O CELAM E A Alienação Da Igreja Na América Latina

25/07/2025

A Teologia da Libertação deixou uma marca tão profunda na vida da Igreja universal que muitos não conseguem distingui-la do catolicismo.

Clodovis Boff, irmão do famoso teólogo da libertação Leonardo Boff, escreveu recentemente uma carta aberta ao Conselho Episcopal Latino-Americano (conhecida como CELAM) na qual criticava o que chamava de a mesma cantilena: "social, social e social". Ele disse que os bispos negligenciaram a mensagem religiosa básica de Jesus. Suas palavras foram muito diretas: "Caros irmãos maiores, não veem que essa música já cansou?"

Sua mensagem foi um exemplo real de teologia pastoral, de como pregar o verdadeiro Evangelho. Ele perguntou:

Quando é que nos darão boas-novas de Deus, de Cristo e do seu Espírito? Da Graça e da Salvação? Da Conversão do coração e da Meditação da Palavra? Da Oração e da Adoração, da Piedade para com a Mãe do Senhor e de outros temas semelhantes? Enfim, quando é que vão nos mandar uma mensagem verdadeiramente religiosa, espiritual?

Gostaria de saber o que pensa seu irmão Leonardo. Apesar de ter deixado o estado clerical, Leonardo Boff é provavelmente o mais proeminente teólogo da libertação, um homem que estudou e dialogou com seu antigo professor Joseph Ratzinger e foi considerado pessoalmente próximo do Papa Francisco desde a época em que este era arcebispo de Buenos Aires. A carta é franca ao constatar o fracasso da Teologia da Libertação em conquistar a maioria dos fiéis na América Latina.

Esta não é a primeira vez que o frade dos Servos de Maria adota uma abordagem diferente da escola de teologia que tornou seu irmão famoso. Em 2007, Clodovis escreveu um ensaio intitulado A Teologia da Libertação e Volta ao Fundamento. Nessa publicação, ele declarou que

"a Teologia da Libertação partiu bem, mas, devido à sua ambigüidade epistemológica, acabou se desencaminhando: colocou os pobres em lugar de Cristo. Dessa inversão de fundo resultou um segundo equívoco: instrumentalização da fé "para" a libertação. Erros fatais, por comprometerem os bons frutos desta oportuna teologia".

Clodovis Boff escreveu sua última carta em resposta à 40ª Assembleia Geral do CELAM, no final de maio. Até o próprio mundo secular "está farto de secularidade", disse o frade.

As almas pedem o sobrenatural, e os Srs. insistem em lhes dar o natural. Esse paradoxo se nota até nas paróquias: enquanto os leigos se comprazem em mostrar sinais da sua identidade católica (cruzes, medalhas, véus, blusas com estampas religiosas), padres e freiras vão na contramão e aparecem sem qualquer sinal distintivo.

O irmão do homem que escreveu tanto sobre eclesiologia da libertação criticou os bispos — cuja mensagem, ao concluir a 40ª Assembleia Geral do CELAM, mencionou Jesus Cristo apenas uma vez no contexto da celebração dos 1.700 anos do Concílio de Niceia — afirmando:

V. Ex.as, e com razão, que querem uma Igreja que seja "casa e escola de comunhão", e, além disso, "misericordiosa, sinodal e em saída". E quem não quer? Mas cadê Cristo nessa imagem ideal de igreja?

A Igreja na América Latina está "sangrando", perdendo sangue e vitalidade.

O que mais se vê por aí são igrejas vazias, seminários vazios, conventos vazios. Em nossa América, já 7 ou 8 países não contam mais com a maioria católica. O próprio Brasil se encaminha para ser "o maior país ex-católico do mundo"… Não parece, no entanto, que essa queda contínua preocupe tanto os Venerandos irmãos.

As palavras do Frei Boff (seu irmão não é mais religioso) me lembraram de algo que me intrigou muito nos últimos anos. Vi o declínio da Igreja Católica em El Salvador, onde trabalhei por vinte anos — mas isso parecia ser ignorado por teólogos e acadêmicos que foram formados por uma abordagem quase ideológica da teologia pastoral.

