Nossa Senhora Desatadora Dos Nós

04/01/2024

Quando retornou à Argentina após seus estudos de doutorado na Alemanha, Jorge Mario Bergoglio sj, hoje Papa Francisco, levou consigo um carinho especial por uma devoção mariana que havia encontrado na Baviera. Hedwig Lewis s.j. nos apresenta a devoção cada vez mais popular de "Maria Desatadora dos Nós".

"Maria Desatadora dos Nós, rogai por nós" seria uma invocação que soaria estranha na Ladainha para Nossa Senhora, com a qual estamos tão acostumados. De fato, a devoção à Santíssima Virgem sob esse título é comum em partes da Alemanha há séculos. Recentemente, porém, a atenção do mundo foi atraída para ela quando a Rádio Vaticano revelou que o Papa Francisco havia defendido essa devoção décadas atrás na Argentina.

Na década de 80, enquanto fazia seus estudos de doutorado em teologia em Freiburg, Alemanha, como padre jesuíta, Jorge Bergoglio viu uma pintura em uma igreja em Augsburg intitulada "Maria Desatadora dos Nós". Ele ficou tão impressionado com seu forte simbolismo que levou cartões postais com a imagem para sua província natal na Argentina. Ele costumava incluir cópias em todas as cartas que enviava. Um artista argentino amigo dele fez uma pintura, de óleo sobre tela, em miniatura da imagem, que foi pendurada na capela do Colegio del Salvador em Buenos Aires, onde Bergoglio foi enviado. A equipe do colégio ficou tão atraída por ela que persuadiu o pároco local a mandar fazer uma cópia maior. Ela foi exibida na igreja paroquial de San Jose del Talar, em 1996. Por fim, a devoção a Maria sob o título "Maria Desatadora dos Nós" se espalhou pela América Latina.

Pouco depois do Cardeal Joseph Ratzinger ter sido eleito papa, como Bento XVI, o então Cardeal Bergoglio presenteou o papa nascido na Alemanha com um cálice de prata gravado com a imagem de Maria Desatadora dos Nós, juntamente com a de Nossa Senhora de Luján, uma devoção mariana popular na Argentina.

A Pintura

A pintura barroca original de "Maria Desatadora dos Nós", de Johann George Melchior Schmidtner, datada de cerca de 1700, encontra-se na igreja de St. Peter am Perlach, em Augsburg, Baviera, Alemanha. Ela mede um metro e oitenta de altura e cerca um metro e vinte de largura.

A pintura retrata Maria suspensa entre o céu e a terra, resplandecente de luz. O Espírito Santo, na forma de uma pomba, está acima de sua cabeça, lembrando-nos de que ela se tornou Mãe de Deus e cheia de graça em virtude da terceira pessoa da Trindade. Ela está vestida de forma resplandecente em carmesim e com um manto azul escuro que representa sua glória como Rainha do Universo. Uma coroa de doze estrelas adornando sua cabeça significa sua condição de Rainha dos Apóstolos. Seus pés esmagam a cabeça da serpente, indicando sua participação na vitória sobre Satanás. Ela está cercada por anjos, o que significa sua posição como Rainha dos Anjos e Rainha do Céu. Em suas mãos há uma fita branca com um nó, que ela está serenamente desatando. Dois anjos a auxiliam nessa tarefa: um apresenta os nós de nossa vida a ela, enquanto outro anjo apresenta a fita, livre dos nós, para nós.

A História

Wolfgang Langenmantel (1568-1637), um nobre alemão, ficou perturbado quando sua esposa Sofia planejava se divorciar dele. Para salvar o casamento, Wolfgang procurou o conselho do Pe. Jakob Rem, um sacerdote jesuíta respeitado por sua sabedoria e piedade, na Universidade de Ingolstadt. Em sua quarta visita à cidade, em 28 de setembro de 1615, Wolfgang levou sua "fita de casamento"(1) para o padre Rem. Na cerimônia de casamento daquela época na Alemanha, a dama de honra unia os braços da noiva e do noivo com uma fita para simbolizar sua união para toda a vida. O Pe. Rem, em um ato ritual solene, ergueu a fita diante da imagem de "Nossa Senhora das Neves" e, ao mesmo tempo, desatou os nós, um por um. Quando ele alisou a fita, ela se tornou de um branco deslumbrante. Isso foi considerado como uma confirmação de que suas orações haviam sido ouvidas. Consequentemente, o divórcio não aconteceu e Wolfgang continuou casado e feliz!

