O Natal Tem A Ver Com Duas Grutas
São Paulo foi convertido pelo Cristo ressuscitado, que apareceu como uma luz ofuscante.
Mais tarde, ele encontraria Pedro e Tiago, que haviam visto o verdadeiro corpo ressuscitado, que havia mudado em relação à aparência que tinha durante os três anos em que Cristo esteve com eles.
O corpo do Cristo ressuscitado tinha quatro características. Primeira, ele não podia mais sentir dor. Essa "impassibilidade" foi um triunfo sobre os horrores da Paixão. Segunda, por "sutileza", o corpo não estava mais sujeito às leis da física. Durante sua vida terrena, Cristo teve que bater em portas para entrar, mas na Ressurreição, ele podia aparecer em uma sala mesmo que as portas estivessem trancadas. Terceira, a "agilidade" do corpo de Cristo tinha uma força que o libertava das restrições do movimento e permitia que ele se bilocasse. Quarta, a "claridade" do corpo ressuscitado irradiava um brilho que emanava da inteligência divina: "luz da luz". Isso foi vislumbrado na Transfiguração e foi o que cegou Paulo na estrada de Damasco.
Essas linhas parecem ser uma meditação de Páscoa, mas também são uma meditação de Natal, pois os dois mistérios são inseparáveis. Sem a Ressurreição, a Natividade seria apenas mais um aniversário, pois até mesmo pessoas extraordinárias como Alexandre, o Grande, ou Mozart tiveram nascimentos comuns. Como Cristo é o Verbo Divino que criou todas as coisas, as restrições de sua natureza humana não são menos maravilhosas do que a glória de sua natureza divina.
O bebê de Belém não era impassível: ele tinha fome e chorava como qualquer outro bebê. Sem sutileza, ele foi confinado ao estábulo. Enquanto na Ressurreição sua agilidade podia afastar a mortalha, na manjedoura ele estava preso por faixas. E quanto à clareza, seu corpo infantil podia ser vislumbrado na escuridão apenas por uma frágil luz de lamparina. Como ele não tem começo nem fim, sua glória divina não foi algo que ele alcançou à medida que crescia: ao contrário, foi o que ele permitiu que escurecesse quando entrou no tempo e no espaço. Ele "esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana" (Filipenses 2, 7).
Portanto, o Natal tem a ver com duas grutas: sem o fato da gruta funerária ter sido aberta, o nascimento em um estábulo de pedra seria apenas um devaneio sentimental. O Santo Infante na manjedoura é uma espécie de sugestão gráfica, para nossa inteligência limitada, do indescritível Governante e Juiz do Universo. E as qualidades de Seu Corpo ressuscitado indicavam o que Ele permitiria que nos tornássemos na eternidade.
Aquele mais jovem dos apóstolos escreveu em sua velhice: "Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas o que nós seremos ainda não se manifestou. Sabemos que por ocasião desta manifestação seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é" (1 João 3:2).
Autor: Pe. George W. Rutler
Original em inglês: CERC - Catholic Education Resource Center