Por que Deus não se conforma aos nossos planos. (Reflexão do Evangelho)
Reflexão do Evangelho do Segundo Domingo da Quaresma
As crianças são o futuro. Elas são as vidas que continuam. Os pais muitas vezes projetam suas aspirações sobre os seus filhos e gostariam de ver suas esperanças nelas cumpridas. Mas, bem como o futuro, a vida de uma criança não está sob nosso controle. Embora possamos tentar, o futuro sempre nos escapa. Muitas vezes, uma criança não se torna exatamente naquilo esperávamos.
No entanto, uma criança também é uma vida que precisa ser cuidada. Uma criança nos pede para desviar nossa atenção de nós mesmos. É a maneira pela qual a vida nos obriga a abandonar nosso egoísmo. Há uma criança em todas e cada uma pessoa a quem somos chamados a cuidar. As crianças são a próxima geração e somos chamados a dar nossas vidas por elas. Inevitavelmente, deixamos uma herança para todas elas. E somos responsáveis pelo que estamos deixando para quem vem depois de nós.
A Bíblia nos fala com frequência sobre a relação entre pais e filhos. Abraão, por exemplo, vive uma grande parte de sua vida dentro da promessa que Deus lhe fez dos descendentes. No entanto, quando ficamos cansados de esperar, quando as coisas não funcionam como esperamos, tentamos construir nossas próprias soluções com os meios humanos. Abraão tenta dar a sim mesmo um filho, deixando Deus fora de Sua vida. Abraão sente que Deus não está mais trabalhando em sua vida. Contudo, ele aprenderá com seus erros. Ele aprenderá que Deus não esquece suas promessas.
Uma criança é um símbolo de cada presente que vem das mãos de Deus: Deus nos diz que nossas vidas não são finitas, mas são iluminadas pela esperança. Mas quando Abraão recebe seu filho Isac de Deus, ele tenta tomá-lo para si mesmo. Abraão quer possuir o presente, quer controlá-lo. Ele não deixa espaço em seu coração para ninguém além de seu filho.
É por isso que Deus pede a Abraão que restabeleça a ordem dentro de seu coração. Moriá torna-se o lugar onde seu amor é purificado.
Esta reflexão sobre o relacionamento dos pais e das crianças continua na Bíblia, por exemplo, na história de Jacó. Jacó mostra uma clara preferência por seu filho José, a ponto de semear inveja em seus outros filhos que tentam matar José.
Maria, a mãe de Jesus, também será chamada a meditar em seu relacionamento com seu filho. A espada profetizada por Simeão é o símbolo da distância que Maria é chamada a aceitar, uma distância em que a sua liberdade diante da missão de seu filho é alcançada. Tornar-se mãe exige que você permita que seu filho viva em lugares que não esperava.
Através dessas imagens humanas, a Bíblia nos permite contemplar a relação entre o Pai e o Filho. A transfiguração é o momento do reconhecimento: Este é meu Filho amado escutai-O todos vós! Talvez cada um de nós, como filhos, devêssemos nos sentir reconhecidos pelo Pai da mesma maneira. É o amor que traz a nossa identidade mais pessoal, nossa figura mais verdadeira; isso nos transfigura.
A transfiguração é, portanto, o momento em que Jesus se revela como Ele realmente é. A presença de Moisés e Elias confirma sua identidade: ele é o tão esperado Messias. De fato, na tradição hebraica, Moisés e Elias foram os dois profetas que retornariam na vinda do Messias. Junto com Sagradas Escrituras, eles representaram o que comumente se refere nos Evangelhos como "a Lei e os Profetas". Na verdade, Moisés foi considerado o autor do Pentateuco, que também continha a Lei dada a Israel no Sinai e Elias foi considerado o principal profeta.
O Senhor continua a se transfigurar em nossas vidas, Ele continua a se deixar ver como Ele realmente é naqueles momentos, em nossas vidas espirituais, em que sentimos a presença autêntica de Deus. Mas nós, como Pedro, ficamos confusos com essas experiências. Queremos reter Deus para sempre; queremos pausar esses momentos; queremos fazer tendas dentro das quais podemos encerrar nossa experiência de Deus. Mas Deus recua e não nos deixa fazer planos para Ele.
Somos chamados a permanecer dentro da nuvem que nos cobre: o povo de Israel também foi guiado por uma nuvem no deserto. A nuvem nos protege da luz ofuscante do sol, mas também nos impede de ver muito à frente. Assim, nosso conhecimento de Deus nunca pode ser direto, e sempre requer alguma mediação humana.
Também somos chamados a descer das nossas profundas experiências de Deus para encontrar a humanidade, aguardando o momento em que O veremos novamente cara a cara, tal como Ele é.
Questões para reflexão pessoal:
- Como você vive sua condição de filho de Deus?
- Em que ocasiões você pára e ouve Jesus?
Uma leitura do Santo Evangelho de São Marcos 9, 2-10
"Seis dias depois, Jesus tomou consigo a Pedro, Tiago e João, e conduziu-os a sós a um alto monte. E transfigurou-se diante deles. Suas vestes tornaram-se resplandecentes e de uma brancura tal, que nenhum lavadeiro sobre a terra as pode fazer assim tão brancas. Apareceram-lhes Elias e Moisés, e falavam com Jesus.
Pedro tomou a palavra: Mestre, é bom para nós estarmos aqui; faremos três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias. Com efeito, não sabia o que falava, porque estavam sobremaneira atemorizados. Formou-se então uma nuvem que os encobriu com a sua sombra; e da nuvem veio uma voz: Este é o meu Filho muito amado; ouvi-o. E olhando eles logo em derredor, já não viram ninguém, senão só a Jesus com eles.
Ao descerem do monte, proibiu-lhes Jesus que contassem a quem quer que fosse o que tinham visto, até que o Filho do homem houvesse ressurgido dos mortos. E guardaram esta recomendação consigo, perguntando entre si o que significaria: Ser ressuscitado dentre os mortos."