Não É A Melhor Maneira De Evangelizar

18/09/2025

Existem boas maneiras de compartilhar o Evangelho com desconhecidos, e há também maneiras não tão boas.

Considere um cenário:

Você está viajando de avião. Enquanto todos estão se acomodando e colocando o cinto de segurança, você cumprimenta a pessoa ao seu lado. Ele está usando um moletom da Universidade Federal de Minas Gerais. Você já morou em Belo Horizonte, então começa a conversar sobre a vida no Estado do Atlético. Você pergunta sobre a família dele. Ele tem alguns filhos. Você também tem filhos. Vocês compartilham histórias. Segue-se uma conversa amigável e descontraída sobre esportes, clima, trabalho e assim por diante. Então você intervém com algo do tipo: "Eu gostaria de lhe falar sobre Jesus..."

Você ouviu. Você construiu pontes de amizade. Agora você está proclamando o Evangelho. Isso é evangelização eficaz, certo?

Mas como tudo isso soa para ele? Seu vizinho de assento agora está pronto para uma conversa aberta e respeitosa sobre a Fé?

A verdade é que não podemos saber. Talvez ele estivesse querendo falar com alguém sobre Jesus, e você chegou exatamente no momento certo. Talvez ele nunca tivesse pensado muito em Jesus, mas quando você pronunciou o nome do Senhor, seu coração se abriu e, agora, ele queira ouvir o que você tem a dizer. Tudo é possível.

Mas será que também é possível que, assim que você menciona o nome de Jesus, ele se sinta enganado? É possível que ele tenha pensado que vocês estavam apenas tendo uma conversa agradável, mas agora, como você mudou de assunto tão repentinamente para falar sobre Jesus, ele veja toda a sua simpatia como falsa? É possível que ele até sinta que caiu numa armadilha?

Certo. Agora considere outro cenário:

Você está viajando de avião. Enquanto todos estão se acomodando, você cumprimenta a pessoa ao seu lado. Ele está usando um moletom da Universidade Federal de Minas Gerais. Você já morou em Belo Horizonte, então começa a conversar sobre a vida no Estado do Atlético.

Então você diz algo como: "Eu carrego essas medalhas no bolso e as distribuo para as pessoas que encontro. Elas se chamam "Medalha Milagrosa", e muitos católicos as usam. Eu gostaria de lhe dar uma."

Ele olha para a medalha e diz: 

- "Certo. Obrigado. Mas o que devo fazer com ela?"
- "Você pode usá-la, ou guardá-la no bolso, como quiser. É, principalmente, apenas um lembrete de que Deus ama você e está aqui para ajudá-lo."
- "Mas eu não sou católico."
- "Você é cristão?"
- "Fui criado como batista, mas frequentamos uma igreja não denominacional."
- "Você prefere assim?"
- "Em geral, sim. É uma comunidade agradável, as pessoas são ótimas."
- "Como batista, você deve ter crescido realmente conhecendo bem a Bíblia..."

Nesse cenário, você sabe que pode falar sobre Jesus com ele, e sobre a Bíblia, porque ele é um cristão praticante. Embora não possamos ter certeza de como ele se sente em relação a essa conversa, você foi aberto e honesto sobre suas intenções desde o momento em que ofereceu o presente da Medalha Milagrosa, que ele aceitou e até perguntou a respeito.

Nesse cenário, você ofereceu um presente que deixou claro desde o início que você é católico e leva sua fé a sério. Ao dar o presente, você pôde proclamar um pouco do Evangelho — que Deus te ama e está aqui para ajudá-lo.

Agora, à medida que a conversa continua, você pode ouvir o que seu vizinho de assento tem a dizer e pode construir pontes de amizade sem ter de esperar pelo momento de "atacar" com o nome de Jesus. Você deixou claras as suas intenções desde o princípio, e por essa razão, ele pôde decidir se queria ou não falar sobre fé religiosa.

Em alguns casos, essa pessoa pode recusar a medalha e deixar claro que não está aberta a uma conversa religiosa. Em outros casos, você terá outras reações.

Acontece que, nesse caso, essa pessoa parece sentir que foi abordada de forma honesta e parece disposta a conversar. Talvez siga agora mais conversa, na qual mais da fé católica possa ser compartilhado. Talvez, logo depois, ele coloque os fones de ouvido e vá dormir.

Pelo menos, agora ele tem uma Medalha Milagrosa, um lembrete do amor de Deus, e a oportunidade de ouvir de um católico sobre a plenitude da Fé — o que, é claro, importa porque a Igreja é, em si mesma, a "casa de Deus" (1Tm 3,15) e, portanto, o meio de encontro com Cristo. Em última análise, o que o evangelizador deseja para toda pessoa (do ateu ao cristão não católico, passando pelo católico não praticante) é que conheça Cristo e o receba nos sacramentos e na vida de Sua Igreja.

Deixar claro as suas intenções desde o início criou uma certa liberdade para ambos. Ele pode decidir se quer conversar com você sobre religião, e você pode falar sobre isso com honestidade, sabendo que não está introduzindo Jesus ou o catolicismo de forma sorrateira a uma pessoa desprevenida.

Isso é de importância fundamental. Tudo o que fazemos como evangelizadores deve ser aberto, respeitoso com o outro e honesto. Não estamos apenas buscando colocar no peito mais uma medalha de evangelizador. Não queremos tratar as pessoas apenas como alvos. E assim, quando começamos nossas conversas, ouvindo o que os outros têm a dizer e tentando construir pontes de amizade, nossa prática habitual deve ser deixar claro bem cedo que queremos compartilhar Jesus.

Ou considere uma situação familiar na qual você deseja convidar um parente a considerar a fé católica. Em tal situação, podemos nos tornar incômodos se estivermos constantemente tentando inserir religião em conversas e contextos em que parece que estamos emboscando, ou até mesmo criticando, nossos entes queridos. Devemos lembrar que não é nosso trabalho garantir que outra pessoa responda a Jesus abraçando a vida de fé. Nosso dever é proclamar e convidar.

E se, em vez de potencialmente prejudicar relacionamentos normais sendo aquele parente que constantemente introduz assuntos religiosos mesmo quando não são bem-vindos, nós nos déssemos tempo para construir amor e confiança ouvindo com atenção e sendo bons para com a outra pessoa?

Talvez, então, possamos um dia dizer algo como: "Você poderia me dar dez minutos do seu tempo neste fim de semana apenas para que eu lhe diga no que acredito? Isso é importante para mim, e eu gostaria de compartilhar. Não preciso que você faça nada, e prometo que não vou ultrapassar dez minutos. Só quero compartilhar essa parte da minha vida com você porque você é importante para mim, mas é só isso. Eu só quero que você conheça essa parte da minha vida."

Pode ser que a pessoa diga não. Mas é provável que isso aconteça se você realmente tiver sido atencioso e respeitoso sem ser insistente? E mesmo que a pessoa diga não, você fez o que podia, ainda tem amizade com ela e, talvez, outra oportunidade surja no tempo certo.

Por outro lado, se a pessoa disser sim, você não a surpreendeu nem a abordou de forma incômoda, e isso significa que agora você tem a oportunidade de proclamar o Evangelho a alguém que, ao menos, vai lhe ouvir educadamente.

Você não tratou uma pessoa apenas como um alvo. Em vez disso, você construiu uma amizade pessoal. E tal amizade pode muito bem ser a ponte pela qual a verdade do Evangelho agora poderá passar.

Autor: Steve Dawson

Original em inglês: Catholic Answers