Jesus Quer Orações Repetitivas

19/07/2025

Da próxima vez que um fundamentalista condenar a repetição, basta mostrar-lhe esse salmo.

Não é dos pregadores fundamentalistas da TV que devemos receber orientação sobre como rezar. Devemos aprender a rezar com o próprio Céu e com as instruções divinas fornecidas nas Escrituras e na Sagrada Tradição.

Tanto o Céu quanto a revelação divina nos ensinam a rezar - e a prática da repetição faz parte dessa instrução.

A oração é mais do que apenas pedir a Deus que nos dê coisas ou faça coisas por nós. É uma atitude de coração, por meio da qual "oramos sem cessar" (1Ts 5,17). O Catecismo define oração como "a elevação do espírito para Deus é uma expressão da nossa adoração ao mesmo Deus: oração de louvor e de ação de graças, de intercessão e de súplica" (C.I.C. 2098).

Podemos presumir que no reino celestial - habitado por Deus, seus anjos e seus santos - a oração e a adoração são conduzidas corretamente e servem de modelo para nós. Afinal de contas, no Pai Nosso, Jesus nos ensinou a pedir que "seja feita a vossa vontade, assim na Terra como no Céu". Portanto, vamos começar examinando alguns dos padrões de oração no céu, dos quais podemos receber instruções.

Em Apocalipse 4, uma porta para o Céu está aberta. O autor entra e contempla o trono de Deus cercado de uma glória indescritível, enchendo o reino celestial de orações e louvores. "Os quatro Seres vivos … E, dia e noite sem parar, proclamam: "Santo, Santo, Santo, Senhor, Deus todo-poderoso, 'Aquele-que-era, Aquele-que-é e Aquele-que-vem'". (v. 8).

Esse louvor em forma de oração é repetido em torno do trono de Deus vinte e quatro horas por dia, sem cessar. Deus recebe esse louvor perpétuo; de fato, tudo no Céu é feito de acordo com a Sua vontade. Deus deseja que Sua vontade seja feita não apenas no Céu, mas também na Terra. O Céu endossa a oração repetitiva.

A oração não é apenas uma atividade celestial. O Templo de Jerusalém transbordava de orações e salmos enquanto os israelitas seguiam as formas prescritas de adoração. Os Salmos são chamados de "Hinário dos Hebreus", e o Catecismo diz: "Os salmos constituem a obra-prima da oração no Antigo Testamento" (2596). Essas obras-primas da oração nos dão instruções adequadas sobre como rezar.

Pare por um momento e leia o Salmo 135(136)… (*) se, é claro, você não hesitar em recitar uma oração repetitiva. Como escreveu o grande pregador batista Charles H. Spurgeon, "Com base na assombrosa forma do salmo, poderíamos deduzir que era um hino popular, entre o antigo povo do Senhor". De todos os salmos, ele é conhecido como o "Grande Hallel" ou o "Grande Louvor", que era usado regularmente nas celebrações judaicas e na adoração diária. Foi cantado no Templo de Salomão e, portanto, também por Nosso Senhor.

O Salmo 135 poderia ser considerado o epítome bíblico da oração repetitiva. Em seus vinte e seis versículos, ele repete o refrão da oração "porque sua misericórdia é eterna" vinte e seis vezes. Qualquer pessoa que se abstenha da repetição na oração certamente deve evitar o Salmo 135.

Jesus repetiu a si mesmo em oração e nos incentivou a fazer o mesmo. Enquanto passava por grande agonia no Jardim do Getsêmani, Jesus orou: "Meu Pai, se é possível, que passe de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas como tu queres" (Mateus 26,39).

No versículo 42, diz-se que "pela segunda vez" Jesus orou exatamente as mesmas palavras e, depois, no versículo 44, Ele "orou pela terceira vez, dizendo de novo as mesmas palavras". Se Jesus se opunha a orações repetitivas, por que ele seria redundante "dizendo de novo as mesmas palavras" três vezes seguidas? Seu Pai não o ouviu na primeira vez? Ele realmente precisava se repetir várias e várias vezes?

