Pedro E O Papado

26/05/2025

Há ampla evidência no Novo Testamento de que Pedro ocupava a primeira posição de autoridade entre os apóstolos. Sempre que os apóstolos são nomeados, Pedro aparece em primeiro lugar (Mt 10,1-4; Mc 3,16-19; Lc 6,14-16; At 1,13); às vezes, eles são até referidos como "32Pedro e os companheiros" (Lc 9,32). Era Pedro quem geralmente falava em nome dos apóstolos (Mt 18,21; Mc 8,29; Lc 12,41; Jo 6,68-69), e ele esteve presente em muitas das cenas mais marcantes (Mt 14,28-32; 17,24-27; Mc 10,23-28). No dia de Pentecostes, foi Pedro quem pregou primeiro ao povo (At 2,14-40), e também realizou a primeira cura da era da Igreja (At 3,6-7).

É a fé de Pedro que fortalecerá seus irmãos (Lc 22,32), e é a ele que Jesus confia seu rebanho (Jo 21,17). Um anjo foi enviado para anunciar a ressurreição primeiramente a Pedro (Mc 16,7), e o Cristo ressuscitado apareceu primeiro a ele (Lc 24,34). Foi Pedro quem presidiu a reunião que elegeu Matias para substituir Judas (At 1,13-26), e quem acolheu os primeiros convertidos (At 2,41). Foi ele quem aplicou a primeira punição (At 5,1-11) e excomungou o primeiro herege (At 8,18-23). Liderou o primeiro concílio em Jerusalém (At 15) e anunciou a primeira decisão doutrinária (At 15,7-11). Foi a Pedro que Deus revelou que os gentios também deviam ser batizados e aceitos como cristãos (At 10,46-48).

Pedro, a Pedra

A posição de destaque de Pedro entre os apóstolos foi simbolizada já no início de sua relação com Cristo. Logo que se encontraram, Jesus disse a Simão que seu nome, dali em diante, seria Pedro, que significa "Pedra" (Jo 1,42). O mais surpreendente é que — exceto por uma única vez em que Abraão é chamado de "rocha" (hebraico: Tsur; aramaico: Kepha) em Isaías 51,1-2 — no Antigo Testamento, apenas Deus era chamado de rocha. O termo "rocha" não era usado como nome próprio naquela época. Se você dissesse a alguém: "A partir de agora seu nome será Aspargo", todos se perguntariam: Por que Aspargo? O que isso significa? Da mesma forma, por que chamar Simão, o pescador, de "Rocha"?

Jesus não fazia gestos vazios, e os judeus também não quando davam nomes. Mudar o nome de alguém significava mudar seu status, como aconteceu com Abrão que se tornou Abraão (Gn 17,5), Jacó que se tornou Israel (Gn 32,28), ou com os jovens hebreus que receberam nomes babilônicos (Dn 1,6-7). Mas nenhum judeu jamais foi chamado de "Pedra". Embora nomes da natureza fossem comuns, como Débora ("abelha") ou Raquel ("ovelha"), "Pedra" era algo inédito. No Novo Testamento, Tiago e João foram apelidados de Boanerges, ou "filhos do trovão", mas isso nunca substituiu seus nomes. Já com Simão, o novo nome Kepha (grego: Petros) de fato substituiu o antigo.

As promessas feitas a Pedro

Ao encontrar Simão pela primeira vez, "Fitando-o, disse-lhe Jesus: 'Tu és Simão, o filho de João; chamar-te-ás Cefas (que quer dizer Pedra)'" (Jo 1,42). Cefas é apenas a transliteração grega do aramaico Kepha. Mais tarde, depois de algum tempo com Jesus, Pedro fez sua profissão de fé em Cesareia de Filipe: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mt 16,16). Jesus lhe disse que essa verdade lhe fora revelada especialmente por Deus e acrescentou: "E eu te declaro: tu és Pedro" (Mt 16,18). E com isso veio a promessa de que a Igreja seria fundada, de algum modo, sobre Pedro.

Duas coisas importantes foram então ditas a Pedro: "Tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus" (Mt 16,19). Pedro é destacado aqui como aquele que recebe a autoridade de perdoar pecados e estabelecer normas disciplinares. Mais tarde, os demais apóstolos também receberiam autoridade semelhante (Mt 18,18), mas aqui ela é dada a Pedro de maneira especial.

Pedro ainda recebe uma promessa exclusiva: "Eu te darei as chaves do Reino dos Céus" (Mt 16,19). Na Antiguidade, as chaves eram símbolo de autoridade. Uma cidade murada podia ter um único grande portão com uma única chave — quem a possuísse tinha autoridade sobre a cidade. A cidade à qual Pedro recebe as chaves é a cidade celeste. Essa imagem também aparece em outras partes da Bíblia (Is 22,22; Ap 1,18).

Após a ressurreição, Jesus aparece aos discípulos e pergunta três vezes a Pedro: "Tu me amas?" (Jo 21,15-17). Em reparação por suas três negações, Pedro faz três afirmações de amor. Em seguida, Jesus, o Bom Pastor (Jo 10,11.14), confia a ele o rebanho: "Apascenta as minhas ovelhas" (Jo 21,17). Isso inclui os próprios apóstolos, pois Jesus pergunta: "Tu me amas mais do que estes?" (Jo 21,15), referindo-se aos que estavam ali presentes (Jo 21,2). Cumpre-se, assim, o que Jesus havia dito antes de sua prisão:

"Simão, Simão, eis que Satanás pediu insistentemente para vos peneirar como trigo; eu, porém, orei por ti, a fim de que tua fé não desfaleça. Quando, porém, te converteres, confirma teus irmãos" (Lc 22,31-32). Foi a Pedro que Cristo rezou para que sua fé não desfalecesse — e essa oração infalível garantiria seu cumprimento.

