Por Que Jesus Cura Algumas Pessoas E Outras Não?

23/11/2025

Nos Evangelhos, muitas vezes parece que Jesus concede cura a qualquer pessoa que a peça. Para muitos de nós, isso levanta a questão de por que o mesmo não acontece hoje em dia.

Todos nós conhecemos pessoas que rezam por cura há anos sem nunca receberem o que pedem. Talvez até nós mesmos já tenhamos passado por isso.

Então, por que Jesus parece menos disposto a curar pessoas hoje do que quando caminhava sobre a Terra?

As Ocasiões em que Jesus Não Curou

Ao refletirmos sobre esta questão, devemos começar por observar que existem alguns exemplos nos Evangelhos em que Jesus opta por não curar pessoas. Em João 5, por exemplo, lemos como no tanque de Betesda, em Jerusalém, "deitados pelo chão, numerosos doentes, cegos, coxos e paralíticos" (v. 3). E, no entanto, até onde sabemos, apenas um paralítico foi curado por Jesus.

Outro exemplo ocorre quando Jesus retorna à sua cidade natal, Nazaré, apenas para ser desprezado pelo seu próprio povo. Como resultado, somos informados de que Jesus "não podia realizar ali nenhum milagre, a não ser algumas curas de enfermos, impondo-lhes as mão" (Marcos 6,5). Por que Jesus não pôde realizar milagres ali? Os evangelistas nos informam que foi por causa da falta de fé das pessoas (ver Mateus 13,48; cf. Marcos 6,6).

Finalmente, sabemos de pelo menos uma ocasião em que Jesus escolheu adiar um milagre específico, mesmo que o tenha realizado posteriormente. Em João 11, quando Jesus soube que Lázaro estava doente, Ele intencionalmente esperou dois dias (tempo suficiente para Lázaro morrer) antes de ir a Betânia para ressuscitar seu amigo. Curiosamente, João nos conta que o motivo da demora de Jesus foi o amor que Ele tinha por Lázaro e suas duas irmãs (ver 11,5-6).

Vemos, então, que não é bem verdade que Jesus cura todas as pessoas doentes que encontra. No entanto, Ele cura a maioria delas. E assim continuamos nos perguntando: por que eles e não nós?

O Poder da Fé

Algo que se destaca imediatamente nos Evangelhos é a frequência com que as curas físicas de Cristo (e, ocasionalmente, o Seu perdão dos pecados) estão ligadas a um ato de fé por parte daqueles que pedem o milagre. Considere estes sete exemplos:

  1. A Cura do Paralítico em Cafarnaum: "Aí lhe trouxeram um paralítico deitado numa cama. Jesus, vendo tão grande fé, disse ao paralítico: 'Tem ânimo, meu filho; os teus pecados te são perdoados'" (Mateus 9,2; cf. Marcos 2,5; Lucas 5,20)
  2. O Perdão da Mulher Pecadora: "Ele, porém, disse à mulher: 'Tua fé te salvou; vai em paz'" (Lucas 7,50).
  3. A Cura do Servo do Centurião: "Em seguida, disse ao centurião: 'Vai! Como creste, assim te seja feito!' Naquela mesma hora o criado ficou são'" (Mateus 8,13; cf. Lucas 7,9-10).
  4. A Cura da Mulher Hemorroíssa: "Jesus, voltando-se e vendo-a, disse-lhe: 'Ânimo, minha filha, a tua fé te salvou'. Desde aquele momento, a mulher foi salva" (Mateus 9, 22; cf. Marcos 5, 34; Lucas 8,48).
  5. A Cura do cego Bartimeu: "Jesus lhe disse: 'Vai, a tua fé te salvou'. No mesmo instante ele recuperou a vista e seguia-O no caminho" (Marcos 10,52; cf. Mateus 9,29-30; Lucas 18,42)
  6. A Cura da Filha da Mulher Cananéia: "Diante disso, Jesus lhe disse: 'Mulher, grande é a tua fé! Seja feito como queres!' E a partir daquele momento sua filha ficou curada" (Mateus 15,28; cf. Marcos 7,29).
  7. A Cura do Leproso Samaritano: "Em seguida, disse-lhe: 'Levanta-te e vai; a tua fé te salvou'" (Lucas 17,19).

O tema recorrente nesses episódios é que Jesus realiza curas milagrosas quando as pessoas se aproximam dele com fé. Isso sugere, então, que a única coisa que nos separa de mais curas é uma fé mais forte? Infelizmente, não é tão simples assim.

