Por Que A Taxa De Mortalidade Infantil Em Cuba É Tão Baixa?

26/01/2020

A impressionante taxa de mortalidade infantil de Cuba tem uma explicação simples: manipulação de dados.

Sábado, 14 de janeiro de 2020 - por Luis Pablo De La Horra*

Fidel Castro, o ditador que governou Cuba com punho de ferro por quase seis décadas, está morto há mais de três anos. Infelizmente, seu regime não morreu com ele. A maior ilha do Caribe ainda está sob o pesado jugo do comunismo.

Desde que Castro assumiu o poder em 1959, o castrismo se caracteriza pela brutal repressão aos direitos políticos e civis, além de baixo crescimento econômico. O crescimento médio real do PIB foi de 1% entre 1959 e 2015.

"Baixa" taxa de mortalidade infantil em Cuba

Apesar da falta de liberdade e do histórico econômico ruim, Cuba é frequentemente elogiada por suas realizações sociais em saúde e educação, algumas das quais rivalizam com os países desenvolvidos. Um bom exemplo disso é o Indicador de Mortalidade Infantil (IMR, a sigla em inglês), que é definida como a parcela de crianças que morrem antes de seu primeiro aniversário. O gráfico abaixo representa o IMR de Cuba vis-à-vis quatro países desenvolvidos:

Surpreendentemente, o IMR de Cuba em 2017 foi menor do que nos EUA e no Canadá: 4,1 mortes por 1.000 nascidos vivos, em oposição a 5,7 nos Estados Unidos e 4,5 no Canadá.

Isso parece contra-intuitivo. Como um país pobre como Cuba, cuja renda per capita é uma fração da dos países desenvolvidos, pode superar duas das nações mais ricas do mundo?

Existem algumas possibilidades, ambas envolvendo gastos com saúde. Esses números excepcionais são o resultado de Cuba gastar mais do que os EUA.

Não de acordo com os dados. Como mostra o gráfico a seguir, os gastos per capita em saúde de Cuba são substancialmente inferiores aos dos Estados Unidos.

Porém, gastos mais altos não garantem melhores resultados. De acordo com o Bloomberg Health Care Index, que mede a eficiência de custos no setor de saúde, os EUA gastam quatro vezes mais que Cingapura em termos per capita, contudo a expectativa de vida é quatro anos maior no país asiático. Logo, pode ser que, apesar de gastar menos, Cuba obtenha melhores resultados.

Infelizmente, a economia planejada de Cuba está longe do que alguém chamaria de eficiente. Isso significa que deve haver outra explicação.

Manipulação de Dados

Na verdade, o impressionante IMR de Cuba tem uma explicação simples: manipulação de dados.

Em um artigo de 2015, o economista Roberto M. Gonzalez concluiu que o IMR real de Cuba é substancialmente mais alto do que o relatado pelas autoridades. Para entender como as autoridades cubanas distorcem os dados do IMR, precisamos entender dois conceitos: Óbito Neonatal Precoce e Óbito Fetal Tardio 1.

O primeiro é definido como o número de crianças que morrem durante a primeira semana após o nascimento, enquanto o segundo é calculado como o número de mortes fetais entre a 22ª semana de gestação e nascimento. Como resultado, óbitos neonatais precoces são incluídos no IMR, mas óbitos fetais tardios não são.

Para a amostra de países analisados por Gonzalez, a proporção de óbitos fetais tardios e óbitos neonatais precoces varia entre 1 para 1 e 3 para 1. No entanto, essa proporção é surpreendentemente alta em Cuba: o número de mortes fetais tardias é seis vezes maior que o de mortes neonatais precoces.

Esse número sugere que muitas mortes neonatais precoces são sistematicamente relatadas como mortes fetais tardias, a fim de reduzir artificialmente a IMR. Gonzalez estima que o verdadeiro IMR de Cuba em 2004, o ano analisado no artigo, estava entre 7,45 e 11,46, substancialmente mais alto que o 5,8 relatado pelas autoridades cubanas e muito pior que as taxas dos países desenvolvidos.

O fato de a ditadura de Cuba manipular estatísticas auto-referidas não deve surpreender. Afinal, os Castros vêm tentando há anos provar que, apesar da falta de liberdade em seu país, seu regime construiu um estado de bem-estar onde serviços públicos de alta qualidade são garantidos para todos os cidadãos.

Nada poderia estar mais longe da verdade. A única conquista da Revolução de 1959 foi transformar Cuba em uma enorme prisão, onde a miséria e a repressão dominam a vida de milhões de cubanos que não tiveram a oportunidade de fugir do país em busca de uma vida melhor.

As ditaduras sempre recorreram à manipulação de dados para fins políticos. Isso não é novo. O que é realmente preocupante é que os intelectuais ocidentais continuam comprando a propaganda da tirania mais antiga das Américas.

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Luis Pablo De La Horra é doutorando em economia na Universidade de Valladolid na Espanha, publica em diversos meios de comunicação, incluindo The American Conservative, CapX e Foundation for Economic Education.

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1 - N.T.: "É considerado óbito fetal tardio aquele com idade gestacional acima da 28ª semana ou com peso ao nascer acima de 1000g. Para fins de estatísticas de mortalidade fetal, são considerados somente os óbitos que ocorrem a partir da 22ª semana completa de gestação (154 dias), correspondendo a morte de fetos com peso de 500 gramas ou mais e/ou estatura igual ou superior a 25cm. Sua avaliação é feita através do cálculo do coeficiente de natimortalidade, feito com base no número de óbitos fetais divido pelo número de nascimentos totais (vivos e óbitos fetais) de mães que residem no local e período considerados." Em Holanda, A. A. S, 2013.,"Caracterização da Mortalidade Fetal em Pernambuco, de 2000 a 2011: Causas e Fatores Associados", pág. 12, Fundação Oswaldo Cruz. Disponível em https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/28825/1/122.pdf. 

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[Crédito da imagem: Aviador sênior da Base Aérea de Ramstein, Devin Boyer, domínio público]

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Fonte: Intellectual TakeOut