Não Conte Com A Segurança Eterna

27/05/2021

Aqueles que querem usar a passagem em Romanos 8, 38-39 para apoiar a doutrina da segurança eterna ("uma vez salvo, sempre salvo") não conseguem atingir esse objetivo.

Alguns protestantes acreditam que uma vez que um cristão é salvo, ele tem segurança eterna, isto é, ele não pode perder sua salvação, seja a causa do pecado a apostasia ou qualquer outra coisa.

Uma passagem frequentemente usada para apoiar a segurança eterna é Romanos 8, 38-39. Paulo escreve:

Pois estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem os poderes, nem a altura, nem a profundeza, nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor.

Norman Geisler(1) argumenta que esta passagem "precisa de poucos comentários, meramente contemplação." O que Geisler pensa que devemos contemplar é o fato de que "nem outra qualquer criatura" possa separar um crente de Cristo." Para Geisler, a própria criatura se enquadra nessa categoria e, portanto, conclui que um cristão não pode perder sua salvação.

A leitura que Geisler faz de Paulo está correta? Vamos dar uma olhada.

Primeiro, observe como Geisler presume que Paulo está falando da salvação de um indivíduo, embora o texto seja, na verdade, focado de forma mais ampla no amor de Deus por seu povo. Mas mesmo lendo que Paulo está falando sobre a salvação individual, sua interpretação não se sustenta.

Observe que Paulo lista dez coisas que não serão capazes de nos separar do amor de Cristo. Nove entre dez, excluindo por um momento "nem outra qualquer criatura", referem-se a algo exterior ao crente sobre o qual o crente não tem controle. Um crente não pode controlar, por exemplo, se ele nasce ou vai morrer ("morte ... vida"). Ele também não pode controlar o que os anjos e demônios fazem ("anjos, principados"). Ele definitivamente não está no controle do tempo ("nem o presente... nem o futuro") ou do cosmos ("poderes ... altura ... profundeza").

Apenas alguns versículos antes, no versículo 35, Paulo dá um ensino semelhante e outra lista de itens que são todos externos e estão além do controle do crente: "Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? "

Portanto, os pecados de um crente não são exteriores e não estão fora de seu controle. Eles são internos na medida em que fluem de sua vontade. E eles não estão fora de seu controle; caso contrário, o pecado não seria uma ação livre. Visto que os pecados de um crente não pertencem ao grupo de coisas que Paulo aponta como externas e além do controle de um crente, os seus pecados estão excluídos das coisas que não podem nos separar do "amor de Cristo" (v. 35) e do "amor de Deus" (v. 39).

Aqui está uma analogia que pode ajudar a concretizar isso. Suponha que um homem diga a sua noiva, cuja família está tentando impedi-los de se casar: "Não vou deixar ninguém ficar entre nós". Isso não significa: "Não há maneira possível para você [a noiva] terminar o relacionamento." O homem está prometendo apenas que ninguém externo a eles, como casal, afetará relacionamento deles.

Além disso, se Paulo quis dizer: "Mesmo nossos próprios pecados não podem nos separar de Deus", isso é algo terrivelmente grande para ele omitir. Como ele se esqueceu de incluir isso na lista, quando se lembrou de incluir a fome?

Um segundo ponto é que o texto não apenas não enfatiza a interpretação de Geisler, como ainda o contexto mais amplo da epístola aos Romanos a refuta. Por exemplo, apenas dois capítulos antes, na mesma carta, Paulo avisa os cristãos em Roma: "Portanto, que o pecado não impere mais em vosso corpo mortal, sujeitando-vos às suas paixões; nem entregueis vossos membros, como armas de injustiça, ao pecado"(6: 12-13). Não faz sentido que Paulo advertisse os cristãos sobre deixar o pecado "imperar" sobre eles se ele não pensasse que seria possível para os cristãos serem escravizados novamente pelo pecado e voltar ao seu antigo modo de vida quando não o eram justificados.

Paulo dá um aviso semelhante aos cristãos em Corinto. No início do capítulo seis de sua primeira carta, ele repreende os coríntios por terem ações judiciais contra outros cristãos (vv. 1-8). Imediatamente após essa repreensão, ele escreve: "Acaso não sabeis que os injustos não hão de possuir o Reino de Deus?"

O fluxo do raciocínio de Paulo sugere que o comportamento injusto dos coríntios está colocando em risco o recebimento da herança celestial e, portanto, eles precisam ser advertidos. Paulo então diz: "Não vos enganeis: nem os impuros, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os devassos, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os difamadores, nem os assaltantes hão de possuir o Reino de Deus."(v. 9-10).

O fato de Paulo dizer: "Não vos enganeis" sugere que ele acha que os cristãos podem ser enganados pensando que esses pecados não os excluiriam do Reino dos Céus. Talvez Geisler e outros defensores da segurança eterna precisem acatar o aviso de Paulo aqui.

Uma terceira resposta, e talvez mais forte que o apelo de Paulo acima, é que a Bíblia diz claramente que o pecado pode nos separar do amor de Cristo e de Deus. Por exemplo, Jesus diz em João 15: 9-10:

Como o Pai me ama, assim também eu vos amo. Perseverai no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, sereis constantes no meu amor, como também eu guardei os mandamentos de meu Pai e persisto no seu amor.

O fato de Cristo fazer do guardar seus mandamentos uma condição para permanecer em seu amor, implica que o pecado (atos que violam os mandamentos) pode nos separar de seu amor.

St. John provides evidence relative to God's love. He writes in his first epistle, "So we know and believe the love God has for us. God is love, and he who abides in love abides in God, and God abides in him" (5:16). A few verses later, John identifies at least one sin by which we can forfeit our abiding in that love: hatred of brother. He writes:

São João fornece evidências relativas ao amor de Deus. Ele escreve em sua primeira epístola: "Nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem para conosco. Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele."(4,16). Alguns versículos após, João identifica pelo menos um pecado pelo qual podemos perder nossa permanência nesse amor: o ódio ao irmão. Ele escreve:

Se alguém disser: "Amo a Deus", mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê. Temos de Deus este mandamento: o que amar a Deus, ame também a seu irmão. (v. 20-21)

Assim, tanto para Jesus quanto para João, o pecado pode nos separar do amor de Deus, um ensino que contradiz diretamente a interpretação de Geisler de Romanos 8, 38-39.

Independentemente da resposta que dermos, aqueles que desejam usar Romanos 8, 38-39 para apoiar a doutrina da segurança eterna não conseguem atingir esse objetivo. Existem outras passagens que os protestantes têm em seu repertório, mas teremos que considerá-las em outro momento.

Por Karlo Broussard

Original em inglês: The Catholic Answers


Nota:

(1) Norman L. Geisler foi um filósofo e teólogo apologista protestante e co-fundador do Southern Evangelical Seminary localizado em Charlotte, Carolina do Norte. Foi professor universitário por cinquenta anos e palestrou e debateu em todos os estados americanos e em vinte e cinco países. Ele era Ph.D. em filosofia pela Loyola University Chicago.