O Que É Esperança E Qual É A Diferença Entre Ela E A Fé?

A esperança é certamente a mais negligenciada das virtudes teológicas. Menos intuitiva do que suas duas irmãs, a fé e a caridade, ela pode ser difícil de definir e fácil de ignorar. Para piorar a situação, a relação entre esperança e fé costuma ser uma fonte de confusão. Afinal, se a fé já nos dá a certeza de que Deus é real e de que Seu plano é bom, então qual é o papel que a esperança deve desempenhar na vida cristã? O que torna a esperança distinta?
Ao responder a essas perguntas, vale a pena reconhecer desde o início que a fé e a esperança são virtudes intimamente ligadas. De fato, a fé é a base da esperança, e a última não pode existir sem a primeira. Em sua Encíclica Spe salvi de 2007, por exemplo, o Papa Bento XVI falou sobre "a atual crise da fé que, concretamente, é sobretudo uma crise da esperança cristã" (§17). Em outras palavras, a perda de fé da modernidade é também uma perda de esperança. Ao mesmo tempo, é importante reconhecer que São Paulo nos dá três virtudes teológicas por uma razão; portanto, embora a fé e a esperança possam estar relacionadas, sabemos que elas não são a mesma coisa (ver 1 Cor 13:13).
Quando se trata de definir esperança, é importante distinguir entre esperança como uma paixão (ou emoção) e esperança como uma virtude teológica. Como seres humanos, falamos o tempo todo sobre esperar por este ou aquele resultado - melhor tempo, uma recuperação rápida, um aumento de salário e assim por diante. A esperança, nesse sentido rudimentar, é moralmente neutra. É uma paixão dentro da alma que pode ser orientada tanto para fins bons quanto ruins; alguém pode esperar uma coisa boa, como a cura de um amigo, ou uma coisa ruim, como um procedimento de aborto bem-sucedido.
Fora de uma perspectiva teológica, portanto, não há razão para considerar a esperança como uma virtude. É apenas a sobrenaturalização da esperança, como explica o filósofo Josef Pieper, que a torna uma disposição habitual para o bem. Colocada em uma estrutura teológica, a esperança transcende as paixões e é transformada em uma virtude de proporções sobrenaturais; ela agora brilha como um componente essencial no enobrecimento e aperfeiçoamento da natureza do homem, permitindo que ele alcance alturas de autorrealização que excedem em muito suas próprias habilidades naturais. O Catecismo da Igreja Católica o define desta forma:
A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos o Reino dos céus e a vida eterna como nossa felicidade, pondo toda a nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos, não nas nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo. (§1817)
Entendida corretamente, a esperança cristã é um dom de Deus que promove em nós um desejo profundo e apropriado por Ele e nos alimenta em nossa jornada em direção a Ele.
Nesse sentido, St. Tomás de Aquino esclarece que o objeto da esperança (ou seja, a bem-aventurança eterna no céu) é algo árduo, mas possível de ser obtido. Essa é uma perspectiva importante que ajuda a diferenciar a esperança do mero otimismo. O otimismo espera que tudo corra bem. A esperança, por outro lado, geralmente nasce do sofrimento (ver Rm 5:3-5). A esperança compreende que muitas dificuldades intensas e provações severas ainda podem se interpor entre nós e o céu, mas ela nos dá a confiança de que até mesmo essas dificuldades podem ser superadas se nos apegarmos a Cristo. Como o Catecismo explica, a esperança "protege contra o desânimo; sustenta no abatimento; dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna" (§1818).
A esperança é, portanto, parte integrante da vida cristã, porque sem esperança estamos condenados a vacilar e fracassar em nossa jornada de peregrinação. A esperança teológica protege a alma contra o pecado da presunção, bem como contra o pecado oposto e ainda maior do desespero. De acordo com Pieper, a esperança faz isso cultivando tanto a magnanimidade quanto a humildade na alma. Essas qualidades aparentemente contraditórias, de fato, trabalham juntas para instilar uma confiança espiritual no coração do cristão.
Mesmo quando o mundo parece cada vez mais maligno e a Igreja parece estar repleta de corrupção, nossa esperança nos dá a certeza de que Deus está no controle, que as trevas não prevalecerão e que nossa salvação ainda está garantida, desde que permaneçamos fiéis a Ele. A esperança é magnânima o suficiente para acreditar no poder da graça divina, mas humilde o suficiente para continuar a orar por ela. Nessa visão cristã cheia de esperança, os sofrimentos de nossa vida atual tornam-se não apenas toleráveis, mas redentores: "[o sofrimento – sem deixar de o ser – torna-se, apesar de tudo, canto de louvor" (Spe salvi §37).
Mas como essa esperança é diferente da fé? Mais uma vez, devemos nos lembrar de que a fé e a esperança estão profundamente entrelaçadas, mas não são idênticas. Enquanto a fé nos atrai para a verdade de Deus, é a esperança que nos impulsiona em direção à Sua bondade. A esperança cristã está enraizada no reconhecimento de que nossas vontades precisam de cura, assim como nossos intelectos. Assim, o antigo filósofo grego Platão estava errado quando afirmou que todo vício pode ser reduzido à ignorância.
Muitas vezes na vida sabemos que algo está errado, mas fazemos isso mesmo assim. Uma coisa é saber que uma dieta melhor e mais exercícios melhorariam nossa qualidade de vida, por exemplo, mas outra coisa é reunir a coragem e a determinação para realmente dar o difícil passo de levar um estilo de vida mais saudável. Muitas vezes acontece que, mesmo quando nosso intelecto está bem formado, nossa vontade continua desesperadamente fraca.
Se a fé é uma transfusão de sangue divina para nosso intelecto, então a esperança é o mesmo para nossa vontade. Sem esperança, nossa fé corre o risco de se tornar estéril, inanimada, sem vida e desanimada. A fé sem esperança é uma fé exposta e em perigo. De fato, a fé sem esperança é exatamente o tipo de fé sem vida sobre a qual São Tiago adverte: "Assim também a fé, se não tiver obras, está morta em seu isolamento" (Tg 2:17).
Quando nossa fé é desprovida de esperança, inevitavelmente caímos na presunção ou no desespero e, por fim, perdemos totalmente a fé. A esperança é, portanto, essencial para sustentar a vida do cristão, capacitando-nos a (na frase de Tomás) "apoiar-nos" na ajuda de Deus e permitir que Ele nos guie pelo vale escuro. Sim, a fé é o alicerce das virtudes teológicas, mas é a esperança que é a "âncora da alma, segura e firme" (Hb 6:19).
Ninguém pode negar que o mundo de hoje está passando por uma profunda crise de esperança. Assim como a esperança era a marca distintiva dos primeiros cristãos em um cenário pagão de desespero cósmico, hoje precisamos restabelecer o papel central dessa virtude em nossas vidas. Nesse ponto, encontramos incentivo em St. Tomás de Aquino, que nos lembra que a esperança cristã nunca é um caso isolado. Devemos esperar pela salvação de nossos irmãos, com os quais estamos unidos na caridade, e também devemos ter esperança na intercessão dos santos, que servem como instrumentos escolhidos por Deus para nos guiar à nossa pátria no céu.
Nesse aspecto, não encontramos maior intercessora do que Nossa Senhora. No mar tempestuoso da vida, ela é "nossa vida, nossa doçura e nossa esperança". Em nossos momentos mais sombrios, devemos nos lembrar de que a Mãe Maria está conosco em todas as nossas provações, uma fonte constante de encorajamento, guiando-nos continuamente em direção à presença curadora de seu divino Filho.
Autor: Clement Harrold
Original em inglês: St. Paul Center