O Que A Igreja Primitiva Acreditava: Sucessão Apostólica

25/05/2025

Os primeiros cristãos não tinham dúvidas sobre como identificar qual era a verdadeira Igreja e quais doutrinas representavam os verdadeiros ensinamentos de Cristo. O critério era simples: bastava verificar a sucessão apostólica dos que faziam tal reivindicação.

A sucessão apostólica é a linha de bispos que remonta aos apóstolos. Em todo o mundo, todos os bispos católicos fazem parte de uma linhagem que vai até a época dos apóstolos — algo que é impossível entre as denominações protestantes (a maioria das quais nem sequer afirma ter bispos).

O papel da sucessão apostólica na preservação da verdadeira doutrina é ilustrado na Bíblia. Para garantir que os ensinamentos dos apóstolos fossem transmitidos após sua morte, Paulo disse a Timóteo: "O que de mim ouviste em presença de muitas testemunhas, confia-o a homens fiéis que, por sua vez, sejam capazes de instruir a ou­tros" (2Tm 2,2). Neste versículo, ele se refere às três primeiras gerações da sucessão apostólica: a dele próprio, a de Timóteo e a geração que Timóteo ensinaria.

Os Padres da Igreja — que faziam parte dessa corrente de sucessão — recorriam frequentemente à sucessão apostólica como critério para discernir se eram os católicos ou os hereges que possuíam a doutrina correta. Isso era necessário porque os hereges frequentemente davam às Escrituras suas próprias interpretações, às vezes absurdas. Ficava claro, então, que algo além das Escrituras precisava ser usado como critério final de doutrina nesses casos.

Assim, o historiador da Igreja Primitiva J. N. D. Kelly, que era protestante, escreve: "Na prática, porém, onde se acharia esse testemunho ou tradição apostólica? … A resposta mais óbvia era que os apóstolos o haviam confiado oralmente à igreja, onde ele vinha sendo transmitido de geração em geração. … Ao contrário da suposta tradição secreta dos gnósticos, esse testemunho era totalmente público e aberto, tendo sido confiado pelos apóstolos a seus sucessores, que, por sua vez, transmitiram-no àqueles que os seguiam, sendo visível na igreja para todos os que se preocupassem em procurá-lo" (Doutrinas Centrais da fé Cristã, p. 27).

Para os primeiros Padres da Igreja, "a identificação da tradição oral com a revelação original é garantida pela sucessão ininterrupta de bispos nas grandes sés, remontando diretamente aos apóstolos. [...] uma salvaguarda adicional é dada pelo Espírito Santo, pois a mensagem foi confiada à igreja, e a igreja é o lar do Espírito. De fato, em seu ponto de vista, os bispos da igreja são homens dotados do Espírito Santo, aos quais foi confiado "um dom infalível da verdade'" (ibid.).

A seguir, estão alguns exemplos do que escritores cristãos antigos disseram sobre a sucessão apostólica:

Papa Clemente I

"Pregavam [os apóstolos] pelos campos e cidades, e aí produziam suas primícias, provando-as pelo Espírito, a fim de instituir com elas bispos e diáconos dos futuros fiéis. Isso não era algo novo: desde há muito tempo, a Escritura falava dos bispos e dos diáconos. Com efeito, em algum lugar está escrito: "Estabelecerei seus bispos na justiça e seus diáconos na fé" (Carta aos Coríntios 42,4–5; 44,1–3 [80 d.C.]).

Hegésipo

"E chegado a Roma, fiz-me uma sucessão até Aniceto, cujo diácono era Eleutério. A Aniceto sucedeu Sotero, e a este, Eleutério. Em cada sucessão e em cada cidade as coisas estão tal como pregam a lei, os profetas e o Senhor" (Memórias, citado por Eusébio, História Eclesiástica 4,22 [180 d.C.]).

