Noite Escura Da Alma: Não É O Que Se Pensa

21/09/2025

Às vezes, os católicos usam esse termo com demasiada facilidade.

Santa Teresa de Calcutá é frequentemente descrita como tendo vivido durante décadas numa "noite escura da alma". A expressão tornou-se tão comum que as pessoas a aplicam de forma ampla para se referir a qualquer período prolongado de aridez ou secura na oração, ou a qualquer fase de dificuldade na vida espiritual. Quantas vezes já se ouviu alguém dizer: "Estou passando por uma noite escura da alma", quando o que ele realmente quer dizer é que se sente distante de Deus ou simplesmente não está sentindo consolações espirituais?

Mas a verdade é esta: não é isso que é a noite escura da alma — pelo menos, não como São João da Cruz a descreve. O termo tem um significado preciso nos escritos espirituais dos místicos e doutores da Igreja. Quando o confundimos com mera aridez espiritual, não só usamos mal o termo, como também perdemos a profunda beleza do que Deus está realmente fazendo na alma.

Vamos esclarecer isso, primeiro explicando o que João da Cruz realmente quis dizer quando escreveu sobre as duas (sim, duas) noites escuras.

As Duas Noites Escuras

Primeiro, eu gostaria de fazer um aviso sobre os escritos de São João da Cruz. As pessoas correm para ler A Noite Escura da Alma, mas a maioria o faz fora de contexto. João escreveu primeiro A Subida do Monte Carmelo, que explica a noite escura dos sentidos (a qual descreve a elevação da alma em direção a Deus à medida que cresce em santidade, na fase inicial da vida espiritual). A Subida do Monte Carmelo foi escrita em três partes. Originalmente, João pretendia escrevê-la em quatro partes, sendo A Noite Escura da Alma a quarta parte. No fim, ele acabou escrevendo A Noite Escura da Alma como uma obra separada, mas, quando a lemos sem antes ler A Subida do Monte Carmelo, podemos perder um contexto importante.

Vamos esclarecer isso, começando por explicar o que João da Cruz realmente quis dizer quando escreveu sobre as duas (sim, duas) noites escuras.

Nestas duas obras, João descreve duas fases de purificação pelas quais a alma passa no seu caminho para a união com Deus:

  1. A Noite Escura dos Sentidos
  2. A Noite Escura do Espírito (o que muitos chamam simplesmente de "a noite escura da alma")

A primeira das duas noites — a noite escura dos sentidos — ocorre quando Deus começa a conduzir a alma além da simples meditação para a oração mística — um estágio na vida espiritual em que a alma experimenta Deus espiritualmente, em vez de por meio dos sentidos. As experiências familiares de doçura na oração, consolações e sentimentos agradáveis são removidas. Isso não ocorre simplesmente porque Deus está testando a alma, nem porque Ele está retendo Seu amor. Em vez disso, Ele está atraindo a alma para um amor mais profundo e mais puro por Ele — um amor que não depende mais de sentimentos ou consolações.

Como escreve João,

"Nesta noite escura começam a entrar as almas quando Deus as vai tirando do estado de principiantes — ou seja, o estado dos que meditam, — e as começa a pôr no dos aproveitados ou proficientes — que é já o dos contemplativos — a fim de que, passando pela noite, cheguem ao estado dos perfeitos — o da divina união da alma com Deus" (Livro Primeiro, Capítulo I,1).

Essa purificação elimina o apego às faculdades inferiores da alma — os sentidos, a imaginação e as emoções — para que a alma possa entrar em um tipo de oração chamada contemplação infusa, por meio da qual o próprio Deus ilumina a alma. Também contrária ao vernáculo moderno, a contemplação infusa não é simplesmente um tipo mais profundo de meditação, mas um tipo de oração à qual somente Deus pode conduzir a pessoa, e na qual a pessoa saboreia a doçura da oração espiritualmente, em vez de fisicamente.

A segunda noite, a noite do espírito, chega muito mais tarde. É muito mais intensa, rara e transformadora. Esta é a verdadeira "noite escura da alma". Ela purifica as faculdades superiores da alma — intelecto, memória e vontade — em preparação para o estágio final da união com Deus, o que João chama de união transformadora. Para dar um passo atrás, a noite escura do espírito só chega quando a alma ultrapassa os estágios introdutórios da contemplação e entra na união divina (e até mesmo progride além da simples união inicial com Deus!).

Nesta segunda noite, a fé, a esperança e a caridade são purificadas e aprofundadas. A alma experimenta uma escuridão profunda — não porque Deus a tenha abandonado, mas porque a sua luz é tão avassaladora que, tal como quando se olha diretamente para o sol, a alma a experimenta como escuridão.

Quanto mais as coisas divinas são em si claras e manifestas, tanto mais são para a alma naturalmente obscuras e escondidas. Assim …quanto mais se quer fixar os olhos diretamente no sol, mais trevas ele produz na potência visual, paralisando-a, porque lhe excede a fraqueza. Do mesmo modo quando esta divina luz de contemplação investe a alma que ainda não está totalmente iluminada, enche-a de trevas espirituais (Livro Segundo, Cap. V, 3)

A noite escura do espírito não é uma aridez comum. Ela não se deve à distância de Deus, mas à proximidade de Deus. É Deus agindo na alma, queimando até mesmo as imperfeições mais ocultas, para que nada reste além do amor puro. João usa a analogia de um tambor de óleo sujo que é incendiado — no início, a chama é suja e cheia de poluentes, mas com o tempo, as impurezas são queimadas e a chama queima limpa. A chama representa o amor de Deus, que arde mais puramente na alma após as duas noites.

Aridez Comum vs. as Duas Noites Escuras

É importante, portanto, distinguir entre a aridez comum que a maioria de nós experimenta e as purificações sobrenaturais das noites escuras.

  • A aridez espiritual pode ter muitas fontes: fadiga, estresse, doença, distração, pecado ou até mesmo Deus nos guiando gentilmente a amá-lo além de qualquer consolação. Esses períodos são normais e esperados. Eles testam nossa perseverança e fidelidade.
  • A noite escura dos sentidos não é apenas aridez, mas o início da contemplação infusa. A alma não é mais capaz de meditar como antes. Ela se sente vazia na oração, mas está sendo secretamente atraída para mais perto de Deus.
  • A noite escura do espírito é a purificação profunda das faculdades superiores da alma. Não é apenas dificuldade na oração, mas uma purificação abrangente da alma, preparando-a para a união total com Deus.

É por isso que devemos ter cuidado com a linguagem. Nem todo período de aridez na oração é uma noite escura. Às vezes, é apenas aridez. Às vezes, é a noite dos sentidos. A noite escura do espírito é um estágio raro e avançado na ascensão à união divina.

Pode ser perigoso usar o termo incorretamente, pois podemos espiritualizar demais nossas experiências ou trivializar a verdadeira grandeza da obra purificadora de Deus na alma. Portanto, usemos a linguagem adequada, reconhecendo que todas as três experiências têm seu lugar na vida espiritual.

Autor: Joshua Mazrin

Original em inglês: Catholic Answers