Para comemorar a virada do século no ano de 1700, o neto de Wolfgang, Pe. Hieronymus Langenmantel, Cônego de St. Peter am Perlach, instalou um altar doméstico na igreja, como era costume na época. Ele encomendou a Johann Schmidtner uma pintura para ser colocada sobre o altar. Schmidtner se inspirou na história de Wolfgang e Pe. Rem e, portanto, baseou sua pintura nesse evento. A imagem passou a ser venerada como Maria Desatadora dos Nós. A pintura sobreviveu a guerras, revoluções e oposição secular, e continua atraindo as pessoas.

A Devoção

No século 18, a devoção a Maria Desatadora dos Nós estava restrita a Alemanha. A devoção aumentou durante o desastre da Usina Nuclear de Chernobyl (1986), quando as vítimas buscaram ajuda por meio da intercessão de Maria Desatadora dos Nós. A primeira capela com o nome "Maria Desatadora dos Nós" foi construída em 1989 na Estíria, Áustria. A imagem de Maria Desatadora dos Nós no altar principal da capela foi criada pelo pintor Franz Weiss, usando a técnica de pintura sob vidro. Ela era diferente da original, pois o artista tomou como tema a tragédia de Chernobyl.

Em 8 de dezembro de 2000, uma capela dedicada à Virgem Maria Desatadora dos Nós foi inaugurada em Formosa, Argentina. Desde 1998, a devoção está sendo difundida na América do Sul graças ao livreto Novena a Maria, Desatadora dos Nós, publicado, com permissão eclesiástica, por Denis e Dra. Suzel Frem Bourgerie. Ele foi traduzido para vinte idiomas. O casal fundou o Santuário Nacional da Virgem Maria Desatadora dos Nós em Campinas (São Paulo), Brasil, em 2006.

O site - em espanhol - María Desatadora de Nudos explica que os "nós" que Maria pode desatar, "são problemas e lutas que enfrentamos e para os quais não vemos nenhuma solução... Nós de discórdia em nossa família, falta de compreensão entre pais e filhos, desrespeito, violência, nós de mágoas profundas entre marido e mulher, ausência de paz e alegria no lar. São também os nós da angústia e do desespero dos casais separados, da dissolução da família, os nós de um filho ou filha viciado em drogas, doente ou separado do lar ou de Deus, os nós do alcoolismo, da prática do aborto, da depressão, do desemprego, do medo, da solidão…"

Desatar os Nós

Uma oração inspiradora que encerra a novena - Súplica à Nossa Senhora Desatadora dos Nós - resume o papel da Virgem Maria, Desatadora dos Nós:

"Virgem Maria, Mãe de Deus, Tu que, como mulher e mãe, respondeste a Deus: "Que se faça a Tua vontade", contagie-nos dessa força, a força da Tua Fé e de Teu Amor.

Maria, eu venho a Ti, cheia de dor, chorando meu sofrimento nos braços de uma Mãe que sempre escuta, que tudo suporta, que tudo crê.

Creia, minha Mãe, creia em minha dor e em minhas angústias; o que não faria uma mãe por seu filho; o que não farias Tu, Maria, minha Mãe, para mim?

Eu te peço somente para me escutares, que minhas súplicas cheguem a Ti, e Tu as leve até o Filho Bem Amado e que intercedas por mim. Que eu também possa dizer: "Sim, Senhor, que se faça a Tua vontade". Dá-me, Maria, a capacidade de aceitar os desígnios que o Senhor tem para comigo.

Maria, guia-me, protege-me, desata o emaranhado de meus problemas. Somente Tu liberta, somente Tu desatas, somente Tu e Teu Filho podem me libertar da opressão com que vivo, da qual estou consciente que somente nós, homens, somos os que tropeçamos no caminhar do dia a dia, e somos os que nos enredamos nos laços do orgulho, da soberba, da incompreensão, da falta de caridade e solidariedade.

Por isso, recorro a Ti, Maria, minha Mãe, para que me livres e desates os nós que me impedem de ser feliz e estar mais juntos de Ti e de Teu Filho. Para que, com a oração perseverante, dobremos os nossos duros corações e possamos elevar-nos a um mundo mais generoso.

