Por Que Jesus Foi Batizado Se Ele Não Tinha Pecado?

14/01/2023

Quando o Senhor Jesus foi ao Rio Jordão para ser batizado, São João Batista sabia que Jesus não precisava do batismo.

Ele ficou surpreso (talvez até horrorizado) com o pedido de Jesus, dizendo:

"Eu devo ser batizado por ti e tu vens a mim?" - S. João Batista, Mateus 3,14

Nosso Senhor lhe respondeu:

"Deixa por agora, pois convém cumpramos a justiça completa." - Jesus, Mateus 3,15

"Convém cumpramos a justiça completa."

Assim fala Jesus, misteriosamente.

Mas... o batismo é para os pecadores. Por que o santíssimo Filho de Deus procuraria ser batizado?

De volta ao básico: o que é o batismo, realmente?

Crédito da foto: SueAnn Howell para o Catholic News Herald
Crédito da foto: SueAnn Howell para o Catholic News Herald

Antes de responder a esta importante pergunta, vamos revisar o básico.

O que é o sacramento do batismo?

O batismo é:

Um Sacramento de regeneração pela palavra na água.

Por natureza, nascemos de Adão como filhos da ira, mas o Batismo nos faz renascer em Cristo como filhos da misericórdia .

Pois [Cristo] deu aos homens "o poder de se tornarem filhos de Deus: aos que crêem em Seu nome; [aos] que não nasceram do sangue , nem do apetite da carne , nem do desejo do varão, mas [que nasceram] de Deus. - Catecismo de Trento

O Catecismo nos diz que nosso batismo nos une a nosso Senhor:

O Batismo é o primeiro e principal sacramento do perdão dos pecados, porque nos une a Cristo, que morreu pelos nossos pecados e ressuscitou para a nossa justificação, a fim de que «também nós vivamos numa vida nova». - Catecismo da Igreja Católica (977)

É claro que o próprio Jesus não precisava ser regenerado ou renovado.

E Ele É o Filho de Deus. Ele não precisava do batismo para se tornar um filho de Deus.

Portanto, o batismo de Jesus não foi o batismo que nós recebemos, nós que somos pecadores e devemos renascer e nos tornar filhos de Deus.

Mas tudo o que Jesus fez tinha um propósito. Seu batismo (do qual Ele pessoalmente não precisava) tinha um propósito real.

Aqui estão quatro razões pelas quais - de acordo com vários Padres da Igreja, papas e teólogos - Jesus escolheu receber o batismo nas mãos de João Batista.

1. Jesus se Associa aos Pecadores Enquanto se Prepara para Assumir Seus Pecados.

A Cabeça de Cristo por Alexander Andreyevich Ivanov
A Cabeça de Cristo por Alexander Andreyevich Ivanov

O que é verdadeiramente novo é que Jesus queira ser batizado, que entre na multidão triste dos pecadores, que aguardam nas margens do rio Jordão. - Papa Bento XVI, Jesus de Nazaré

Jesus, que se fez homem e é como nós em tudo, menos no pecado (Hebreus 4,15), humilhou-se a Si mesmo para nos salvar.

Isto é, Ele se associou aos pecadores. Ele voluntariamente carregou nosso fardo insondável de pecado e o levou à cruz.

Jesus tomou sobre os seus ombros o peso da culpa de toda a humanidade; levou-a pelo Jordão abaixo. Ele inaugura o seu ministério inserindo-se no lugar dos pecadores. Ele inaugura-o com a antecipação da cruz. - Papa Bento XVI, Jesus de Nazaré

Jesus veio para resgatar os pecadores do destino inescapável da separação eterna de Deus.

Ele veio para pagar o preço que não podíamos, para suportar o chicote sangrento que representa a inumerável e terrível variedade de consequências da vida real resultantes de nossas próprias escolhas corruptas:

... ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniquidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele; fomos curados graças às suas chagas. - Isaías 53, 5

Jesus, que não conheceu pecado e ainda assim sofreu os efeitos do pecado (cf. 2Coríntios 5, 21), ficou no lugar dos pecadores.

Vislumbramos isso quando Ele foi até João Batista, misturando-se com uma multidão de pecadores que buscavam o batismo, ombro-sagrado a ombro-pecador com humanidade miserável.

2. Jesus Santificou as Águas da Pia Batismal Com Sua Carne Pura.

Mosaico do século V do batismo de Jesus
Mosaico do século V do batismo de Jesus

Muitos dos Padres da Igreja e grandes teólogos ensinam uma coisa fascinante: que Jesus, quando desceu ao Jordão e nele foi submerso, estava santificando as águas batismais que agora derramam sobre nós enquanto somos segurados - ou curvados - na pia batismal.

Veja como isso é descrito primeiro, pelo Concílio de Trento, e depois pelos próprios Padres da Igreja:

Nosso Senhor instituiu este Sacramento [o batismo], quando conferiu à água a virtude de santificar, na ocasião que Ele mesmo se fez batizar por São João.

Nosso Senhor recebeu o Batismo, não porque precisasse de purificação, mas para que ao contato com o Seu Corpo puríssimo as águas se purificassem, e adquirissem a virtude de purificar - Catecismo de Trento

Nosso Senhor recebeu o Batismo, não porque precisasse de purificação, mas para que ao contato com o Seu Corpo puríssimo as águas se purificassem, e adquirissem a virtude de purificar. - St. Agostinho

O Senhor foi batizado, não por querer purificar-se; mas para purificar as águas que, purificadas assim pelo corpo de Cristo, isento de pecado, pudessem servir para o batismo. - St. Ambrósio (citado por St. Tomás de Aquino em sua Summa Theologica)

"[Jesus foi batizado] a fim de deixar para o futuro as águas santificadas para os que devessem ser batizados." - S. João Crisóstomo (citado por St. Tomás de Aquino em sua Summa Theologica)

Agora, a cena misteriosa no Rio Jordão tem um significado totalmente novo.

