Se a quem tem, mais lhe é dado, e santidade e favor divino andam juntos (e isso nos é expressamente dito), qual deve ter sido a pureza transcendente daquela a quem o Espírito Criador condescendeu em cobrir com Sua presença milagrosa? Quais devem ter sido seus dons, aquela que foi escolhida para ser a única parente terrena próxima do Filho de Deus, a única a quem Ele era obrigado por natureza a reverenciar e admirar; aquela designada para treiná-Lo e educá-Lo, para instruí-Lo dia após dia, à medida que Ele crescia em sabedoria e estatura?

Lutero, Zwingli e Newman jamais imaginaram que Maria se tornou uma deusa por causa de sua Imaculada Conceição – assim como Eva não era deusa ou Adão um deus por terem sido criados sem pecado. Newman fala de Maria como "a filha de Eva não caída".

O que nos leva logicamente a uma quinta consideração: a definição deste dogma foi uma "invenção" da Igreja no século XIX? Claramente não, pois se os reformadores do século XVI e um professor de Oxford do século XIX – para não falar de inúmeros Padres da Igreja – acreditavam que isso era uma verdade de fé, estamos diante de algo profundamente enraizado na mente e no coração cristãos.

Sexto, como esse privilégio foi concedido à Virgem Santíssima? A resposta pura e simples: graça. É fascinante notar que um dos principais princípios da Reforma era "sola gratia" (somente pela graça). A aplicação mais clara, sublime e impressionante desse princípio é a Imaculada Conceição de Maria.

Sétimo, é lógico perguntar ainda como isso pôde acontecer antes da obra salvífica do único Redentor do mundo. Novamente, a definição dogmática explica que essa ação salvífica em favor da Virgem Maria ocorreu "em vista dos méritos de Jesus Cristo, o Salvador do gênero humano". O termo teológico sofisticado para isso é "graça preveniente", mencionado na Oração sobre as Oferendas da Missa do dia; em linguagem mais simples, podemos chamar de "medicina preventiva". Isso significa que um evento futuro e seus méritos foram aplicados antecipadamente (pois Deus existe em um presente eterno), tornando a futura Mãe do Redentor uma morada adequada para Ele.

Em seu estilo inimitável, São John Henry Newman nos conecta os pontos:

Uma guerra entre uma mulher e a serpente é mencionada em Gênesis. Quem é a serpente? As Escrituras não a mencionam em nenhum momento até o capítulo doze do Apocalipse. Ali, finalmente, pela primeira vez, a "Serpente" é interpretada como o Espírito Maligno. Porém, como ela é apresentada? Ora, pela visão de uma Mulher, sua inimiga – e assim como, na primeira visão em Gênesis, a Mulher tem uma "semente", aqui ela tem um "Filho". Podemos, então, deixar de dizer que a Mulher é Maria, no terceiro capítulo de Gênesis?

Hoje, portanto, louvamos aquela que é "mais jovem que o pecado", "a filha de Eva não caída", e "o único orgulho de nossa natureza corrompida" – orgulhosa por cumprir a profecia de Maria, repleta do Espírito Santo, em seu Magnificat: "Doravante as gerações todas me chamarão de bem-aventurada" (Lucas 1,48).

Autor: Pe. Peter Stravinskas, mj

Original em inglês: The Catholic Thing