Maria Madalena Era Uma Ex-Prostituta?

11/04/2025

Se alguma coisa pode ser dita corretamente sobre Santa Maria Madalena, é que ela continua sendo uma figura misteriosa e, muitas vezes, esquiva. Ao longo dos séculos, sua identidade tem sido debatida e disputada incessantemente, o que faz com que hoje muitos católicos se sintam muito confusos. O que exatamente sabemos sobre ela com base nos Evangelhos? E ela era uma prostituta arrependida?

A resposta a essas perguntas depende da visão de Maria Madalena que se escolhe adotar - e há várias disponíveis. Alguns dos Padres da Igreja Oriental, por exemplo, sustentavam que as únicas coisas que sabemos sobre a santa vêm das poucas passagens dos Evangelhos que a mencionam explicitamente pelo nome.

Assim, sabemos que Maria Madalena teve sete demônios expulsos de si (ver Mc 16,9; Lc 8,2); ela ajudou a financiar o ministério de Jesus (ver Lc 8,2); ela permaneceu com Ele aos pés da cruz (ver Mt 27,56; Mc 15,40; Lc 23,49; Jo 19,25); e foi a primeira pessoa a quem Ele apareceu publicamente após Sua Ressurreição (ver Jo 20,11-18). Para os Padres Orientais, isso é tudo o que podemos saber sobre Maria Madalena.

No Ocidente, uma compreensão bastante diferente da Madalena começou a surgir nos primeiros dias da Igreja. Começando com figuras como Tertuliano (c. 155 - 220) e ganhando força com Santo Agostinho (354 - 430), surgiu um consenso quase unânime no cristianismo ocidental, que continuou praticamente sem contestação até o século XX.

De acordo com essa perspectiva ocidental, "Madalena" é simplesmente outro título para Maria, irmã de Marta e Lázaro, que hoje costumamos chamar de Maria de Betânia. Surpreendentemente, essa figura de Madalena também foi entendida pela Igreja Ocidental como a mulher pecadora que veio ungir os pés do Senhor no sétimo capítulo do Evangelho de Lucas. Nesse entendimento católico ocidental tradicional, portanto, três personagens femininas do Novo Testamento são identificadas como uma só: Maria Madalena, Maria, irmã de Marta e Lázaro, e a mulher pecadora anônima de Lucas 7

Essa pode parecer uma afirmação ousada, mas foi a posição adotada por muitos dos maiores santos, místicos e doutores da Igreja. Para citar alguns exemplos, Gregório Magno, o Venerável Beda, Anselmo de Canterbury, Tomás de Aquino, Catarina de Siena, Thomas More, John Fisher, Teresa d'Ávila, João da Cruz, Francisco de Sales, Maria de Jesus de Ágreda, Ana Catarina Emmerich, John Henry Newman, Teresa de Lisieux e Elisabete da Trindade acreditavam que Maria Madalena é a mesma pessoa que Maria, irmã de Marta e Lázaro, e a mesma pessoa que a mulher pecadora anônima de Lucas 7.

Mas o que isso revela, se é que revela alguma coisa, sobre o fato de Maria Madalena ter sido uma prostituta? Afinal de contas, os Evangelhos nunca a descrevem explicitamente como tal. Sabemos com certeza que Jesus a purificou de sete demônios, mas não há como saber se esses demônios eram resultado de vício sexual. Então, qual foi a origem da ideia de prostituta?

A ideia parece ter se originado com o Papa São Gregório Magno em uma homilia que ele proferiu na Basílica de São Clemente, em Roma, no ano de 591. Gregório compartilhava da convicção agostiniana de que Maria Madalena é a mulher sem nome descrita no sétimo capítulo do Evangelho de Lucas, e foi com base nessa cena em particular que ele inferiu que ela viveu uma vida de prostituição antes de seu encontro com Cristo.

A inferência de Gregória baseia-se em uma leitura atenta do texto do Evangelho. Ao examinar o texto de Lucas 7,36-50, parece óbvio que a mulher em questão ganhou uma reputação muito ruim para si mesma. Ela é descrita como "uma mulher da cidade" (v. 37), e o título claramente não é um elogio! Além disso, a sensação aguda de choque por parte da multidão sugere que se tratava de mais do que apenas uma mulher de negócios desonesta.

Ela tem todas as aparências de uma mulher miserável de baixa posição social, cuja presença é considerada escandalosa pelos homens ali reunidos. A identificação dela como prostituta faz sentido com esses detalhes. Além disso, o ato de soltar os cabelos em público era um tabu social extremo naquela época. Esse gesto seria mais compreensível, no entanto, se a mulher exercesse uma profissão imoral e, portanto, estivesse acostumada a desrespeitar as normas sociais.

Com base nisso, é razoável inferir que a mulher pecadora anônima de Lucas 7 pode ter sido uma prostituta de algum tipo. Portanto, se também adotarmos o entendimento ocidental tradicional de que essa mulher é a Madalena, chegaremos à conclusão de que Maria Madalena era de fato uma ex-prostituta. (De fato, por muitos séculos antes da década de 1960, a leitura do Evangelho para o dia da festa de Santa Maria Madalena não era outra senão a passagem de Lucas 7!)

Hoje em dia, os estudiosos continuam a debater a identidade de Maria Madalena, e os católicos não são obrigados a adotar nenhum ponto de vista específico. No entanto, vale a pena reconhecer como a visão de Maria Madalena como uma heroína bíblica com um passado escandaloso tornou-se extremamente popular na Idade Média, levando à exaltação generalizada dessa bela santa. De fato, para muitos fiéis, a representação medieval de Maria Madalena como pecadora que se tornou santa ofereceu um modelo extraordinário de incentivo e inspiração. Aqui estava uma mulher que havia superado dramaticamente seus vícios, oferecendo esperança ao pecador mais empedernido.

Autor: Clement Harrold

Original em inglês: St. Paul Center