Jesus também nos incentivou a sermos persistentes em nossas petições? Sim. Vamos dar uma olhada em alguns exemplos. Jesus instrui seus seguidores a "pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vos será aberto" (Mt 7,7). Os três imperativos nesse versículo estão no tempo presente e também poderiam ser traduzidos como 'continue pedindo', etc.. Os imperativos ou comandos estão no tempo presente porque o pedido deve ser contínuo. Em outras palavras, Jesus nos diz para pedir continuamente, persistentemente e repetidamente.

Nosso Senhor enfatiza isso novamente na parábola do juiz iníquo que "não temia a Deus e não tinha consideração para com os homens". Ele ignorou uma viúva que vinha a ele para obter justiça. Por fim, ele retrucou: "'essa viúva está me dando fastio, vou fazer-lhe justiça, para que não venha por fim esbofetear-me'. E o Senhor acrescentou: 'Escutai o que diz esse juiz iníquo. E Deus não faria justiça a seus eleitos que clamam a ele dia e noite,mesmo que os faça esperar?'" (Lucas 16,1-8).

Jesus disse a seus discípulos que não rezassem como os gentios que usavam "muitas palavras" e "pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras" (Mt 6,7). A a Bíblia de Jerusalém traduz isso como "vãs repetições". A maioria dos comentaristas remete isso à zombaria de Elias em relação aos profetas de Baal, que "deliravam" até o anoitecer sem nenhuma resposta do deus pagão. A tagarelice e a vã repetição deles, o amontoado de palavras sobre palavras, não surtiam efeito. A palavra grega usada por Jesus é battalogeō, que significa gaguejar, balbuciar, tagarelar, emitir sons sem sentido ou falar incoerentemente.

Jesus diz que não devemos tagarelar ou balbuciar como os incoerentes profetas pagãos de Baal, que "pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras".

Imediatamente após ordenar que não tagarelássemos com palavras amontoadas sobre palavras, Jesus nos diz para rezar assim: "Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu Nome, …" (Mt 6,8). Essa oração que Ele nos ensinou não é apenas um modelo de oração, mas a oração perfeita, uma oração revelada pelo coração de Deus. É uma oração que deve ser repetida com frequência e com o coração, não apenas palavras vazias enquanto nossa mente se desloca para outro lugar. É possível fazer essa oração com muita frequência? Deus ficaria descontente se repetíssemos essa oração com frequência? Creio que não.

Os primeiros cristãos repetiam o Pai Nosso com frequência, com base nos padrões judaicos de oração. Na Didaquê (um antigo manual de oração cristã e adoração litúrgica, escrito no ano 60 d.C.), lemos: "Não rezem como os hipócritas, mas como o Senhor ordenou no seu Evangelho. Rezem assim: "Pai nosso que estás no céu, santificado seja o teu nome…". Depois de recitar a oração na íntegra, ela conclui: "Rezem assim três vezes por dia" (VIII). Os primeiros cristãos, portanto, tinham o hábito de repetir o Pai Nosso pelo menos 1.095 vezes por ano, e provavelmente com mais frequência se incluirmos seu uso nas orações litúrgicas da Igreja.

Portanto, podemos concluir, com base no Céu, na Revelação Divina, nos ensinamentos de Nosso Senhor e na prática da Igreja primitiva, que não somos proibidos de repetir na oração, mas somos de fato instruídos a fazê-lo. No entanto, não são necessariamente as palavras que são importantes para Deus, mas uma oração sincera de nosso coração, repleta de louvor, intercessão e pedidos proferidos com um profundo amor a Deus, mesmo que usemos palavras e elas sejam repetidas.

"Ficai sempre alegres, orai sem cessar. Por tudo dai graças, pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito, em Cristo Jesus" (1Ts. 5,16-18).

Autor: Steve Ray

Original em inglês: Catholic Answers


Nota:

(*) Para entender a numeração do Livro de Salmos, leia "Traduções e variações" aqui.