O Fim Do Mundo E A Eucaristia

12/07/2025

Na manhã de Páscoa, dois discípulos de Jesus estão a caminho de Jerusalém de volta a Emaús. Eles poderiam ser marido e mulher, mas o texto não diz com certeza. São Lucas nomeia apenas um dos dois: Cléofas. Se eles forem um casal, podem ser os tios de Jesus (Hegésipo, um escritor cristão do século II, faz referência ao "tio do Senhor, Clopas"). Se Cléofas e Cléofas são a mesma pessoa, então sabemos que sua esposa é Maria, uma das mulheres que estavam na Crucificação (João 19,25), e que eles têm filhos chamados Tiago e José (Marcos 15,40), que são mencionados como "irmãos" de Jesus (Marcos 6,3). (Como o hebraico não tinha uma palavra para primos, os primos poderiam ser chamados de "irmãos", assim como Abraão e Ló são chamados de "irmãos" em Gênesis 13,8 e 14,14-16, apesar de serem tio e sobrinho).

Seja qual for o caso, esses dois discípulos estão caminhando os 11,5 quilômetros de Jerusalém até Emaús, "conversavam e discutiam entre si", quando outro viajante se junta a eles (Lucas 24,15). Percebendo a tristeza deles, ele pergunta o que estão discutindo, e eles respondem:

O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, que foi um profeta poderoso em obra e em palavra, diante de Deus e diante de todo o povo: nossos chefes dos sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. Nós esperávamos que fosse ele quem iria redimir Israel; mas, com tudo isso, faz três dias que todas essas coisas aconteceram! É verdade que algumas mulheres, que são dos nossos, nos assustaram. Tendo ido muito cedo ao túmulo e não tendo encontrado o corpo, voltaram dizendo que tinham tido uma visão de anjos a declararem que ele está vivo. Alguns dos nossos foram ao túmulo e encontraram as coisas tais como as mulheres haviam dito; mas não o viram!" (vv. 19-24).

Se Cléofas e Clofas forem a mesma pessoa, sua esposa e provável companheira de caminhada era uma daquelas "outras mulheres" que foram as primeiras testemunhas do túmulo vazio (Lucas 24,10). O outro viajante então responde: "Insensatos e lentos de coração para crer tudo o que os profetas anunciaram! Não era preciso que o Cristo sofresse tudo isso e entrasse em sua glória?" (25-26).

Ao chegarem de volta a Emaús, eles convidam o viajante a se juntar a eles. Lá, enquanto "E, uma vez à mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o, depois partiu-o e distribuiu-o a eles. Então seus olhos se abriram e o reconheceram; ele, porém, ficou invisível diante deles" (vv. 30-31).

É somente aqui que Cléofas e seu companheiro percebem duas coisas. Primeiro, que o viajante que havia se juntado a eles era Jesus (Lucas explica no versículo 16 que "seus olhos, porém, estavam impedidos de reconhecê-lo"). Segundo, que Jesus havia aberto as Escrituras do Antigo Testamento para eles de uma maneira radicalmente nova: "Não ardia o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho, quando nos explicava as Escrituras?" (v. 32). Eles se levantaram imediatamente e fizeram a viagem de 11 quilômetros de volta a Jerusalém, onde contaram aos apóstolos como Jesus foi "reconhecido na fração do pão" (v. 35).

Esse é um detalhe importante que muitas vezes não percebemos. Jesus é a chave para desvendar as escrituras do Antigo Testamento: "E, começando por Moisés e por todos os Profetas, interpretou-lhes em todas as Escrituras o que a ele dizia respeito" (Lucas 24,27). Mas eles percebem quem ele é, e como ele dá sentido às Escrituras, somente quando o reconhecem "na fração do pão".

Essa expressão é eucarística: o "fração do pão" é como Lucas descreve a Eucaristia cristã primitiva (Atos 2,42, 46), e a maneira como ele descreve essa cena se assemelha muito à maneira como ele descreve a Última Ceia. Observe a maneira cuidadosa como Lucas apresenta esse momento: Jesus "tomou o pão", "abençoou-o", "partiu-o" e "distribuiu-o a eles" (v. 30).

Por que Lucas usa quatro verbos para descrever esse momento? Afinal, presumivelmente, ele sabe que nós sabemos comer pão e não está tentando nos assegurar de que eles fizeram suas orações antes de comer.

Não é coincidência o fato de que é exatamente assim que Lucas e os outros evangelistas relatam as ações de Jesus na Última Ceia. Em Lucas: "Tomou em seguida o pão e depois de ter dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: 'Isto é o meu corpo, que é dado por vós'" (22,19). Em Mateus: "Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: 'Tomai e comei, isto é meu corpo'" (26,26). São essas mesmas quatro ações novamente: Jesus toma, abençoa, parte e dá. Jesus se revela e as escrituras são descerradas.

Vemos isso de uma outra forma, mais mística, no livro do Apocalipse. São João vê um rolo "selado com sete selos" na "mão direita do que estava assentado no trono" (5,1). Um "anjo vigoroso" clama em alta voz: "Quem é digno de abrir o livro e desatar os seus selos?" (v. 2). Quando "ninguém, nem no céu, nem na terra, nem debaixo da terra" (v. 3) é capaz de abrir o livro, João começa a chorar. Um dos anciãos celestiais então lhe diz: "Não chores! O Leão da tribo de Judá, o descendente de Davi venceu para abrir o livro e os seus sete selos" (v. 5).

Mas o que João vê em seguida não é um leão; é um cordeiro. Mais especificamente, "vi… um Cordeiro de pé, como que imolado" (v. 6), que então pega o livro, enquanto o céu começa a cantar em coro: "Tu és digno de receber o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste imolado e resgataste para Deus, ao preço de teu sangue, homens de toda tribo, língua, povo e raça; e deles fizeste para nosso Deus um reino de sacerdotes, que reinam sobre a terra" (vv. 9-10).

Há uma tremenda ironia nessa passagem. Esperamos que o "anjo vigoroso" seja capaz de abrir os selos, mas ele não pode; nenhuma criatura pode. E então esperamos que o Filho de Deus seja capaz de abri-los porque ele é o Leão de Judá vencedor. Mas Cristo não aparece com força, mas com humildade: "um Cordeiro de pé, como que imolado". Até mesmo essa imagem é paradoxal: os mortos não são conhecidos por ficarem em pé. É uma imagem de Jesus conquistando por meio de sua mansidão, autossacrifício e morte.

Mas não é apenas uma imagem de Cristo crucificado, mas de Cristo como o cordeiro imolado, lembrando tanto a Páscoa do Antigo Testamento quanto a Ceia do Senhor, na qual "nosso cordeiro pascal, Cristo, foi imolado" (1ª Coríntios 5,7). Portanto, é somente quando conhecemos Jesus Cristo dessa forma que todo o resto é descerrado. Caso contrário, alguns livros permanecem selados para nossa compreensão. Não conseguimos sentir nosso coração arder dentro de nós.

O Jesus eucarístico é a chave. O entendimento católico da Eucaristia é que Jesus nos dá a si mesmo na Eucaristia. Quando a recebemos, nós o recebemos em sua totalidade. A Eucaristia não é apenas um símbolo, ou apenas a "presença espiritual" de Jesus. A Eucaristia é realmente Jesus.

Autor: Joe Heschmeyer

Original em inglês: Catholic Answers