Que Consolo A Resposta De Deus A Jó Oferece Àqueles Que Estão Sofrendo?

17/05/2025

Antes da vinda de Cristo, o livro de Jó do Antigo Testamento representava a melhor resposta possível da humanidade para o problema do sofrimento. Ainda hoje, o livro continua a oferecer muitas lições profundas sobre como devemos abordar as provações e tribulações que surgem em nossa vida, principalmente porque a própria figura de Jó aponta para a pessoa de Cristo.

Mas quais são exatamente essas lições? Será que o livro de Jó pode ser reduzido a "Não nos cabe perguntar por quê, mas apenas obedecer e morrer", na memorável frase de Alfred Tennyson? Será que isso é tudo o que o Antigo Testamento tem a oferecer às pessoas que sofrem?

Aqui temos de responder negativamente. Embora o livro de Jó tenha muito a dizer sobre o vasto abismo entre nossa compreensão e a de Deus, ainda há muito mais acontecendo na história.

Uma das principais lições do livro de Jó é o esclarecimento de que o fato de sofrermos não significa, necessariamente, que fizemos algo errado. Isso pode parecer um ponto simples, mas mesmo hoje podemos cair, às vezes, na forma estreita de pensar expressa pelos três "amigos" de Jó, bem como por seu quarto companheiro, Eliú. Especialmente quando nós, ou alguém que conhecemos, enfrentamos um sofrimento, particularmente intenso, em nossa fragilidade podemos ser tentados a duvidar do amor de nosso Pai celestial.

Talvez comecemos a imaginar se Deus não seria, afinal, um mestre exigente e vingativo. Talvez Ele esteja permitindo que eu passe por essas provações como punição por algum pecado que cometi. Ou talvez Ele saiba o quanto eu errei em determinada situação, e por isso esteja permitindo que eu experimente toda a vergonha do que fiz, apenas para me ensinar uma lição.

O livro de Jó é uma repreensão contundente a essa forma blasfema de pensar. É claro que é verdade que o sofrimento pode, sim, ser consequência do pecado nesta vida — como quando um alcoólatra acorda com uma dor de cabeça lancinante. Mas devemos ter extremo cuidado para não generalizar isso, dizendo que todo sofrimento é resultado de nosso pecado. Isso certamente não é verdade, como o próprio Jesus deixa claro nos Evangelhos (ver Lc 13,1-5).

Jó nos ensina que o Deus a quem adoramos não é cruel nem vingativo, mas sim um "Deus compassivo e misericordioso, lento para a cólera, rico em bondade e em fidelidade" (Êx 34,6). Ele é um Pai, não um capataz — e aqueles de nós que foram abençoados com um bom pai terreno devem lembrar que o amor de nosso pai humano é apenas uma pálida imitação do amor infinito e incondicional de nosso Pai do céu.

Quando Jó e seus amigos finalmente terminam de falar, é digno de nota que são os amigos — e não Jó — que Deus repreende por seus modos de pensar errôneos: "Estou irado contra ti [Elifaz] e contra teus dois amigos, porque não falastes corretamente de mim, como Jó, meu servo" (Jó 42,7). Enquanto os amigos são repreendidos, Jó é elogiado exatamente por sua disposição de clamar a Deus, de se queixar a Deus, de expressar sua frustração diante de Deus e de ser totalmente honesto com Ele.

Portanto, embora seja verdade que um dos temas do livro de Jó é nossa incapacidade de compreender plenamente todos os propósitos de Deus, essa não é toda a história. Do ponto de vista teológico, a narrativa nos convida a uma nova forma de pensar que, em vez de tentar racionalizar cada aspecto do sofrimento, escolhe confiar em uma Pessoa muito maior do que nossa dor, que sabe o que estamos enfrentando e que permite isso por um propósito maior.

De forma enfática, portanto, o livro de Jó não trata de uma aceitação passiva e sombria das próprias cruzes. Pelo contrário, trata-se de um acolhimento entusiástico e proativo do Pai que nos ama e que "coopera em tudo para o bem daqueles que o amam, " (Rm 8,28). A leitura da história de Jó nos desafia a confiar que Deus pode, sim, usar nosso sofrimento para propósitos maiores, ainda desconhecidos por nós nesta etapa da vida. Essa percepção foi reiteradamente abordada por São João Paulo II em sua encíclica Salvifici Doloris:

"No programa messiânico de Cristo, que é ao mesmo tempo o programa do reino de Deus, o sofrimento está presente no mundo para desencadear o amor, para fazer nascer obras de amor para com o próximo, para transformar toda a civilização humana na «civilização do amor». Com este amor é que o significado salvífico do sofrimento se realiza totalmente e atinge a sua dimensão definitiva." (§30)

A figura veterotestamentária de Jó começa a experimentar esse misterioso e profundo nexo entre sofrimento e amor — que se tornará definitivo na pessoa de Cristo.

Através de suas muitas provações, Jó é desafiado a aceitar que seu amor por Deus não pode mais depender de estar com boa saúde, possuir bens materiais ou desfrutar de uma família feliz. Quando todas essas coisas lhe são tiradas, Jó se depara com a questão central de saber se permitirá que seus sofrimentos horrendos purifiquem seu amor. Jó está disposto a amar e confiar no Pai simplesmente pelo que Ele é, mesmo quando todos os seus sentimentos, emoções e circunstâncias externas possam levá-lo a acreditar que foi abandonado?

De forma marcante e comovente, a história de Jó deve nos trazer consolação com sua veemente declaração de que Jó não está abandonado, não importa o quão ruins as coisas fiquem. De fato, é precisamente em sua hora mais sombria que o Senhor lhe aparece, e é esse encontro pessoal com o Divino que permite a Jó, de alguma forma, situar e processar tudo o que aconteceu em sua vida.

No versículo talvez mais importante de todo o livro, Jó declara: "Eu te conhecia só por ouvir dizer, mas, agora, vejo-te com meus próprios olhos" (Jó 42,5). É essa visão da face de Deus que faz com que Jó volte atrás em quaisquer dúvidas que possa ter tido. Na análise final, Jó encontra a força para enfrentar seus sofrimentos numa solução que não é intelectual, mas interpessoal.

Quanto mais nós, cristãos, devemos encontrar força e consolo na pessoa de Cristo. Pois a frustração expressa por Jó de que "não há entre nós um árbitro que ponha sua mão sobre nós dois" (Jó 9,33) não é compartilhada por nós! Enquanto Jó vivia ansiando pela revelação do Cristo que assume nossos sofrimentos, os imbui de poder e torna o Pai presente para nós, nós já temos conhecimento dessa preciosa realidade.

Ainda mais enfaticamente do que Jó, portanto, devemos fazer nosso o seu clamor de confiança quando as tempestades e tristezas da vida chegarem até nós: "Porque eu sei que o meu Redentor vive" (Jó 19,25-26).

Autor: Clement Harrold

Original em inglês: St. Paul Center