O Que Você Não Sabe Sobre A Consciência

A consciência não é apenas um conjunto de emoções, uma espécie de "sentimento ruim por fazer algo errado". A consciência é mais do que arrependimento.
Para entender o que a Igreja Católica ensina sobre a importância da consciência, é importante saber o que realmente é a "consciência", pois o termo é frequentemente usado na cultura popular de maneiras imprecisas e enganosas.
Uma maneira de interpretarmos erroneamente a consciência é considerá-la um conjunto de emoções, reduzindo-a a "sentir-se bem por fazer a coisa certa" ou (especialmente) "sentir-se mal por fazer a coisa errada". Por exemplo, tornou-se comum dizer que os psicopatas "não têm consciência", mas isso não é verdade. Eles podem não ter empatia, emoção ou remorso por suas ações, mas o que não lhes falta é consciência, quando bem entendida. A consciência pode fazer com que você se arrependa de algo, mas "consciência" e "arrependimento" não são a mesma coisa.
O que há de errado nisso? Como explica o Catecismo, "a consciência moral é um juízo da razão, pelo qual a pessoa humana reconhece a qualidade moral de um ato concreto que vai praticar, que está prestes a executar ou que já realizou" (1778). O Catecismo continua com uma citação de São John Henry Newman, que descreve a consciência como "uma lei do nosso espírito". Ou seja, a consciência não é principalmente uma questão de sentimentos; trata-se, antes, de formar julgamentos adequados sobre a moralidade (ou imoralidade) de uma determinada linha de ação.
A consciência tem uma função tripla. Ela "compreende a percepção dos princípios da moralidade", "sua aplicação em determinadas circunstâncias por meio de um discernimento prático das razões e dos bens" e, finalmente, "o juízo emitido sobre os actos concretos a praticar ou já praticados" (CIC 1780). Assim, a consciência lhe diz (1) que não se deve roubar; (2) que levar o cortador de grama do seu vizinho é roubar e, portanto, errado; e (3) que deve sentir-se culpado por ter levado o cortador de grama do seu vizinho.
O Cardeal Joseph Ratzinger, baseando-se em filósofos desde Platão a Tomás de Aquino, descreve esse primeiro nível da consciência como "algo como uma memória original do bem e do verdadeiro", dizendo que encontramos uma "tendência dentro do homem, criado à semelhança de Deus, em direção ao divino. Desde sua origem, o ser humano ecoa algumas coisas e se choca com outras". O professor J. Budziszewski chama isso de "verdades que não conseguimos deixar de saber". É por isso que um não-cristão, e mesmo um não-fiel, não pode escapar da percepção de que coisas como roubo e assassinato são males... mesmo que não possa explicar por que ele sabe dessas coisas. C.S. Lewis chama isso de "intuições morais básicas" e diz: "Se pode haver uma diferença de opinião que não revele uma das partes como um idiota moral, então não é uma intuição". Esses são os blocos de construção mais básicos da moralidade. Eles não são discutíveis porque não há princípios mais básicos do que esses para se referir.
O segundo nível de consciência aplica esses princípios gerais. Budziszewski explica:
"Num certo estágio do desenvolvimento mental, quando o professor diz: 'Joãozinho, dois mais dois são quatro', Joãozinho pode ver por si mesmo que dois mais dois são quatro; de outro modo, as palavras seriam para ele destituídas de sentido. Num certo estágio do desenvolvimento, quando a mãe diz: 'Joãozinho! Pare de puxar o cabelo de sua irmã! Como você se sentiria se alguém puxasse o seu cabelo?', Joãozinho pode ver por si mesmo que não deve tratar outra pessoa de modo como não gostaria de ser tratado; de outro modo, a ordem lhe pareceria arbitrária. Tal conhecimento não pode ser simplesmente injetado de fora; é necessário que haja solo, ou a semente não poderá lançar raízes" (1).
Nessa segunda etapa, a consciência toma os princípios morais básicos (por exemplo: 'não devo fazer o mal') e os aplica a situações concretas (por exemplo: 'se eu não gostaria que puxassem meu cabelo, provavelmente é errado puxar o cabelo da minha irmã').
Isso conduz ao terceiro papel da consciência: formar um juízo sobre o ato concreto (por exemplo: 'puxar o cabelo da minha irmã é um mal, portanto não devo fazê-lo'). É nesse ponto que a consciência se relaciona com emoções como o arrependimento — e é por isso que se fala em 'remorso de consciência'. Mas não se trata apenas de arrependimento: aqui a consciência também pode 'advertir', 'aconselhar', 'impulsionar' ou 'proibir' em relação a ações que ainda não realizamos, ou, se já as começamos, pode 'reexaminar o juízo sobre a ação, intervir, impedir sua execução' ou levar-nos a reconsiderar.
Por meio desses três papéis, 'a consciência é o modo pelo qual o conhecimento moral torna-se novamente imediatamente prático'. Ou seja, a consciência utiliza esses três passos para passar de 'faça o bem e evite o mal' a 'faça este bem e evite este mal'. E é sobre a consciência entendida desse modo que a Igreja tem algo surpreendente a dizer: é que embora a consciência seja uma guia moral interna, ela não é infalível por si mesma. A Igreja ensina que a consciência deve ser formada à luz da razão iluminada pela fé, ou seja, deve ser educada e alinhada com os ensinamentos da Igreja para que possa discernir corretamente o bem do mal. Isso implica que ações baseadas em uma consciência mal formada ou errônea podem ser moralmente erradas, mesmo que a pessoa acredite sinceramente estar fazendo o bem.
Portanto, a Igreja não endossa a ideia de que simplesmente seguir a própria consciência é suficiente para garantir que uma ação seja moralmente correta. Ela enfatiza a necessidade de uma consciência bem formada, que leva em consideração os ensinamentos da Igreja e a razão moral, para tomar decisões éticas verdadeiramente justas.
Baseado no original em inglês: Catholic Answers
Nota:
(1) J. BUDZISZEWSKI, The Same as to Knowledge [O mesmo quanto ao conhecimento], in: C. WOLFE; S. BRUST (orgs.), Natural Law Today: The Present State of the Perennial Philosophy [A Lei Natural Hoje: O Estado Atual da Filosofia Perene]. Washington, D.C.: The Catholic University of America Press, 2018, p. 55.