A confusão aparente é transformada profundamente e que podemos refletir com admiração silenciosa.

3. O Batismo de Jesus Simboliza Sua Morte e Ressurreição.

O Batismo de Cristo por Michiel Sweerts, datado entre 1656 e 1659
O Batismo de Cristo por Michiel Sweerts, datado entre 1656 e 1659

O Papa Bento XVI explica o simbolismo do ritual do batismo.

Por um lado, a imersão nas águas é um símbolo de morte, lembrando a morte e a destruição do dilúvio. Por outro lado, as águas correntes do Rio Jordão são também, e sobretudo, um símbolo de vida.

O Papa Bento XVI nos ajuda a entender tudo isso quando explica que o significado desse evento não poderia emergir plenamente até que fosse visto à luz da Cruz e da Ressurreição:

"Não sabeis o que pedis - retorquiu Jesus -. Podeis vós beber o cálice que eu vou beber, ou ser batizados no batismo em que eu vou ser batizado?" - Marcos 10, 38

"Mas devo ser batizado num batismo; e quanto anseio até que ele se cumpra!" - Lucas 12, 50

O Papa Bento XVI nos ajuda a reunir tudo, quando ele descreve isso como um ponto de partida para nossa compreensão do batismo cristão:

O batismo de Jesus, o seu levar "toda a justiça", só na cruz é que se revela: o batismo é a aceitação da morte pelos pecados da humanidade, e a voz do batismo - "Este é o meu filho bem-amado" - é já um chamado de atenção para a ressurreição. Assim se compreende também como na própria linguagem de Jesus a palavra "batismo" aparece como designação da sua morte - Papa Bento XVI, Jesus de Nazaré

A resposta para a pergunta de por que Jesus foi batizado está, em última análise, em Sua paixão e morte na cruz. O Cântico do Servo Sofredor em Isaías compara o servo sofredor de Deus com o cordeiro que é levado ao matadouro. O pastor que se fez ovelha é o Cordeiro pascal.

A palavra acerca do "cordeiro de Deus" interpreta, se assim podemos dizer, o caráter teológico do batismo de Jesus já iluminado a partir da cruz, da sua descida na profundidade da morte. Todos os quatro Evangelhos referem, em modos diferentes, que, ao sair Jesus das águas, o céu "rasgou-se", abriu-se; que o Espírito "como uma pomba" desceu sobre Ele e que nesse momento foi ouvida uma voz do céu, a qual segundo S. Marcos e S. Lucas se dirige a Jesus "Tu és..." ao passo que segundo S. Mateus diz acerca d'Ele: "Este é o meu filho muito amado, no qual pus todo o meu agrado". - Papa Bento XVI, Jesus de Nazaré

4. Jesus Embarca em Sua Missão para nos Salvar em Seu Batismo.

Christus Consolator por Ary Scheffer, pintado em 1837
Christus Consolator por Ary Scheffer, pintado em 1837

A descida do Espírito Santo sobre Jesus, que conclui a cena batismal, também é referida como o tempo da unção.

A descida do Espírito Santo sobre Jesus, que encerra a cena do batismo, institui formalmente o seu ministério. Por isso os Padres viram neste processo, com razão, uma analogia com a unção, com a qual os reis e os sacerdotes eram instituídos no seu ministério em Israel. A palavra Messias-Cristo significa "o ungido": a unção era considerada, na Antiga Aliança, o sinal visível da dotação com os talentos do ministério, com o Espírito de Deus...

Segundo o relato de S. Lucas, Jesus apresentou-se a si mesmo e à sua missão na Sinagoga de Nazaré com uma citação análoga de Isaías: "O Espírito do Senhor repousa sobre mim, porque o Senhor me ungiu" (Lc 4,18; Is 61,1). - Papa Bento XVI, Jesus de Nazaré

Como o tão esperado Messias, o Ungido, a missão de Jesus o leva primeiro ao deserto "para ser tentado pelo diabo" e, finalmente, como o Papa Bento tão bem coloca...

A missão consiste em descer aos perigos do homem, porque só assim pode o homem caído ser levantado: Jesus deve (isso pertence ao cerne da sua missão) penetrar no drama da existência humana, atravessá-lo até seu último fundo, para encontrar a "ovelha perdida", colocá-la nos seus ombros e levá-la para casa. - Papa Bento XVI, Jesus de Nazaré

Conclusão

Batismo de Cristo (1895) de José Ferraz de Almeida Júnior
Batismo de Cristo (1895) de José Ferraz de Almeida Júnior

Agora entendemos por que o Filho de Deus sem pecado, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, foi batizado.

Jesus Se associou a nós, pecadores, levando sobre Seus ombros o indescritível fardo do pecado.

Ele santificou as águas futuras da pia batismal, permitindo-nos receber o Sacramento do Batismo e ser salvos do fogo eterno do inferno.

Ele prenunciou Sua morte e ressurreição, que Ele abraça em nosso nome.

Por fim, Ele recebeu formalmente Sua unção e, com ela, Sua missão.

Por Ele, pelo Seu batismo e pelo mistério pascal, somos resgatados da escravidão do pecado e nossa dignidade é restaurada.

Tudo o que se passou com Cristo dá-nos a conhecer que, depois do banho de água, o Espírito Santo desce sobre nós do alto dos céus e, adoptados pela voz do Pai, tornamo-nos filhos de Deus. - Catecismo da Igreja Católica, 537

Louvado seja Jesus Cristo, agora e pelos séculos dos séculos!

Autor: Genevieve Cunningham

Original em inglês: Good Catholic