O Coração Da Oração

27/07/2025
Deus Pai com as Santas Catarina de Siena e Maria Madalena, de Fra Bartolomeo, 1509 [Museu Nacional do Palácio Mansi, Lucca, Itália]
Deus Pai com as Santas Catarina de Siena e Maria Madalena, de Fra Bartolomeo, 1509 [Museu Nacional do Palácio Mansi, Lucca, Itália]

"Senhor, ensina-nos a orar". Esse pedido dos discípulos surge de suas circunstâncias imediatas. Eles acabavam de ver o próprio Cristo orando. E sabiam que João Batista havia ensinado seus discípulos a orar. É razoável, então, que eles pedissem o mesmo ao nosso Senhor.

Senhor, ensina-nos a orar. Este apelo surge, mais importante ainda, do fundo do coração humano. É um apelo que todos os discípulos devem fazer ao nosso Senhor. Fomos criados para a oração, para essa conversa íntima com Deus, para caminhar com Ele no frescor do dia. Mas não sabemos como orar como devemos. Precisamos ser instruídos.

E porque nossa natureza humana ferida se desvia, precisamos também ser corrigidos. Até reconhecermos a futilidade de nossa própria oração, não começaremos realmente a orar. Implícito no apelo dos discípulos está o fato de que existe uma maneira correta de orar – e, portanto, uma maneira errada também. De fato, a história humana está repleta de maneiras erradas de orar e adorar – algumas tolas, outras perigosas, todas indignas tanto de Deus quanto do homem. Jesus veio para nos dar o caminho da oração.

Então, Jesus nos dá a primeira e a última palavra da oração: Pai. "Quando orardes, dizei: Pai". A franqueza do relato de Lucas nos choca e nos faz perceber a realidade daquele a quem oramos. Ele é eternamente Pai e nos apresentou ao Seu Filho. Nossa filiação divina é o coração de toda oração.

A oração é, antes de tudo, a ascensão do nosso coração e da nossa mente ao Pai. Isso é fundamental para toda oração. "Com efeito, não recebestes um espírito de escravos, para recair no temor, mas recebestes um espírito de filhos adotivos, pelo qual clamamos: 'Abba! Pai!'" (Romanos 8,15)

São Josemaria Escrivá experimentou esse dom da oração quando, viajando em um bonde em Madri, de repente sentiu uma clareza sobre sua filiação: "Desde a infância, eu havia aprendido a chamar Deus de Pai, como no Pai Nosso. Mas sentir, ver, ficar maravilhado com esse desejo de Deus de que sejamos seus filhos... isso aconteceu na rua e em um bonde. Durante uma hora ou uma hora e meia, não sei, eu tive que gritar Abba, Pater!"

Abba. Pai. Se não formos além dessa única palavra, passando todo o nosso tempo a dizê-la com fé e amor, então rezamos bem.

Mas vamos além. O simples reconhecimento de Deus como Pai estabelece a ordem correta das coisas. Proporciona o contexto em que todas as outras orações são feitas. Nossa oração ascende ao Pai para que Sua graça também desça sobre nós. A palavra "orar" significa realmente pedir. De fato, a maioria de nós pensa na oração apenas como uma petição. Nosso Pai não se importa com nossas petições. Portanto, o restante da instrução de nosso Senhor aborda a confiança que devemos ter ao pedir, uma confiança que vem apenas de conhecer Deus como Pai.

Jesus nos dá uma parábola estranha (típica do Evangelho de Lucas) sobre um amigo não muito bom cuja "generosidade" é conquistada pela persistência. A questão é que Deus é melhor do que esse amigo. Se um amigo ruim pode ser conquistado pela persistência, quanto mais o seu Pai amoroso por um simples pedido.

A instrução conclui com uma afirmação surpreendente, mas lógica: "Se vós que sois maus sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está nos céus dará coisas boas aos que lhe pedem!". É surpreendente porque, bem, Ele nos chama de maus. Ele não está errado, mas talvez pudesse ter sido mais gentil?

De qualquer forma, a afirmação nos lembra da distância entre nossa bondade e a do Pai. Não devemos pensar Nele como sendo bom para nós da mesma forma que somos bons para os outros, não como aquele amigo da parábola. Sua bondade supera infinitamente a nossa. Não devemos pensar na bondade do Pai de acordo com nossa própria bondade limitada. Nem devemos avaliar Sua paternidade de acordo com nossa pobre imagem dela. Como disse Tertuliano: "Nemo tam pater quam Pater – ninguém é pai quanto o Pai" (ver CIC 239).

Mas a conclusão também é surpreendente, porque nosso Senhor introduz o dom do Espírito no final da instrução. Quanto mais o Pai Celestial dará o Espírito Santo àqueles que Lhe pedirem? Como se o dom do Espírito fosse o que Ele estivesse falando o tempo todo. Como se o dom do Espírito fosse o que pedimos, buscamos e batemos incessantemente. O que de fato é, quer percebamos ou não.

E talvez seja por isso que não oramos com tanta frequência ou incessantemente como deveríamos. Porque sentimos que o Pai tem mais em mente do que apenas nos dar o que pedimos. Ele permite que estejamos em necessidade para que nos aproximemos Dele em nossa insignificância e para que Ele possa então começar a obra de Sua graça sobre nós.

A oração de petição deve conter a disposição de ser transformado, de receber o Espírito de Filiação, o Espírito que sopra onde quer, o Espírito que nos levará aonde ainda não queremos ir. A oração não é se aproximar da máquina de venda automática divina e pedir o que queremos. É uma entrada em um relacionamento e uma conversa com o Pai, que sabe o que precisamos mais do que podemos imaginar.

Autor: Pe. Paul D. Scalia

Original em inglês: The Catholic Thing