Onde A Bíblia Fala Sobre O Pecado Mortal?

03/08/2025

A Igreja Católica ensina que existem dois tipos de pecado: venial e mortal. Enquanto o pecado venial ofende e fere a caridade na alma, o pecado mortal a destrói. O pecado mortal ocorre quando um ato gravemente mau é escolhido com pleno conhecimento e liberdade. O Catecismo define-o como "infração grave à Lei de Deus" que "desvia o homem de Deus, que é o seu último fim, a sua bem-aventurança" (CIC 1855). O Catecismo continua explicando que a consequência de um pecado mortal não arrependido é a exclusão do Reino de Deus. Mas onde é que esta doutrina aparece nas Escrituras?

O Pecado que é Mortal

A distinção entre pecado venial e mortal baseia-se na ideia bíblica de gradações do pecado. De fato, a Sagrada Escritura ensina claramente que alguns pecados são piores do que outros. Aqui estão alguns exemplos:

Aquele, portanto, que violar um só desses menores mandamentos e ensinar os homens a fazerem o mesmo, será chamado o menor no Reino dos Céus. … Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; aquele que matar terá de responder no tribunal. Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encolerizar contra seu irmão, terá de responder no tribunal; aquele que chamar ao seu irmão 'Cretino!' estará sujeito ao julgamento do Sinédrio; aquele que lhe chamar 'Louco' terá de responder na geena de fogo (Mt 5, 19,21-22).

Aquele servo que conheceu a vontade de seu senhor, mas não se preparou e não agiu conforme sua vontade, será açoitado muitas vezes. Todavia, aquele que não a conheceu e tiver feito coisas dignas de chicotadas, será açoitado poucas vezes. Àquele a quem muito se deu, muito será pedido, e a quem muito se houver confiado, mais será reclamado (Lucas 12, 47-48).

Nessas passagens, Jesus faz uma distinção entre pecados menores e maiores. Alguns pecados merecem "julgamento", enquanto outros merecem "o geena do fogo"; alguns pecados merecem ser açoitados "poucas vezes", enquanto outros merecem ser açoitados "muitas vezes".

O ensinamento de Nosso Senhor sobre os diferentes níveis de pecado é repetido em 1 João, que fornece a estrutura para o que a Igreja Católica ensina hoje sobre o pecado mortal:

Se alguém vê seu irmão cometer um pecado que não conduz à morte, que ele ore e Deus dará a vida a este irmão, se, de fato, o pecado cometido não conduz à morte. Existe um pecado que conduz à morte, mas não é a respeito deste que eu digo que se ore. Toda iniqüidade é pecado, mas há um pecado que não conduz à morte (1ª João 5,16-17).

Aqui, o autor sagrado distingue claramente entre "pecado que conduz à morte" (ou seja, pecado mortal) e "pecado que não conduz à morte" (ou seja, pecado venial). Portanto, a doutrina católica sobre o pecado mortal está firmemente fundamentada na Sagrada Escritura.

As Consequências do Pecado Mortal

Uma das razões pelas quais os protestantes muitas vezes consideram a doutrina bíblica do pecado mortal incômoda é que ela implica que mesmo um cristão batizado pode perder sua salvação ao cometer um pecado grave. No entanto, é importante reconhecer que isso é precisamente o que a Bíblia ensina. Considere as palavras que Deus profere por meio do profeta Ezequiel:

A justiça do justo não o libertará no dia em que cometer transgressão, e a impiedade do ímpio não o arruinará no dia em que se converter da sua impiedade. Assim o justo não poderá viver pela sua justiça no dia em que pecar. Se eu A disser ao justo: "Tu viverás", mas ele, confiado em sua justiça, praticar o mal, toda a sua justiça não será lembrada, e ele morrerá pela maldade que praticou (Ez 33,12-13).

