Muçulmanos, Católicos E “O Mesmo Deus”

Olhar por outro ângulo pode esclarecer a espinhosa questão de "quem adora o quê".
"Os protestantes não adoram a Deus!" "Os muçulmanos adoram o mesmo Deus que nós!"
Como católicos que buscam defender a Fé, se não formos cuidadosos ou precisos com nossos termos, corremos o risco de nos enredar em afirmações aparentemente conflitantes.
Ultimamente, temos visto muitos debates na mídia sobre a questão de se os muçulmanos podem ser considerados "adoradores" de Deus, e Tim Staples já abordou esse assunto de forma eficaz anteriormente. Também tem havido um grande trabalho para explicar como a verdadeira adoração a Deus implica o sacrifício da Eucaristia..
Mas ficou claro que precisamos de uma estrutura mais unificada para usar o termo adoração na apologética inter-religiosa. A maneira mais clara e teologicamente consistente de fazer isso é distinguir entre adoração material e adoração formal — uma distinção baseada na metafísica tomista.
No pensamento tomista, a matéria é a "matéria" bruta e o potencial de uma coisa, ou sua capacidade de assumir forma. A forma é o que dá à matéria definição, propósito e completude.

Por exemplo, o mármore é matéria (material), e a forma de estátua dada a ele pelo escultor é sua forma.
Quando aplicado à adoração,
- Matéria refere-se à intenção do adorador — o objeto para o qual ele direciona sua devoção.
- Forma refere-se à verdade e à estrutura da adoração — seu alinhamento com a auto-revelação de Deus, incluindo a doutrina correta, os sacramentos e a unidade eclesial.
Em outras palavras, a adoração material é quando pretendemos adorar a Deus, mas podemos entender mal quem Ele é, enquanto a adoração formal é quando adoramos a Deus como Ele realmente é, conforme revelado por Jesus Cristo.
A adoração material é como o mármore antes de ser moldado: tem intenção e capacidade, mas não tem forma.
Um muçulmano, por exemplo, pretende dirigir sua adoração ao Criador — isso é materialmente orientado para Deus —, mas sua adoração carece da forma que Deus revelou (Trindade, Eucaristia, Igreja).
Assim como o mármore só se torna uma estátua quando moldado, a adoração só se torna adoração formal quando moldada pelo que Deus revelou.
Isso inclui
- a fé correta (doutrina trinitária),
- os meios corretos (liturgia, sacramentos) e
- o relacionamento correto (comunhão com a Igreja).
Sem a forma, a intenção permanece real, mas não realizada.
Assim, utilizando esses princípios, podemos traçar um espectro de adoração que abrange as principais religiões:

Os católicos oferecem uma adoração que é completa tanto material quanto formalmente — adorando a Trindade, unidos a Cristo por meio de sacramentos válidos, dentro da única Igreja visível.
Os cristãos ortodoxos orientais também oferecem adoração formal, embora com comunhão imperfeita, dada a sua separação de Roma.
Os protestantes representam um caso interessante. Dependendo de como se traça a linha na aplicação dessas categorias, seus atos podem ser considerados adoração formal imperfeita ou adoração material com intenção formal, uma vez que adoram o Deus verdadeiro (Trindade, Cristo), mas carecem de Eucaristia válida, sacerdócio e unidade plena. Eles pretendem adorar formalmente, mas deixam de lado elementos sacramentais e eclesiais essenciais.
Os muçulmanos, como mencionado acima, carecem de adoração formal e pode-se dizer que adoram a Deus apenas materialmente. Isso porque, embora pretendam adorar o único Deus Criador, eles rejeitam a Trindade e a Encarnação e carecem da Igreja e de seus sacramentos.
A propósito, e quanto ao judaísmo moderno, que não se enquadra nesse espectro? Ele oferece adoração material — dirigida ao verdadeiro Deus de Abraão —, mas carece da forma completa de adoração revelada na Nova Aliança (Eucaristia, sacerdócio, unidade com a Igreja). A Antiga Aliança, instituída por Deus por meio de Moisés, era uma adoração formal para sua época. O judaísmo rabínico, que se desenvolveu após a destruição do Templo e separado de Cristo, preserva a crença no único Deus verdadeiro, mas é formalmente incompleto.
Quanto aos hindus, eles geralmente não adoram a Deus material ou formalmente, uma vez que suas práticas devocionais são frequentemente direcionadas a divindades ou estruturas metafísicas (por exemplo, panteísmo) que não correspondem ao único Criador transcendente e pessoal revelado por meio da revelação abraâmica.
Então, fechando o círculo, isso significa que os protestantes e muçulmanos "adoram a Deus"? Sim — mas não da mesma maneira.
Ao distinguir entre adoração material e formal, podemos honrar tanto as intenções religiosas sinceras dos outros quanto a plenitude da verdade que Deus revelou. A adoração material expressa o objetivo do coração. A adoração formal expressa a verdade de Deus — a forma que Ele mesmo revelou.
Como católicos, somos chamados a honrar o desejo real, ainda que incompleto, de Deus nos outros, sem nunca nivelar a distinção entre intenção e verdade. Assim como o mármore malformado ainda não é uma estátua, a adoração não moldada pela Eucaristia, pela Trindade e pela Igreja ainda não é a plenitude da adoração que Deus deseja.
A Igreja reconhece a adoração sincera oferecida pelos outros, mas também ensina que nem toda adoração é salvífica. Somente a adoração oferecida por meio de Cristo, que é o Caminho, a Verdade e a Vida, é o caminho para a plena comunhão com Deus.
Assim, a Igreja convida todas as pessoas a adorarem a Deus como Ele realmente é — em espírito e em verdade (João 4,24) — por meio de Cristo, em Seu Corpo, a Igreja. Esta é a forma plena de adoração que o próprio Deus revelou e deseja.
Autor: Drago Dimitrov
Original em inglês: Catholic Answers