O Que A Bíblia Diz Sobre Esperança Em Tempos Difíceis?

A Sagrada Escritura está repleta de sabedoria e consolação para as pessoas que estão passando por momentos difíceis. Sem minimizar as dificuldades da vida, a Bíblia oferece uma mensagem retumbante de esperança com suas "Boas Novas" sobre um Deus que entra em nosso sofrimento e o transforma a partir de dentro. Mesmo em nossos momentos mais sombrios, as Escrituras nos asseguram que nossos sofrimentos atuais são apenas passageiros e que Deus está sempre perto de nós.
O Significado da Esperança
A Bíblia deixa bem claro que a esperança cristã flui de nosso relacionamento com Deus: "Colocamos a nossa esperança no Deus vivo " (1Tm 4,10). De fato, o cristão pode ter esperança mesmo nos momentos mais difíceis, porque sabe que Deus é bom e é digno de confiança: "Continuemos a afirmar a nossa esperança, porque é fiel quem fez a promessa. " (Hb 10,23). De uma perspectiva bíblica, a esperança é um dom dado a nós por Deus e direciona nosso coração de volta a Ele:
Só em Deus, ó minha alma, repousa, dele vem a minha esperança; só ele é minha rocha, minha salvação, minha fortaleza, — jamais vacilarei!
Em Deus está minha salvação e minha glória, em Deus está o meu forte rochedo. Em Deus está o meu abrigo". - Salmo 62(61),6-8
Ao mesmo tempo, a Bíblia deixa claro que a esperança é diferente do mero otimismo. Enquanto o otimismo espera que tudo corra bem, a esperança geralmente nasce do sofrimento (mais sobre isso abaixo). De fato, Santo Tomás de Aquino argumentou que o objeto da esperança - a bem-aventurança eterna no céu - é algo árduo, mas possível de ser obtido. É esse aspecto realista e corajoso da esperança que permite que ela seja uma "âncora da alma, segura e firme" (Hb 6,19).
A esperança reconhece que muitas dificuldades intensas e provações severas ainda podem se interpor entre nós e o céu, mas ela nos dá a confiança de que até mesmo essas dificuldades podem ser superadas se nos apegarmos a Cristo. Como explica o Catecismo da Igreja Católica, a esperança "protege contra o desânimo; sustenta no abatimento; dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna" (Catecismo da Igreja Católica §1818).
Refinado pelo Sofrimento
Algo que a Bíblia enfatiza repetidamente é a conexão íntima entre esperança e sofrimento. É principalmente o sofrimento que cultiva a esperança na alma do cristão, e é a esperança que lhe dá forças para enfrentar suas provações com a paz e a alegria do Evangelho.
De um ponto de vista bíblico, os "tempos difíceis" não são, portanto, a antítese da esperança, mas sim o contexto para ela. Como São Paulo exclama em uma passagem famosa:
"Não só isso, mas nos gloriamos até das tribulações. Pois sabemos que a tribulação produz a paciência, a paciência prova a fidelidade e a fidelidade, comprovada, produz a esperança. E a esperança não engana. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Rm 5,3-5).
Essa proposta radical nos lembra que a esperança que recebemos por meio das dificuldades é motivo de alegria. Como cristãos, sabemos que, mesmo agora, essa esperança está purificando nossos desejos e elevando nossos olhos para o céu: "E todo aquele que nele tem essa esperança torna-se puro, como ele é puro" (1 João 3,3). É essa esperança sobrenatural que nos permite orar sem medo de sermos decepcionados: "Que teu amor esteja sobre nós, assim como está em ti nossa esperança!" (Salmo 33:22).
Lições dos Santos
Uma das grandes lições que aprendemos com a vida dos santos é que a esperança "exprime-se e nutre-se na oração" (Catecismo da Igreja Católica §1820). Santo Agostinho, por exemplo, descreveu a oração como um exercício de desejo, que expande nosso coração e nos torna receptivos a uma esperança mais profunda e duradoura (ver Spe salvi §33).
Outro santo que teve ampla oportunidade de refletir sobre o significado da esperança cristã foi o convertido e cardeal inglês, John Henry Newman. Apesar de seus dons extraordinários, a vida de Newman foi descrita por um de seus biógrafos como "uma história de fracassos". Outro o chamou de santo padroeiro dos desapontados! Newman experimentou mais do que seu quinhão de contratempos nesta vida, mas isso não lhe roubou a esperança em Cristo.
Em uma passagem particularmente marcante, Newman oferece incentivo para aqueles de nós que se sentem sobrecarregados pelo mal em nosso mundo e em nossa Igreja:
Mas, na verdade, todo o curso do cristianismo desde o início, quando o examinamos, não passa de uma série de problemas e desordens. Cada século é igual a todos os outros e, para aqueles que nele vivem, parece pior do que todas as épocas anteriores. A Igreja está sempre enferma e se arrasta em fraqueza, "levando sempre no corpo a morte do Senhor Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em seu corpo". A religião parece estar sempre expirando, os cismas são dominantes, a luz da Verdade é fraca, seus adeptos estão dispersos. A causa de Cristo está sempre em sua derradeira agonia, como se fosse apenas uma questão de tempo para que ela venha, por fim, a fracassar neste ou naquele dia dia. Os santos estão sempre quase desaparecendo da Terra, e Cristo está quase chegando; assim, o Dia do Juízo está literalmente sempre à mão; e é nosso dever estar sempre atentos a ele, não desapontados por termos dito tantas vezes "agora é o momento" e que, por fim, ao contrário de nossa expectativa, a Verdade tenha se recuperado de alguma forma. Essa é a vontade de Deus, reunindo Seus eleitos, primeiro um e depois outro, aos poucos, nos intervalos de sol entre uma tempestade e outra, ou arrebatando-os da onda do mal, mesmo quando as águas estão mais furiosas. Os profetas podem muito bem clamar: "Até quando, ó Senhor, chegará o fim dessas maravilhas?" Até quando esse mistério continuará? Por quanto tempo este mundo em extinção será sustentado pelas fracas luzes que lutam pela existência em sua atmosfera insalubre? Somente Deus sabe o dia e a hora em que isso finalmente acontecerá, o que Ele está sempre ameaçando; enquanto isso, muito conforto ganhamos com o que aconteceu até agora - não desanimar, não ficar desanimado, não ficar ansioso com os problemas que nos cercam. Eles sempre existiram; eles sempre existirão; eles são nossa porção. "As enchentes subiram, as enchentes levantaram a sua voz, as enchentes levantaram as suas ondas. As ondas do mar são impetuosas e se enfurecem horrivelmente; mas o Senhor, que habita nas alturas, é mais poderoso" (Lectures on the Prophetical Office of the Church, Lecture 14).
Como Newman percebeu tão claramente, o cristianismo não é estranho a tempos difíceis. No entanto, isso não abala nossa esperança. Embora a escuridão nos envolva por todos os lados, ainda assim sabemos e proclamamos em alto e bom som que "a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la" (João 1,5).
Autor: Clement Harrold
Original em inglês: St. Paul Center