Quem Eram As Mulheres na Crucifixão?

26/04/2025

Todos os quatro Evangelhos registram a presença de um grupo de mulheres na Crucifixãc de Jesus:

"Estavam ali muitas mulheres, olhando de longe. Haviam acompanhado Jesus desde a Galiléia, a servi-lo. Entre elas, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu" (Mt 27,55-56).

"Achavam-se ali também umas mulheres, observando de longe, entre as quais Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o Menor, e de José, e Salomé" (Mc 15,40-41).

"Todos os seus amigos, bem como as mulheres que o haviam acompanhado desde a Galiléia, permaneciam à distância, observando essas coisas" (Lc 2,:49).

"Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas*, e Maria Madalena" (Jo 19,25).

A partir dessas descrições, podemos deduzir imediatamente uma série de fatos:

  • Havia "muitas mulheres" (Mt 27:55) presentes na crucifixão
  • Essas mulheres haviam seguido Jesus desde a Galileia e ajudado a apoiar Seu ministério (Mt 27, 55; Mc 15:41; Lc 23, 49; cf. Lc 8, 2-3).
  • Na maior parte do tempo, essas mulheres observaram a crucifixão "de longe" (Mt 27,55; 15,40) ou "à distância" (Lc 23,49); mas, em algum momento, um grupo delas se aproximou o suficiente para ficar ao lado da cruz de Jesus e ouvi-Lo falar (Jo 19,25-27)

Com esses fatos em mente, vamos voltar nossa atenção para a identificação das diferentes mulheres citadas pelos evangelistas. Essa tarefa é complicada pela ambiguidade na descrição de João: "Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena" (Jo 19,25). João nos diz que tanto a mãe de Jesus quanto sua irmã estavam presentes na crucifixão. Mas será que João está nos dizendo que essa irmã é Maria, esposa de Cléofas, ou ele está listando Maria, esposa de Cléofas, como uma pessoa separada?

Em resumo, parece mais provável que a irmã de Maria, mãe de Jesus, seja a mesma mulher que Maria, esposa de Cléofas. Isso é evidenciado pelo fato de que João insere um "e" (grego, kai) entre os outros nomes, mas não o inclui aqui: "sua mãe, e a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena". Parece que as palavras Maria, mulher de Cléofas, são colocadas em oposição às palavras irmã de sua mãe; ou seja, elas estão descrevendo quem é a irmã de sua mãe, em vez de introduzir uma nova pessoa.

Mas se essa leitura estiver correta, teremos um novo quebra-cabeça: Faz realmente sentido dizer que Maria, a mãe de Jesus, tinha uma irmã que também se chamava Maria? É certo que havia muito menos variedade de nomes pessoais na Judeia do século I do que a que observamos na cultura ocidental hoje. Maria, em particular, era um nome feminino extremamente popular, representando até uma em cada quatro mulheres que viviam na Terra Santa na época de Jesus. Mas, mesmo assim, ainda parece improvável que uma família desse o mesmo primeiro nome a duas de suas filhas.

Felizmente, podemos evitar esse enigma reconhecendo que a palavra grega para "irmã" (adelphē) não se restringe necessariamente a irmãos biológicos. Por exemplo, a palavra também pode se referir a cunhadas, o que, nesse caso, parece fazer mais sentido. De fato, a tradição cristã primitiva identifica Cléofas como irmão de José, o pai adotivo de Jesus (ver História Eclesiástica Eusébio de Cesaréia 3.11 e 4.22). Se essa tradição estiver correta, então José e Cléofas eram irmãos que se casaram com mulheres chamadas Maria, e essas Marias eram, portanto, cunhadas.

Portanto, podemos concluir com algum grau de probabilidade que Maria, esposa de Cléofas, é a mulher que João descreve como irmã (cunhada) de Maria, mãe de Jesus. No entanto, as coisas ficam muito mais complicadas nos debates acadêmicos sobre se essa Maria, esposa de Cléofas, que aparece no Evangelho de João é a mesma mulher que Mateus chama de "Maria, mãe de Tiago e José" e Marcos chama de "Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José". (Observação: Joses é simplesmente uma variante grega do nome José; portanto, Mateus e Marcos estão claramente se referindo à mesma mulher). Embora esse debate possa ser fascinante, ele também tende a ser inconclusivo. Por esse motivo, não entraremos nos meandros dos argumentos aqui.

Isso deixa um enigma final, a saber, a identidade da mulher Salomé. Somente o Evangelho de Marcos a menciona pelo nome, mas há boas razões para supor que ela seja a mãe de Tiago e João, os filhos de Zebedeu (ver Mt 10,2). Esse raciocínio baseia-se no fato de que Mateus e Marcos oferecem descrições paralelas das mulheres presentes na crucifixão, mas enquanto Mateus lista "Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago e José, e a mãe dos filhos de Zebedeu", a versão de Marcos nos dá "Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José, e Salomé". Com base nisso, costuma-se inferir que Salomé é a mãe dos filhos de Zebedeu. Se isso estiver correto, então sugere que Salomé é a mesma mãe que se aproximou de Jesus anteriormente nos Evangelhos para perguntar se seus dois "filhos do trovão" (Mc 3,17) poderiam se sentar à Sua direita e à Sua esquerda em Seu Reino (veja Mt 20,20-24).

Com base no que foi dito acima, estamos agora em condições de resumir quais mulheres estavam presentes na crucifixão:

  1. Maria Madalena

  2. Maria de Cléofas (= cunhada de Maria, a Mãe de Jesus)

  3. Maria, mãe de Tiago e José (= POSSIVELMENTE a mesma mulher do # 2)

  4. Salomé (= mãe dos filhos de Zebedeu)

  5. Maria, a Mãe de Jesus

É claro que essas são apenas algumas das "muitas mulheres" (Mt 27, 55) que acompanharam Jesus até o Calvário e permaneceram com Ele em Sua hora mais sombria.

Autor: Clement Harrold

Original em inglês: St. Paul Center


Nota:

* Cléofas também traduzido como Clopas, como na História Eclesiástica Eusébio de Cesaréia