Maria, escuta minhas preces.

Amém."

Como essa devoção começou?

Para nos mostrar a missão concedida à Virgem Maria por Seu Filho, o artista Johann Melchior Georg Schmittdner pintou Maria Desatadora dos Nós com grande graça. Desde 1700, sua pintura é venerada na Igreja de São Peter em Perlack, Augsburgo, Alemanha. Ela foi originalmente inspirada por uma meditação de Santo Irineu (bispo de Lyon e martirizado em 202) baseada no paralelo feito por São Paulo entre Adão e Cristo. Santo Irineu, por sua vez, fez uma comparação entre Eva e Maria, dizendo: "Eva, por sua desobediência, atou o nó da desgraça da raça humana; Maria, por sua obediência e devoção a Deus, desatou".

Mas o que são esses nós?

São os problemas e as lutas que enfrentamos e para os quais não vemos nenhuma solução... nós de discórdia na família, falta de compreensão entre pais e filhos, desrespeito, violência, nós de mágoas profundas entre marido e mulher, ausência de paz e alegria no lar. Há também os nós da angústia e do desespero dos casais separados, da dissolução da família, os nós de um filho ou filha viciado em drogas, doente ou separado do lar ou de Deus, os nós do alcoolismo, da prática do aborto, da depressão, do desemprego, do medo, da solidão... Ah, os nós de nossa vida! Como eles sufocam a alma, nos abatem, traem a alegria do coração e nos separam de Deus.

Dia após dia, mais e mais cristãos se ajoelham para rezar a Ela assim que encontram a Mãe do Belo Amor. Muitas famílias se reconciliaram! Muitas doenças foram curadas! Muitos cônjuges voltaram para a Igreja! Muitos empregos foram concedidos! Muitas conversões ocorreram! Muitos católicos se ajoelharam rezando e agradecendo as graças recebidas de nossa doce Mãe.

Por essa razão, Maria, que desfaz os nós, que foi escolhida por Deus para esmagar o mal com seus pés, vem até nós para se revelar. Ela vem para proporcionar empregos, boa saúde, reconciliar famílias, porque quer desfazer os nós de nossos pecados que dominam nossas vidas, para que - como filhos do Rei - possamos receber as promessas reservadas para nós desde a eternidade. Ela vem com promessas de vitória, paz, bênçãos e reconciliação.

Então, livres dos nossos nós – cheios de felicidade, poderemos ser testemunho do Poder Divino neste mundo, como pedaços do coração de Deus ou pequenos frascos de perfume exalando misericórdia e amor ao próximo. Como embaixadores de Jesus Cristo e da Virgem do belo amor, podemos resgatar aqueles que choram sem nenhum consolo, aqueles que estão solitários, amarrados com nós, que não têm Deus, nem Pai nem Mãe.

Mãe do Sol Nascente, Imaculada, nossa Advogada, Auxiliadora nos momentos de aflição, Mãe de Deus e feita por Ele nossa Mãe, assim se apresenta Maria, Desatadora dos Nós. Acima de tudo, Ela vem como a Rainha da Misericórdia, aquela que sabe tudo sobre nós, que tem compaixão de nós e se apressa em nos resgatar, rezando por cada um de nós ao Seu amado Jesus.

Por: Fr. Hedwig Lewis SJ

Original em inglês: Signs & Wonders


Novena e Suplica a Nossa Senhora Desatadora dos Nós

Acessar o site da Canção Nova ou baixar aqui.


Notas:

(1) - O tradicional cordão de casamento, também conhecido como "fita de casamento", é uma peça em algumas cerimônias de casamento católicas. Na verdade, é uma representação de um laço feito de contas de terço e de cetim branco ou seda. Durante o casamento propriamente dito, essa fita é tradicionalmente moldado em forma de oito e colocado em volta do pescoço da noiva e do noivo depois que eles fazem seus votos de casamento e já estão ajoelhados em almofadas para o pronunciamento de uma oração nupcial. Esse cordão simboliza a unidade vitalícia ou a união eterna da noiva e do noivo quando eles se tornam oficialmente marido e mulher, bem como um símbolo de proteção conjugal; enquanto os laços formados significam o amor de um pelo outro. Após o casamento, essa fita nupcial é normalmente guardado pela noiva como lembrança do casamento. Veja fotos aqui e aqui.