Maria Como A Causa Da Salvação
			            
Nosso mais novo Doutor da Igreja tinha algumas ideias sobre Maria que podem parecer... controversas.
Em 1º de novembro de 2025, São John Henry Newman será oficialmente nomeado o trigésimo oitavo Doutor da Igreja. Ele é o único Doutor da Igreja até o momento a ter escrito em inglês moderno. Nunca antes os católicos de língua inglesa puderam ler em seu próprio idioma as palavras escritas por um teólogo tão grandioso quanto São Tomás de Aquino ou Santo Agostinho. Deixem de lado suas traduções, porque teremos a oportunidade de ler as palavras que Newman escreveu.
E ainda, o Dicastério para a Doutrina da Fé irá publicar um documento em 4 de novembro sobre títulos de Nossa Senhora que falam sobre a "cooperação dela na obra da salvação".
Se eu dissesse que Maria é a causa da nossa salvação, esperaria que me chamassem de herege. No entanto, quando consideramos que Newman fez exatamente essa afirmação, ela exige uma explicação minuciosa. Ainda mais chocante é que Newman não inventou essa ideia. Em vez disso, ele citou o trigésimo sétimo Doutor da Igreja, Santo Irineu de Lyon.
Irineu não é um santo recente. Ele nasceu por volta do ano 140 d.C. e morreu por volta de 202. O Papa Francisco só o declarou trigésimo sétimo Doutor da Igreja recentemente, em 2022. Agora, três anos depois, Newman é o próximo teólogo a receber esse título extremamente raro. Quando consideramos que ambos chamaram Maria de causa da salvação, precisamos explicar o que eles queriam dizer com isso.
Começaremos com as Escrituras, para que os católicos não sejam acusados de acrescentar algo à Bíblia. Do início ao fim da Bíblia, onde quer que encontremos Jesus, encontramos também (direta ou indiretamente) a presença de Maria. Desde o primeiro momento em que o pecado entrou no mundo, em seu amor misericordioso, Deus nos prometeu um redentor: seu filho, Jesus Cristo. Na mesma ocasião, Deus também prometeu nos enviar Maria, quando disse à serpente: "Porei hostilidade entre ti e a mulher, entre tua linhagem e a linhagem dela. Ela te esmagará a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar" (Gênesis 3,15).
Desde o início da Bíblia, a profecia da vitória de Jesus sobre Satanás incluía Maria. No final da Bíblia, em Apocalipse 12, vemos novamente Jesus lutando contra Satanás. Mas ele não está sozinho. Lá está Maria, lutando contra Satanás ao seu lado.
Voltando nossa atenção para os Evangelhos, continuamos a ver Maria participando ativamente ao lado de Jesus em sua missão de redimir a humanidade do pecado.
Primeiro, Maria diz "sim" ao plano de Deus quando o anjo Gabriel lhe aparece para dizer que ela será a mãe do Messias (Lucas 1,26-38).
Segundo, quando Maria e José levam o menino Jesus ao Templo, Simeão profetiza sobre Jesus e Maria. Falando a Maria, ele diz: "Eis que este menino foi colocado para a queda e para o soerguimento de muitos em Israel, e como um sinal de contradição — e a ti, uma espada traspassará tua alma!" (Lucas 2,34-35).
Em terceiro lugar, é Maria quem inicia o ministério público de Jesus quando lhe pede que realize seu primeiro milagre público nas bodas de Caná. Jesus e Maria estão em um casamento quando o vinho acaba. Para evitar a humilhação pública do casal recém-casado, Maria diz a Jesus que não há mais vinho. Ela então se volta para os servos e diz: "Fazei tudo o que ele [Jesus] vos disser". O resto é história (João 2,1-12).
Por fim, Maria está presente aos pés da cruz. Certamente, esse é o momento em que sua alma é transpassada pela espada profetizada por Simeão (João 19,25-27).
A crucificação de Jesus é um exemplo claro de como Maria participou ativamente da obra de salvação de Jesus. Maria deve ter sentido cada golpe que Jesus sofreu. Não foi seu corpo que foi crucificado, mas seu coração materno.
Agora que vimos as raízes bíblicas da participação ativa de Maria no ato de redenção de Cristo, podemos entender melhor por que os primeiros cristãos tinham tanto a dizer sobre quem ela era. Três dos primeiros escritores cristãos apresentam Maria como a Segunda Eva: Tertuliano, São Justino Mártir e Irineu. Assim como Eva desempenhou um papel ativo ao levar Adão a comer o fruto proibido, Maria também desempenhou um papel ativo na obra de redenção de Jesus.
John Henry Newman observou que esses três Padres da Igreja "não falam da Virgem Santíssima meramente como o instrumento físico da encarnação de Nosso Senhor, mas como uma causa inteligente e responsável por isso" (Certas Dificuldades Sentidas pelos Anglicanos no Ensino Católico, vol. 2, p. 35). Sobre Irineu, Newman escreveu que ele "representa São João [o Apóstolo], pois [Irineu] havia sido ensinado pelo mártir São Policarpo, que era um associado íntimo de São João, assim como de outros apóstolos" (p. 33). Para Irineu, Eva era "a causa da morte tanto para si mesma como para toda a raça humana", enquanto Maria era "a causa da salvação" (p. 34).
Newman ficou tão impressionado com a frase de Irineu que, em seu livro Meditações e Devoções, cita essa mesma frase, escrevendo-a em maiúsculas para que não a perdêssemos: "a CAUSA DA SALVAÇÃO" (85).
Ao concluirmos este artigo, analisemos o que Newman quis dizer com essa frase. Ele escreveu: "Assim como [Maria] recompensa seus amigos, ela não o consideraria amigo, mas sim um traidor, aquele que a preferiu a [seu filho Jesus]" (79). Maria é como a estrela da manhã, que não brilha por si mesma, nem a partir de si mesma, mas é o reflexo dela e de nosso Redentor, e O glorifica. Quando ela aparece na escuridão, sabemos que Ele está perto. Ele é o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim.
Newman também não quis dizer que Maria é igual a Jesus. Para Newman, Jesus é Deus e, portanto, existe um abismo infinito entre Ele e Maria. No entanto, Jesus ama tanto Sua mãe que deseja que nós também a amemos e a honremos. É por isso que Jesus é tão receptivo às suas orações e intercessões. Maria é merecedora de todas as honras que a Igreja Católica lhe concedeu, pois isso condiz com ela, que é verdadeiramente a Mãe de Deus (72).
A Bíblia poderia ter dito que Deus esmagaria o diabo somente por meio de seu Filho unigênito. Mas não diz isso. Em vez disso, do princípio ao fim, a missão de Jesus e sua vitória sobre Satanás incluíram a participação ativa de Maria.
Autor: Diácono Paul Maxey
Original em inglês: Catholic Answers