Jesus Cura O Surdo-Mudo

23/11/2025

São os detalhes dessa história que oferecem provas surpreendentes da divindade de Jesus.

Para muitos, a imagem de Jesus como um realizador de milagres, retratada nos Evangelhos, soa como uma lenda. Ressuscitar mortos, curar cegos, fazer surdos ouvirem — esses feitos não parecem ser algo histórico.

Mas as próprias narrativas do Evangelho incluem pistas que apontam para uma direção diferente. Veja, por exemplo, a história de Jesus curando o surdo-mudo em Marcos 7,31-37. Quando olhamos mais de perto, várias linhas de evidência apoiam a conclusão de que essa história remonta ao próprio Jesus e não a uma invenção cristã posterior.

Detalhes Incomuns e Únicos

O primeiro ponto é que o relato de Marcos inclui detalhes que são surpreendentemente fora do comum para a tradição dos milagres nos Evangelhos. Como observa o estudioso da Bíblia John P. Meier em Um Judeu Marginal (volume 2), os gestos que Jesus realiza aqui se assemelham a ações simbólicas encontradas em rituais mágicos, o que os torna atípicos para o estilo usual de Jesus de realizar milagres. Tal singularidade sugere fortemente uma origem distinta — uma que remonta a Jesus, e não à comunidade cristã. Isso não significa que detalhes não únicos sugiram invenções, visto que a afirmação é simplesmente que, se um detalhe único, ou diferente, estiver presente, a probabilidade de tal detalhe ser autêntico aumenta. Concluir que tal detalhe não é autêntico porque não é único seria negar o antecedente, o que é uma falácia.

Por exemplo, Jesus coloca os dedos nos ouvidos do homem — um detalhe que não se encontra em nenhum outro lugar nas tradições dos milagres nos Evangelhos. Em seguida, ele aplica sua saliva diretamente no homem, algo que Marcos menciona apenas uma outra vez, na cura do cego em Betsaida (Marcos 8,22-26). João 9 inclui outro uso da saliva de Jesus, mas lá ela está misturada com lama, não aplicada diretamente. Ainda mais notável — e único em todos os quatro Evangelhos — é Jesus tocar a língua do homem com sua saliva.

Marcos também registra que Jesus "olhando para o céu, suspirou" (v. 34). Meier observa que Jesus "olhar para o céu" durante um milagre ocorre apenas duas vezes em outros relatos: na multiplicação dos pães e peixes (Mateus 14,19, Marcos 6,41, Lucas 9,16) e antes da ressurreição de Lázaro (João 11,41). Esses detalhes peculiares, inconsistentes com o padrão usual de Marcos na narrativa de milagres — onde Jesus simplesmente ordena que algo seja feito, como quando diz ao paralítico para se levantar e ir para casa (Marcos 2,11) — fornecem bons motivos para crer que Marcos está preservando uma memória histórica genuína, em vez de compor uma obra de ficção.

O Critério do Constrangimento

Essas características incomuns também atendem ao que os historiadores chamam de critério do constrangimento (ou do embaraço), o que reforça a alegação de autenticidade. Se a precisão histórica não é uma preocupação de alguém ao tentar persuadir os outros com uma história inventada, seria irracional incluir detalhes que pudessem minar a credibilidade.

Nesta história, porém, os gestos de Jesus — colocar os dedos nos ouvidos, usar saliva na língua — poderiam facilmente ser confundidos com atos de magia, algo que minaria, em vez de fortalecer, a fé em sua divindade. A Igreja primitiva tinha todos os motivos para não incluir tais elementos terrenos e constrangedores, o que pode ajudar a explicar por que Mateus e Lucas omitem a história completamente. A melhor explicação para Marcos a incluir é que ele está se baseando em uma tradição antiga — provavelmente recebida de Pedro — muito conhecida para ser suprimida, e que, em última análise, remonta ao próprio Jesus.

A mesma lógica se aplica ao suspiro de oração de Jesus antes de realizar o milagre. Inventar tal detalhe correria o risco de confundir os leitores: por que alguém divino precisaria rezar antes de realizar um milagre? A inclusão desse elemento poderia contradizer a argumentação de Marcos em defesa da divindade de Cristo. Portanto, sua inclusão só faz sentido se Marcos estiver relatando fielmente o que lhe foi lembrado, e não criando uma história inventada sobre um suposto milagreiro.

A Presença de um Semitismo

Outro sinal de autenticidade é a presença de um semitismo — um detalhe gramatical ou sintático que revela a influência da língua semítica. Os estudiosos consideram a presença de semitismos como uma boa razão para acreditar que a narrativa tem sua origem em uma comunidade palestina próxima à época de Jesus. E quanto mais próxima uma narrativa estiver dos eventos que narra, mais confiável ela será.

No versículo 34, Marcos preserva a palavra original de Jesus: Effatha, ("Abre-te"). Como Meier destaca, esse detalhe semítico é único, pois é o único milagre de cura em que as palavras aramaicas de Jesus são preservadas. A raridade dessa característica linguística fortalece ainda mais o argumento de que Marcos está se baseando em uma tradição genuína e antiga, enraizada no Jesus histórico. Pense bem: que utilidade teria uma palavra semítica para Marcos, que está tentando persuadir um público gentio da divindade de Jesus?

Atestado Múltiplo

Finalmente, o tema desta história — Jesus curando o surdo — aparece em múltiplas fontes independentes, o que confirma ainda mais sua autenticidade. Em Mateus e Lucas, Jesus diz aos discípulos de João: "cegos recuperam a vista, paralíticos andam, leprosos são curados, surdos ouvem" (Mt 11,5, Lc 7,22).

Se considerarmos como certo o conhecimento acadêmico de que Mateus e Lucas escreveram essas partes de seus Evangelhos a partir de uma fonte (chamada Fonte Q) e Marcos a partir de outra, então o exposto acima significa que a imagem de Jesus como aquele que faz "os surdos ouvirem" é atestada em múltiplos lugares — encontrada tanto na tradição independente de Marcos quanto na fonte de Mateus e Lucas. Além disso, é atestada em múltiplas formas: tanto em uma narrativa (Marcos 7) quanto em uma frase (Mateus e Lucas). Esse tipo de consistência entre fontes e formas fornece uma das confirmações históricas mais fortes disponíveis nos estudos dos Evangelhos.

Conclusão

Longe de ser um embelezamento lendário, o relato de Marcos sobre a cura do surdo-mudo apresenta as marcas de um evento histórico genuíno. Seu realismo incomum, os traços linguísticos e as múltiplas confirmações apontam para uma história enraizada na memória dos atos reais de Jesus, e não na imaginação de fiéis posteriores.

Em suma, o que os céticos consideram matéria de lenda, sob análise histórica, revela-se surpreendentemente semelhante à história real. Quanto mais examinamos os Evangelhos, mais eles ressoam com a voz — e o toque — do Jesus verdadeiro.

Autor: Karlo Broussard

Original em inglês: Catholic Answers