Quem é a Pedra?

Vamos olhar de perto o versículo-chave: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja" (Mt 16,18). As discussões em torno desse versículo giram em torno do significado da palavra "pedra". A quem ou a que ela se refere? Já que o novo nome de Simão significa literalmente "rocha", a frase poderia ser reescrita assim: "Tu és Rocha, e sobre esta rocha edificarei a minha Igreja." O jogo de palavras é evidente, mas comentaristas que não aceitam as implicações desse texto — especialmente a instituição do papado — sugerem que a "rocha" se refere não a Pedro, mas à sua profissão de fé ou a Cristo.

Gramaticalmente, porém, a expressão "esta pedra" remete ao substantivo mais próximo — no caso, Pedro. A confissão de fé ("Tu és o Cristo...") está dois versículos antes, enquanto o nome "Pedro" aparece logo antes da expressão "esta pedra".

Uma outra alternativa

Alguns alegam que a rocha seria Cristo, como em 1Cor 10,4 ("essa rocha era Cristo"), mas ali se trata de uma rocha literal. E, de fato, Jesus é o fundamento principal, invisível, da Igreja, já que voltará ao céu; mas Pedro, designado por Cristo, é o fundamento visível, pois ele e seus sucessores permanecerão na terra. Pedro só pode ser fundamento porque Cristo é a pedra angular (cf. Ef 2,20; 1Pe 2,4-8).

O Novo Testamento apresenta pelo menos cinco metáforas diferentes sobre o fundamento da Igreja (Mt 16,18; 1Cor 3,11; Ef 2,20; 1Pe 2,5-6; Ap 21,14). Não se pode usar uma dessas imagens para contradizer o sentido claro das outras. Todas devem ser respeitadas e harmonizadas. A Igreja pode ter diversos fundamentos, conforme o sentido da metáfora usada.

O original aramaico

Alguns opositores da interpretação católica alegam que, no texto grego, o nome do apóstolo é Petros (pedra pequena), enquanto "rocha" é petra (rocha grande). Se Pedro fosse a rocha firme, por que seu nome não seria Petra?

A resposta é que Jesus não falava grego com os discípulos, mas aramaico — a língua comum da Palestina na época. Em aramaico, a palavra para "pedra" é kepha, usada por Jesus ao dizer: "Tu és Kepha, e sobre esta kepha edificarei a minha Igreja" (cf. Jo 1,42).

Quando o Evangelho de Mateus foi traduzido do original aramaico para o grego, surgiu um problema que não foi enfrentado pelo evangelista quando ele compôs seu primeiro relato da vida de Cristo. Em aramaico, a palavra kepha tem a mesma terminação, quer se refira a uma pedra ou seja usada como nome de um homem. No grego, porém, a palavra para pedra, petra, é de gênero feminino. O tradutor poderia usá-la para a segunda aparição de kepha na frase, mas não para a primeira, pois seria inadequado dar a um homem um nome feminino. Assim, ele colocou uma terminação masculina e, portanto, Pedro se tornou Petros.

Além disso, a premissa do argumento contra Pedro ser a pedra é simplesmente falsa. No grego do primeiro século, as palavras petros e petra eram sinônimos. Elas tinham anteriormente os significados de "pequena pedra" e "grande pedra" em algumas poesias gregas antigas, mas no primeiro século essa distinção desapareceu, como admitem os estudiosos bíblicos protestantes (cf. D. A. Carson, O Comentário de Mateus, Shedd Publicações, 2011).

Parte do efeito do jogo de palavras de Cristo se perdeu quando sua declaração foi traduzida do aramaico para o grego, mas isso foi o melhor que se pôde fazer em grego. Em português, assim como em aramaico, não há problema com as terminações; portanto, uma tradução em português poderia ser: "Tu és a Rocha, e sobre essa rocha edificarei a minha Igreja".

Considere outro ponto: Se a rocha realmente se referia a Cristo (como alguns afirmam, com base em 1 Coríntios 10,4, "e a Rocha era Cristo", embora a rocha ali fosse uma rocha literal e física), por que Mateus deixou a passagem como estava? No original aramaico, e no português, que é um paralelo mais próximo do que o grego, a passagem é suficientemente clara. Mateus deve ter percebido que seus leitores concluiriam o óbvio a partir de "Pedro ... pedra".

Se a pedra fosse Cristo, como alguns dizem, por que Mateus não o deixou claro? Se a frase causava confusão, por que esperar que Paulo escrevesse um texto esclarecendo? Isso só faria sentido se 1Coríntios fosse posterior a Mateus — o que não é certo.

A razão, é claro, é que Mateus sabia muito bem que o que a frase parecia dizer era exatamente o que ela realmente estava dizendo. Foi Simão, fraco como era, que foi escolhido para se tornar a pedra e, portanto, o primeiro elo na cadeia do papado.


NIHIL OBSTAT: Concluí que os materiais apresentados nesta obra estão livres de erros doutrinários ou morais. Bernadeane Carr, STL, Censor Librorum, 10 de agosto de 2004

IMPRIMATUR: De acordo com o CIC 827 de 1983, a permissão para publicar este trabalho é concedida. +Robert H. Brom, Bispo de San Diego, 10 de agosto de 2004


Original em inglês: Catholic Answers