Irineu

"Portanto, a tradição dos apóstolos, que foi manifestada no mundo inteiro, pode ser descoberta em toda Igreja por todos os que queiram ver a verdade. Poderíamos enumerar aqui os bispos que foram estabelecidos nas Igrejas pelos apóstolos e os seus sucessores até nós; e eles nunca ensinaram nem conheceram nada que se parecesse com o que essa gente vai delirando." (Contra as Heresias 3,3,1 [c. 189 d.C.]).

"Mas visto que seria coisa bastante longa elencar, numa obra como esta, as sucessões de todas as igrejas, limitar-nos-emos à maior e mais antiga e conhecida por todos, à igreja fundada e constituída em Roma, pelos dois gloriosíssimos apóstolos, Pedro e Paulo, e, indicando a sua tradição recebida dos apóstolos e a fé anunciada aos homens, que chegou até nós pelas sucessões dos bispos, refutaremos todos os que de alguma forma, quer por enfatuação ou vanglória, quer por cegueira ou por doutrina errada, se reúnem prescindindo de qualquer legitimidade. Com efeito, deve necessariamente estar de acordo com ela, por causa da sua origem mais excelente, toda a igreja, isto é, os fiéis de todos os lugares, porque nela sempre foi conservada, de maneira especial, a tradição que deriva dos apóstolos" (ibid. 3,3,2).

"Podemos ainda lembrar Policarpo, que não somente foi discípulo dos apóstolos e viveu familiarmente com muitos dos que tinham visto o Senhor, mas que, pelos próprios apóstolos, foi estabelecido bispo na Ásia, na Igreja de Esmirna. Nós o vimos na nossa infância, porque teve vida longa e era muito velho quando morreu com glorioso e esplêndido martírio. Ora, ele sempre ensinou o que tinha aprendido dos apóstolos, que também a Igreja transmite e que é a única verdade. E é disso que dão testemunho todas as Igrejas da Ásia e os que até hoje sucederam a Policarpo," (ibid. 3,3,4).

"Eis por que se devem escutar os presbíteros que estão na igreja, que são os sucessores dos apóstolos, como o demonstramos, e que com a sucessão no episcopado receberam o carisma seguro da verdade segundo o beneplácito do Pai. Quanto a todos os outros que se separam da sucessão principal e em qualquer lugar que se reúnam, devem ser vistos com desconfiança, como hereges e de má fé, como cismáticos cheios de orgulho e de suficiência, ou ainda, como hipócritas que fazem isso à procura de lucro e de vanglória. Todos eles se afastaram da verdade" (ibid. 4,26,2).

"A verdadeira gnose é a doutrina dos apóstolos, é a antiga difusão da Igreja em todo o mundo, é o caráter distintivo do Corpo de Cristo que consiste na sucessão dos bispos aos quais foi confiada a Igreja em qualquer lugar ela esteja" (ibid. 4,33,8).

Tertuliano

"[Os Apóstolos] fundaram Igrejas em cada cidade, das quais todas as demais Igrejas, uma após a outra, receberam a tradição da fé e as sementes da doutrina, e ainda hoje as recebem, para que se tornem Igrejas. De fato, é somente por isso que podem considerar-se apostólicas: por serem filhas das Igrejas apostólicas. Toda realidade deve necessariamente ser referida à sua origem para ser devidamente classificada. Portanto, embora numerosas e grandes, todas as Igrejas constituem uma única Igreja primitiva, [fundada] pelos Apóstolos, da qual todas derivam. Assim, todas são primitivas, todas são apostólicas, pois todas se mostram uma na unidade" (Prescrição contra os Hereges 20 [200 d.C.]).

