Nossa Desculpa Esfarrapada Para O Hedonismo E O Paganismo

05/08/2022
O Cego na Vala - James Tissot, c. 1890
O Cego na Vala - James Tissot, c. 1890

Costuma-se ouvir católicos se lamentarem que a sociedade americana atual seja teologicamente "pagã" ou "neo-pagã" - e moralmente "hedonista".

Talvez sim. Mas não é assim que eu vejo. O paganismo é uma forma de religião - o tipo errado de religião, mas ainda assim uma forma de religião. A adoração de muitos deuses.

Nosso problema na América, parece-me, não é que tenhamos o tipo errado de religião, mas sim que corremos o risco de não termos religião alguma. Temos muitas religiões substitutas, com certeza, como o ambientalismo e o "lacralismo". Porém sofremos muito de naturalismo, não excesso de sobrenaturalismo.

Além disso, se fôssemos pagãos, poderíamos evoluir para cristãos. Foi o que aconteceu na antiga cultura greco-romana. O paganismo deles tinha dentro de si as sementes do cristianismo. E, eventualmente, essas sementes germinaram. Se tal desenvolvimento aconteceu uma vez, há razões para acreditar que pode acontecer novamente.

Em contraste, o ateísmo é um terreno estéril. Não nutre silenciosamente o cristianismo ou qualquer outra religião elevada. E esse é o nosso problema hoje - uma tendência ao ateísmo, uma tendência que aumenta em velocidade quase todos os dias. Seja como for, assim me parece.

O mesmo ocorre com a noção de que a América é um país hedonista. Nós não somos tal coisa. Pois se fôssemos, e se tivéssemos levado a sério nossa busca de prazer - ou seja, de maneira mais inteligente - seríamos menos infelizes do que somos. Estaríamos mais felizes com a vida, mais satisfeitos.

No mundo antigo, a escola filosófica hedonista ou de busca de prazeres começou com a busca de prazeres grosseiros, prazeres sensuais - vinho, mulheres (ou rapazes) e música, por assim dizer. Mas esses filósofos logo descobriram, graças a uma certa experiência amarga, que a busca dedicada desses prazeres levava, a longo prazo, não à alegria, mas ao seu oposto.

Um dos filósofos antigos concluiu que a vida humana média sendo mais cheia de dores do que prazeres, a maioria das pessoas estariam melhor mortas.

Esses sérios buscadores de prazer acabaram percebendo que uma vida de virtude era, pelo menos a longo prazo, o tipo de vida mais agradável.

Oxalá nossos contemporâneos buscadores de prazer fossem tão dedicados à conquista do prazer que optassem pela vida das virtudes.

A vida epicurista pode não ser tão admirável quanto a vida de santidade ou a vida de heroísmo, mas é pelo menos uma vida reflexiva. Uma sociedade predominantemente epicurista - uma sociedade marcada pelos prazeres tranquilos e refinados da sabedoria, justiça, fortaleza e temperança, para não falar das artes e ciências - seria uma sociedade razoavelmente boa.

À primeira vista, admito, nosso país parece ser um país de busca de prazeres. Pense em quantos de nós se dedicam aos prazeres da cama, da mesa e das drogas recreativas.

Observadores superficiais ou de curto prazo julgarão que essas práticas, embora talvez moralmente indecentes, aumentam muito a quantidade de prazer no mundo. Mas os americanos não são observadores de curto prazo desses maus hábitos. Os hábitos existem de maneira importante desde pelo menos a década de 1960. Pode-se dizer que a nação vem, há quase dois terços de século, realizando uma grande experiência na busca desses prazeres.

Os americanos eram mais ou menos puritanos desde que os peregrinos puseram os pés em Plymouth Rock. Mas por volta de 1960, no meio de uma pós-depressão e prosperidade pós-guerra, decidimos tentar algo novo. "Vamos nos divertir", dissemos. Começou com o sexo. E depois drogas. E depois mais e vários tipos de sexo. E depois mais e vários tipos de drogas.

Bem, agora os resultados deste grande experimento hedonista já chegaram, e qualquer pessoa com olhos para ver e ouvidos para ouvir sabe quais são esses resultados.

Quanto aos prazeres das drogas recreativas, considere a imensa quantidade de mortes por overdose entre os jovens que ocorreram nos últimos anos. E lembre-se que essas mortes são apenas a ponta do iceberg; para cada morte, há centenas ou milhares de vidas arruinadas.

Lembre-se também que o imenso apetite americano por drogas levou à ruína do México: uma nação com uma longa tradição de corrupções menores tornou-se, em sua tentativa de manter os americanos abastecidos, uma nação de espantosa criminalidade e caos causado pelos cartéis de drogas.

Quanto à revolução sexual, foi nada menos que um grande desastre nacional, produzindo uma imensa quantidade de miséria americana. Para começar, tivemos AIDS e muitas outras doenças sexualmente transmissíveis, sendo a última delas a varíola dos macacos.

E tivemos inúmeras crianças nascidas fora do casamento e obrigadas a crescer sem pai em casa - essa ausência de pais teve resultados previsíveis: filhas que engravidam ainda adolescentes e solteiras; e filhos que se tornam membros de gangues criminosas, amantes da violência, vítimas de violência e residentes de longa data de presídios.

E tivemos milhões e milhões de abortos, causando não apenas a morte das vítimas ainda não nascidas (morte por homicídio), mas um grande embrutecimento da consciência nacional. Bebês não nascidos hoje; o que se esperar do amanhã? Provavelmente a eutanásia.

E não apenas a corrupção moral, mas também a corrupção intelectual. Para justificar a revolução sexual - com sua fornicação quase universal, sua promiscuidade, sua monoparentalidade, seu divórcio fácil, seus abortos, sua homossexualidade, seu casamento entre pessoas do mesmo sexo, seu transgenerismo - inventamos uma grande multidão de mentiras e distorções que a pessoa só pode acreditar se violentar o seu intelecto.

Se você consegue acreditar que um menino que sente que é uma menina na verdade se torna uma menina (ou vice-versa), você consegue acreditar em qualquer coisa. Você pode acreditar, por exemplo, que a varíola dos macacos não é uma doença gay (como a grande mídia nos asseguram quase todos os dias). E você pode acreditar que a Constituição dos EUA contém quase qualquer "direito humano fundamental" que lhe agrade.

Continuamos a dizer a nós mesmos que esses novos direitos nos tornarão mais felizes e melhores. Sim, continuamos a nos dizer dizer isso.

Autor: David Carlin

Original em inglês: The Catholic Thing