São John Henry Newman: O Mais Novo Doutor Da Igreja

São João Paulo II disse uma vez que "nos desígnios da Providência não há meras coincidências". É, portanto, providencial que o Papa Leão XIV tenha decidido nomear São João Henrique Newman Doutor da Igreja, mais de cento e quarenta anos depois de seu predecessor, o Papa Leão XIII, ter nomeado Newman cardeal em 1879.

Quando o recém-nomeado Cardeal recebeu a notícia oficial, o "Biglietto" - bilhete -, na manhã de 12 de maio de 1879, na residência do Cardeal Edward Henry Howard em Roma, uma das primeiras coisas que disse, no que viria a ser conhecido como o "Biglietto speech"[discurso do Bilhete], foi que um dos motivos que Leão XIII tinha para conceder as honras a Newman era que isso "seria prazeiroso aos católicos ingleses".

Declarar São John Henry Newman Doutor da Igreja não só será prazeiroso a toda a anglosfera, mas também a uma Igreja que precisa retornar à reflexão teológica fiel. Espera-se que a liderança um tanto formal da Igreja na Inglaterra responda com vigor e entusiasmo a esta notícia alegre e importante.

Já, como era de se esperar, várias figuras do mundo conturbado e dividido dos "influenciadores" católicos, tanto de tendência conservadora quanto liberal (ou mesmo de ambas as categorias com tendências heterodoxas), estão reivindicando Newman como um dos seus – os liberais heterodoxos – ou afirmando que sua doutrina do "desenvolvimento" foi a mistura alquímica nociva que causou as falhas do Concílio Vaticano II. E ainda, que essa designação é um sinal de modernismo (para a direita excêntrica).

Talvez fosse sensato deixar São John Henry Newman falar por si mesmo e, para isso, não há lugar melhor do que o "discurso do Bilhete".

Seria justo chamá-lo tanto de testamento, ou mesmo de outra "apologia" por sua vida, especialmente sua vida como católico, quanto de refutação a todos, mesmo naquela época, que o reivindicavam para qualquer um de seus campos.

Newman afirmou, como ponto mais importante de seu discurso e apologia, que havia "um grande mal", ao qual ele se opôs desde o início: o espírito do liberalismo na religião.

A palavra liberalismo, no século que se seguiu à morte de Newman, assumiu vários significados que talvez não tivesse então, ou pelo menos com uma ênfase diferente. De forma simples e necessária, Newman definiu o conceito como "liberalismo na religião é a doutrina de que não há verdade positiva na religião, mas que um credo é tão bom quanto outro".

Desse ponto de partida, continuou o santo inglês, fluem alguns conceitos muito "modernos": a falsa noção de "tolerância", a privatização da religião, "pessoal e peculiar" e, mais profundamente, à medida que o mundo ocidental tenta construir uma sociedade sem fundamento cristão, a destruição dessa sociedade.

Newman chamou todo esse movimento de a "grande apostasia", o mesmo em todos os lugares, mas com detalhes diferentes em cada país.

Triste e profeticamente, ele temia que, em sua terra natal, o movimento tivesse "sucesso formidável". Avançando em um país onde o monarca ainda é o chefe da Igreja Nacional, um adereço de teatro ou cenário com um vácuo por trás, aprovando leis para matar idosos e doentes, e assassinar os nascituros até o momento do nascimento. De fato, a grande apostasia tem sido formidavelmente bem-sucedida em uma Inglaterra pós-cristã, ou anticristã.

A Igreja normalmente tem vários motivos para declarar um indivíduo santo, enquanto muitas outras pessoas santas podem não receber essa designação oficial. Os santos, é claro, devem ter vivido vidas de grande santidade, mas também são exemplos, os verdadeiros - para usar uma expressão das mídias digitais - "influenciadores", que devem fornecer evidências de que a santidade de vida é sempre possível e em todas as esferas da vida.

Um Doutor da Igreja, homem ou mulher, não é apenas um santo e um exemplo, mas alguém cujo ensinamento ou teologia serve à Igreja mundial. Eles também precisam ter uma qualidade que parece, superficialmente, paradoxal: devem ser relevantes para seu próprio tempo, mas também perenes, para todos os tempos e épocas. São John Henry Newman é um desses candidatos a se tornar "doutor".

No discurso do Bilhete, há mais de cento e quarenta anos, Newman declarou que, com a maldição do liberalismo na religião (essa "grande malícia"), os tempos eram tão sérios que "nunca a Santa Igreja precisou tanto de defensores contra isso como agora".

Embora haja assuntos muito importantes para o Papa Leão XIV tratar – e com bastante urgência –, como o acordo destrutivo entre o Vaticano e a China, a restauração da Missa no Rito Extraordinário, etc., nada é mais urgente, mais "extremamente necessário", do que lidar com a crise da Fé.

É necessário um ensino claro, conciso e ortodoxo após décadas de confusão, e não apenas sob o último pontificado. O liberalismo na religião é a causa crucial agora, como era quando Newman falava e escrevia.

As Irmãs Feias, ou as gêmeas siamesas, da esquerda e da direita heterodoxa podem fazer muitas afirmações falsas e injustificadas sobre o futuro Doutor, mas Newman, com a humildade genuína de um teólogo obediente e fiel, sempre submisso à autoridade da Igreja, admitiu que:

Em uma longa jornada de muitos anos, cometi muitos erros... mas o que acredito poder afirmar em tudo o que escrevi é... a disposição de ser corrigido.

A noite da fé tem sido escura há algum tempo, e a luz gentil de São John Henry Newman, declarado Doutor da Igreja pelo Papa Leão XIV, não servirá apenas para dissipar a escuridão que nos cerca do liberalismo na religião, mas também nos conduzirá para fora das sombras e para a luz da verdade.

Autor: Fr. Benedict Kiely

Original em inglês: The Catholic Thing

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