Se levarmos as Escrituras a sério, há muitos motivos para crer que uma fé mais profunda levará Deus a agir de forma mais impactante em nossas vidas (veja, por exemplo, Tg 5,16). Ao mesmo tempo, mesmo uma fé mais profunda não garante que sempre receberemos a cura que desejamos.

São Paulo era claramente um homem de fé profunda, mas quando pediu a Deus três vezes que removesse o misterioso espinho em sua carne, não recebeu a cura que desejava. Em vez disso, recebeu a lembrança de que Deus permitia aquela cruz para um propósito mais profundo: "Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta todo o seu poder" (2 Cor 12,9).

Neste ponto, pode parecer que estamos mais distantes do que nunca da resposta à nossa pergunta inicial. Mas talvez o Catecismo possa nos ajudar a encontrar o início de uma resposta:

Comovido por tanto sofrimento, Cristo não só Se deixa tocar pelos doentes, como também faz suas as misérias deles: «Tomou sobre Si as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças» (Mt 8, 17). Ele não curou todos os doentes. As curas que fazia eram sinais da vinda do Reino de Deus. Anunciavam uma cura mais radical: a vitória sobre o pecado e sobre a morte, mediante a sua Páscoa. Na cruz, Cristo tomou sobre Si todo o peso do mal e tirou «o pecado do mundo» (Jo 1, 29), do qual a doença não é mais que uma consequência. Pela sua paixão e morte na cruz. Cristo deu novo sentido ao sofrimento: desde então este pode configurar-nos com Ele e unir-nos à sua paixão redentora. (CIC 1505)

Esta seção do Catecismo nos convida a manter duas verdades em tensão. Por um lado, Jesus se alegra com as curas que realiza nos Evangelhos e tem toda a intenção de restaurar todas as coisas no devido tempo. Jesus não é indiferente à nossa dor, e parte da razão pela qual se fez homem é para que pudesse compartilhar do nosso sofrimento e redimi-lo interiormente. Por outro lado, as curas que Jesus realiza nos Evangelhos também são sinais que apontam para a cura espiritual mais radical de que todos nós necessitamos desesperadamente.

Essas duas verdades são maravilhosamente ilustradas no caso do paralítico em Cafarnaum. Mesmo quando o paralítico está deitado diante dele, a prioridade de Jesus não são as pernas aleijadas do homem, mas sim o seu coração enfermo. Portanto, Jesus cura primeiro os pecados do homem e só depois cura as pernas dele — e faz isso para que saibamos que o Filho do Homem tem o poder de perdoar pecados (ver Mateus 9,6; Marcos 2,10).

Uma Cura Mais Profunda

Nada disso sugere que Jesus não se importava com a deficiência física do homem. Jesus sempre se importa profundamente com as coisas que nos impedem e afligem. No entanto, o fato de Jesus priorizar a cura espiritual do paralítico — e o fato de Ele frequentemente vincular Suas curas físicas a um ato de fé — sugere as lições que Ele deseja que aprendamos sobre como Sua cura opera em nossas próprias vidas. Pois a verdade é que Jesus sempre responde à nossa oração por cura, mesmo que a resposta não seja necessariamente a que gostaríamos.

Os Evangelhos nos ensinam que o que Jesus nos chama a fazer, antes de tudo, é ter fé, porque é a fé que cura nossas almas. Isso, por sua vez, nos dá a confiança de que, sempre que nos aproximamos de Jesus com fé para pedir que Ele nos cure de uma aflição específica, uma de duas coisas acontecerá. Ou Ele dirá "Sim" e nos concederá a cura física. Ou Ele dirá "Ainda não, porque estou usando esta aflição para trazer uma cura mais profunda para você e para aqueles ao seu redor". Em nenhum desses casos Jesus ignora ou nega categoricamente o nosso pedido. Em ambos os casos, o Seu objetivo final é que sejamos felizes e completos.

Como pessoas de fé, sabemos que esse objetivo não será alcançado perfeitamente nesta vida. Contudo, se entregarmos todas as nossas dores e provações presentes a Cristo, Ele, sem falta, usará essas coisas para preparar nossos corações — e sim, nossos corpos também — para passarmos a eternidade com Ele no céu, onde "se abrirão os olhos dos cegos, e os ouvidos dos surdos se desobstruirão. Então o coxo saltará como o cervo, e a língua do mudo cantará canções alegres" (Isaías 35:5-6).

Autor: Clement Harrold

Original em inglês: St. Paul Center