Ezequiel deixa bem claro que o homem justo ainda é capaz do tipo de transgressão que leva à morte espiritual. Também vale a pena notar que o próprio Jesus vê o cumprimento dos mandamentos mais importantes como essencial para entrar na vida eterna:

Respondeu: "Por que me perguntas sobre o que é bom? O Bom é um só. Mas se queres entrar para a Vida, guarda os mandamentos". Ele perguntou-lhe: "Quais?" Jesus respondeu: "Estes: Não matarás, não adulterarás, não roubarás, não levantarás falso testemunho; honra pai e mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Mt 19, 17-19).

As palavras de Jesus sugerem que violar um mandamento como "Não matarás" ou "Não cometerás adultério" impedirá uma pessoa de ir para o céu se ela não se arrepender desse pecado. Essa linha de pensamento é repetida por São Paulo, que lembra repetidamente aos seus ouvintes cristãos que, se eles recaírem em pecado mortal, não entrarão no Reino de Deus:

Então não sabeis que os injustos não herdarão o Reino de Deus? Não vos iludais! Nem os impudicos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os depravados, 10nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os injuriosos herdarão o Reino de Deus (1Cor 6,9-10).

Ora, as obras da carne são manifestas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçaria, ódio, rixas, ciúmes, ira, discussões, discórdia, divisões, invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos previno, como já vos preveni: os que tais coisas praticam não herdarão o Reino de Deus (Gl 5,19-21).

Fornicação e qualquer impureza ou avareza nem sequer se nomeiem entre vós, como convém a santos. Nem ditos indecentes, picantes ou maliciosos, que não convém, mas antes ações de graças. Pois é bom que saibais que nenhum fornicário ou impuro ou avarento — que é um idólatra — tem herança no Reino de Cristo e de Deus (Ef 5,3-5).

Não há dúvida na mente de Paulo de que o dom da liberdade humana é tal que temos o poder de virar decisivamente as costas a Deus, mesmo após o nosso batismo. Vemos esse mesmo ponto sendo enfatizado em toda a Escritura, inclusive na Parábola do Joio, que nos adverte que não podemos presumir nossa própria salvação. Em vez disso, precisamos fazer de toda a nossa vida um processo de conversão contínua, pelo qual aprofundamos continuamente nossa determinação de nos afastar do pecado e nos comprometermos novamente com Cristo.

O Pecado Mortal e a Misericórdia de Deus

Vimos como a Bíblia ensina claramente a realidade do pecado mortal e nos adverte a todos — incluindo os cristãos comprometidos — sobre seus perigos. No entanto, a Bíblia também afirma em alto e bom som o amor extravagante de um Deus que morreu por nós enquanto ainda éramos pecadores (ver Rm 5,8). Este é o mesmo Deus que "quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade" (1Tm 2,4) e que se esvazia a si mesmo por amor aos seus filhos, "não quer que ninguém se perca, mas que todos venham a converter-se" (2Pd 3,9).

Se esses versículos nos dizem alguma coisa, é que Deus deseja nossa salvação muito mais do que nós. Portanto, podemos ter certeza de que ninguém é condenado por acidente. Como a Parábola das Bodas revela lindamente, a oferta de salvação de Deus se estende a todas as pessoas, mesmo às que não merecem. Ao mesmo tempo, a parábola nos adverte a evitar a atitude presunçosa do convidado que aparece na festa celestial recusando-se a usar a vestimenta apropriada. Esse convidado exigiu que o código de vestimenta fosse conforme seus próprios padrões e desejos e, como resultado, foi lançado nas trevas exteriores.

A Parábola das Bodas oferece um lembrete sério de que, apenas por termos recebido um convite para o casamento, nosso lugar à mesa ainda não está garantido; por meio de nosso egocentrismo, podemos perder o convite que nos foi dado. Nosso único recurso, portanto, é nos lançarmos à misericórdia do Noivo e rezarmos sinceramente pela graça da perseverança final, que nos permitirá permanecer fiéis a Ele até o fim (ver Hb 10,19-39).

Autor: Clement Harrold

Original em inglês: St. Paul Center