Que Lições Podemos Tirar Da Parábola Do Joio?

Mateus 13,24-43 relata a famosa parábola do joio (ou do joio e do trigo). A cena se enquadra no que é conhecido como discurso parabólico no capítulo 13 do Evangelho de Mateus, que envolve nada menos que oito parábolas diferentes. Uma das coisas que torna a parábola do joio interessante, entretanto, é que Jesus se esforça não apenas para contá-la (vv. 24-30), mas também para explicá-la (vv. 36-43).
A parábola em si é muito simples. Um homem semeia boa semente em seu campo, mas enquanto dorme, seu inimigo aparece e semeia joio no meio do trigo. No devido tempo, quando as plantas começam a dar grãos, os servos do semeador vêm até ele para explicar que o joio começou a aparecer. O dono então percebe que um inimigo estava agindo.
Em vez de instruir seus servos a remover imediatamente o joio, o semeador os adverte a adotar uma abordagem mais paciente. Arrancar o joio nesse estágio poderia causar danos ao trigo bom; é melhor, então, deixar o joio e o trigo crescerem lado a lado até a época da colheita. Naquele dia, os ceifeiros nos campos poderão colher o trigo com mais facilidade no celeiro, enquanto o joio será empacotado e jogado no fogo.
Não é preciso dizer que essa é uma parábola que fala das realidades agrícolas da época de Jesus, e o joio era conhecido por ser um tipo de erva daninha particularmente perniciosa. Em seus estágios iniciais, ele se assemelhava ao trigo, mas, com o tempo, seu caráter de erva daninha torna-se cada vez mais evidente. Devido ao perigo que representava para os agricultores, os romanos chegaram a aprovar leis que proibiam explicitamente a sabotagem do campo alheio semeando joio em meio ao trigo.
A única coisa para a qual o joio podia ser usado era como fonte de combustível. Na parábola, portanto, o proprietário do campo espera até que o trigo e o joio estejam totalmente maduros, quando então os dois são claramente distinguíveis e o joio pode ser empacotado e queimado.
Quando se trata de desvendar o que os elementos da parábola significam, Jesus já fez o trabalho duro para nós. A história, diz Ele, é sobre o reino dos céus. O semeador da boa semente é Ele mesmo, enquanto o semeador da má semente é o diabo. O campo é o mundo, e a boa semente representa os filhos do reino, enquanto a má semente representa os filhos do maligno.
Por fim, a colheita significa o fim dos tempos, e os ceifeiros são os anjos que ajudarão o Filho do Homem a juntar todo o joio pecaminoso e maligno e jogá-lo na fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes. Jesus conclui com uma exortação: "O que tem ouvidos, ouça!" (Mt 13:43).
Que lições espirituais podemos extrair dessa parábola? Em primeiro lugar, a história do trigo e do joio é um lembrete pungente de que a batalha espiritual é real e está ocorrendo ao nosso redor. Esse é um dos principais temas do Evangelho de Mateus: não apenas a vinda do Reino de Deus, mas também - o que é crucial - nossa resposta a Ele. Como a parábola atesta, há outro reino em ação no mundo, um reino de trevas que fará tudo o que estiver ao seu alcance para nos arrastar para o inferno.
A mistura do trigo e do joio também nos ensina que nesta vida as sementes da corrupção podem ser encontradas em toda parte. Santo Agostinho, por exemplo, observou que o joio não se estende apenas aos leigos católicos, mas também aos padres e bispos. Ainda mais pertinente, no entanto, a parábola nos ensina a nos esforçarmos para reconhecer as ervas daninhas em nosso próprio coração. Como observou o escritor russo Aleksandr Solzhenitsyn, "a linha que separa o bem e o mal não passa por estados, nem por classes, nem por partidos políticos, mas por cada coração humano e por todos os corações humanos".
Se quisermos levar as palavras de Cristo a sério, devemos evitar a todo custo uma confiança imprudente que diz que sei que estou entre o trigo porque vou à missa regularmente, ou porque tenho uma boa vida de oração, ou porque sou "uma boa pessoa". Embora não queiramos viver em um estado de ansiedade perpétua, a parábola do joio deixa claro que também não podemos viver em um estado de complacência. Uma abordagem equilibrada significa regozijar-se com a oferta de salvação de Cristo e, ao mesmo tempo, purgar continuamente as ervas daninhas do pecado que permitimos que criassem raízes em nosso coração.
Por fim, há algo de belo na maneira como Jesus explica a parábola a Seus discípulos. Observe que Ele começa se afastando da multidão e entrando em uma casa onde pode ficar a sós com Seus amigos (veja Mt 13,36). É nesse lugar de paz e tranquilidade que os discípulos podem interagir com Deus face a face e ouvir atentamente a Sua Palavra.
Na quietude silenciosa da casa, longe do barulho da multidão, os discípulos se tornam verdadeiros pequeninos com olhos para ver e ouvidos para ouvir. Devemos deixar que essa experiência seja um lembrete para nós da necessidade do encontro pessoal com Jesus, principalmente por meio da oração e da Santa Eucaristia. Por meio desse encontro íntimo, aprenderemos a internalizar melhor Sua Palavra e a crescer como filhos e filhas fiéis em Seu Reino.
Autor: Clement Harrold
Original em inglês: St.Paul Center