"O que Cristo revelou aos Apóstolos só pode ser provado de forma adequada por aquelas mesmas Igrejas que os Apóstolos fundaram pessoalmente, ao lhes anunciar diretamente o Evangelho. [...] Se isto é assim, fica evidente que toda doutrina que concorda com as Igrejas apostólicas — moldes e fontes originais da fé — deve ser considerada verdadeira, pois certamente contém o que as Igrejas receberam dos Apóstolos, os Apóstolos de Cristo, e Cristo de Deus. Toda doutrina contrária à verdade das Igrejas e dos Apóstolos de Cristo e de Deus deve ser considerada falsa desde o princípio. Resta, então, demonstrar se esta nossa doutrina, da qual apresentamos a regra, provém da Tradição apostólica, e se todas as demais doutrinas não procedem ipso facto da falsidade" (ibid. 21).

"Se houver alguma [heresia] ousada o bastante para alegar ter origem no tempo dos Apóstolos — para insinuar que foi por eles transmitida simplesmente por existir em sua época — diremos: apresentem os registros de origem de suas igrejas; exibam a lista de seus bispos, remontando em sucessão ordenada até o princípio, de modo que o primeiro de seus bispos possa mostrar ter sido ordenado por um Apóstolo ou por um varão apostólico — alguém que tenha perseverado com os Apóstolos. Pois este é o modo como as Igrejas apostólicas transmitem seus registros: como a Igreja de Esmirna, que atesta ter sido Policarpo ali instituído por São João; e como a Igreja de Roma, que afirma que Clemente foi ordenado por São Pedro" (ibid. 32).

"Mesmo que lograssem compor para si uma lista sucessória, nada adiantariam. Pois sua própria doutrina, uma vez comparada com a dos Apóstolos — tal como se encontra nas outras Igrejas — evidenciaria, por sua diversidade e contradição, que seu autor não foi um Apóstolo nem um varão apostólico. Com efeito, os Apóstolos jamais ensinariam doutrinas contraditórias entre si" (ibid.).

"Convoquem-se, pois, todas as heresias diante destes dois critérios propostos por nossa Igreja Apostólica, e que apresentem prova de sua suposta apostolicidade. Mas na verdade não o são, nem podem demonstrar o que não são. Também não são admitidas em comunhão nem mantêm relações pacíficas com as Igrejas que têm qualquer ligação com os Apóstolos, visto que, em nada, são apostólicas, dada sua divergência em relação aos mistérios da fé" (ibid.).

Cipriano de Cartago

"A Igreja, de fato, é uma só: e a que é uma só não pode estar dentro e fora ao mesmo tempo. Se, então, está com Novaciano, não esteve com Cornélio. Se, porém, esteve com Cornélio, que sucedeu ao bispo Fabiano mediante uma legítima ordenação e que o Senhor glorificou, além da dignidade sacerdotal, também com o martírio, Novaciano não está na Igreja, nem se pode considerar um bispo quem, desprezando a tradição evangélica e apostólica e não sucedendo a quem quer que fosse, de si mesmo nasceu. Não pode, por isso, ter a Igreja ou regê-la de modo algum quem não foi ordenado na Igreja"(Epístolas 69,3 [253 d.C.]).

Agostinho

Há muitas outras coisas que muito justamente me mantêm em seu seio. O consentimento dos povos e nações me mantém na Igreja; o mesmo acontece com sua autoridade, inaugurada por milagres, nutrida pela esperança, ampliada pelo amor, estabelecida pela idade. A sucessão de sacerdotes me mantém, desde a própria residência do apóstolo Pedro, a quem o Senhor, depois da suaressurreição, encarregou-se de apascentar as suas ovelhas, até ao presente episcopado"(Contra a Epístola Fundamental de Maniqueu, 4,5 [397 d.C.]).


NIHIL OBSTAT: Concluí que os materiais apresentados nesta obra estão livres de erros doutrinários ou morais. Bernadeane Carr, STL, Censor Librorum, 10 de agosto de 2004

IMPRIMATUR: De acordo com o CIC 827 de 1983, a permissão para publicar este trabalho é concedida.+Robert H. Brom, Bispo de San Diego, 10 de agosto de 2004


Original em inglês: Catholic Answers