Clodovis lamentou em sua carta a falta de uma verdadeira escatologia na pregação dos líderes da Igreja. Seu discurso sobre a esperança é muito genérico e parece limitar-se às realidades deste mundo. "Não nego, irmãos caríssimos, que seja também o céu sua "grande esperança". Mas então, por que esse pudor de falar, alto e bom som".

Lembro-me de estar em uma comissão para um plano pastoral e ter que apelar ao arcebispo para que incluísse a palavra "salvação" como tema central. Os ideólogos da esquerda, que adoravam emendar palavras para grandes objetivos nos "planos quinquenais" de projeção pastoral (e pretendo fazer alusão aos planos soviéticos), não gostavam de escatologia. Eles estavam mais preocupados com uma escatologia que ecoasse os intelectuais de esquerda que dominavam as universidades de El Salvador. Seu mantra de "ver-julgar-agir" sempre parecia acabar soando como documentos de posição de um partido político.

E qual foi o resultado de toda a teologia pastoral da libertação? Sei que temos que ter cuidado com um post hoc, ergo propter hoc - correlação coincidente - sobre um fenômeno social extraordinariamente complexo, mas as seitas protestantes em expansão não se preocupavam com "social, social, social" e prosperaram. O último estudo sobre identificação religiosa em El Salvador mostra um crescimento alarmante da sensibilidade religiosa não católica. O que costumava ser uma nação majoritariamente católica agora se aproxima de um panorama eclesiástico dividido igualmente. O que deu errado?

E isso aconteceu após a beatificação e canonização de santos como o Padre Rutilio Grande e o Arcebispo Oscar Romero, e após um papa latino-americano que claramente tentou reviver a teologia da libertação. Quando São Oscar Romero foi beatificado, um grande número de pessoas participou da missa ao ar livre que celebrava o evento. Uma mulher que observava a multidão crescente de uma casa próxima disse que era uma apoteose.

No entanto, os padres acabaram com milhares de hóstias consagradas nas mãos que precisaram ser distribuídas a várias paróquias porque grande parte da multidão nunca tinha recebido a Comunhão. Isso foi apenas uma questão de logística ou havia algo mais: uma forma de enxergar um acontecimento sagrado sob uma ótica política? A famosa expectativa liberal de um "efeito Francisco" nunca se concretizou, mas por que não houve um "efeito Romero"?

Isso é bastante intrigante e parece ir contra a lógica: uma Igreja que celebra santos contemporâneos está perdendo espaço continuamente para grupos religiosos que se assemelham às "megaigrejas" protestantes dos Estados Unidos. Televangelistas carismáticos, com uma mensagem centrada em temas básicos como "Você já está salvo?" e prosperidade pessoal — ambos em contraste com o magistério oficial dos bispos — tornaram-se líderes nacionais, deixando os bispos em segundo plano. Depois de tanto barulho sobre estruturas sociais e análises da "realidade" (palavra que muitas vezes significa "a realidade como eu a enxergo", geralmente com um viés ideológico), a salvação individual e as ambições individualistas acabaram prevalecendo sobre toda a reflexão teológica. Em El Salvador, os teólogos da "libertação", que às vezes se opunham abertamente a alguns bispos do país, venceram o campo eclesial — mas foi uma vitória de Pirro.

"Se ousei, queridos bispos, dirigir-me diretamente aos Srs", disse Clodovis Boff, "foi porque há muito tempo vejo, consternado, repetidos sinais de que nossa amada Igreja está correndo um perigo realmente grave: o de alienar-se de sua essência espiritual, para dano de si mesma e do mundo".

Acredito que esse homem não é apenas corajoso, mas também um profeta. Que ele seja ouvido em Roma, e que todos nós nos lembremos da nossa responsabilidade para com as ovelhas perdidas da nossa casa (Mateus 15,24).

Autor: Mons. Richard C. Antall

Original em inglês: Crisis Magazine