D. Athanasius Schneider Sobre A Validade Do Papa Francisco

20/09/2023

Antes de passarmos ao conteúdo da mensagem de D. Athanasius Schneider sobre a validade do Papa Francisco enquanto Papa, Supremo Pontíficie da Igreja Católica Apostólica Romana, cabe esclarecer àqueles que nunca ouviram falar: Quem é D. Athanasius Schneider?

D. Athanasius Schneider, O.R.C. (nascido Anton Schneider, em 7 de abril de 1961) é um bispo católico romano do Cazaquistão, bispo auxiliar de Astana. É o Secretário Geral da Conferência Episcopal do Cazaquistão. É membro do Cónego Regular da Santa Cruz de Coimbra. Ele é conhecido por defender e praticar a liturgia tradicional pré-Vaticano II e por protestar contra certas políticas associadas ao Papa Francisco.

D. Athanasius Schneider é autor de livros, tais como: Dominus Est! E O Senhor!, "Corpus Christi - A Sagrada Comunhão e a Renovação da Igreja", dentre outros livros ainda não disponíveis em português.

Ele nasceu de pais alemães em 7 de abril de 1961 em Tokmok, Kirghiz SSR, na União Soviética, onde sua família recebeu o cuidado pastoral do Pe. Oleksa Zaryckyj, que mais tarde se tornou um mártir beatificado pela fé. O próprio Bispo Schneider recebeu sua primeira comunhão em segredo, já que a prática da fé era proibida pelo regime comunista. Em 1973, ele partiu com sua família para a Alemanha.

Mais tarde, ingressou nos Cônegos Regulares da Santa Cruz de Coimbra, uma ordem religiosa católica, onde recebeu o nome religioso de Athanasius. Foi ordenado sacerdote pelo Bispo Dom Manuel Pestana Filho, de Anápolis,GO, Brasil, em 25 de março de 1990, e passou vários anos como sacerdote no Brasil antes de retornar à Ásia Central. Em 1999, tornou-se professor de Patrística no Seminário Maria, Mão de Deus, em Karaganda. Em 1997, obteve o doutorado em patrologia no Augustinianum, em Roma. 

Em junho de 2006, foi consagrado bispo no Altar da Cátedra de São Pedro, no Vaticano. Em seguida, foi designado para o cargo de bispo auxiliar na Arquidiocese de Astana. É Secretário Geral da Conferência Episcopal do Cazaquistão e Bispo Titular de Celerina, na Suíça.

Portanto, D. Athanasius Schneider, assim como outros prelados da Igreja, tem autoridade, conhecimento, equilíbrio e fé sobrenatural para dar esclarecimentos sobre o tema.

Dito isso, passemos à sua mensagem:

Não existe autoridade para que se declare ou considere um Papa eleito e amplamente reconhecido e aceito como um Papa inválido. A prática constante da Igreja torna evidente que, mesmo no caso de uma eleição inválida, essa eleição inválida será de fato sanada por meio da aceitação geral do novo eleito pela maioria esmagadora dos cardeais e bispos.

Mesmo no caso de um papa herético, ele não perderá seu cargo automaticamente e não há nenhum órgão dentro da Igreja para declará-lo deposto por causa de heresia. Tais ações se aproximariam de um tipo de heresia denominada conciliarismo ou episcopalismo. A heresia do conciliarismo ou episcopalismo diz basicamente que há um órgão dentro da Igreja (Conselho Ecumênico, Sínodo, Colégio de Cardeais, Colégio de Bispos) que pode emitir um julgamento legalmente vinculativo sobre o papa.

A teoria da perda automática do papado devido à heresia continua sendo apenas uma opinião, e até mesmo São Roberto Belarmino percebeu isso e não a apresentou como um ensinamento do próprio Magistério. O Magistério papal perene nunca ensinou tal opinião. Em 1917, quando o Código de Direito Canônico (Codex Iuris Canonici) entrou em vigor, o Magistério da Igreja eliminou da nova legislação a observação do Decretum Gratiani no antigo Corpus Iuris Canonici, que afirmava que um Papa que se desvia da doutrina correta podia ser deposto. Nunca na história o Magistério da Igreja se admitiu qualquer procedimento canônico de deposição de um papa herético. A Igreja não tem poder formal ou judicial sobre o papa. A tradição católica mais segura diz que, no caso de um papa herético, os membros da Igreja podem evitá-lo, resistir a ele, recusar-se a obedecê-lo, e tudo isso pode ser feito sem a necessidade de uma teoria ou opinião que diga que um papa herético perde automaticamente seu cargo ou, em consequência, pode ser deposto.

Portanto, devemos seguir o caminho mais seguro (via tutior) e nos abster de defender a mera opinião de teólogos (mesmo que sejam santos como São Roberto Belarmino), que dizem que um papa herético perde automaticamente seu cargo ou pode ser deposto pela Igreja.

O papa não pode cometer heresia quando fala ex cathedra, esse é um dogma de fé. Entretanto, em seus ensinamentos fora das declarações ex cathedra, ele pode cometer ambiguidades doutrinárias, erros e até heresias. E como o papa não é idêntico à Igreja inteira, a Igreja é mais forte do que um único papa errôneo ou herético. Nesse caso, deve-se corrigi-lo respeitosamente (evitando a raiva puramente humana e a linguagem desrespeitosa), resistir a ele como se resistiria a um mau pai de família. No entanto, os membros de uma família não podem declarar seu mau pai destituído da paternidade. Eles podem corrigi-lo, recusar-se a obedecê-lo, separar-se dele, mas não podem declará-lo destituído.

Os bons católicos conhecem a verdade e devem proclamá-la, oferecer reparação pelos erros de um papa errôneo. Como o caso de um papa herético é humanamente irresolúvel, devemos implorar com fé sobrenatural uma intervenção divina, porque esse papa errante singular não é eterno, mas temporal, e a Igreja não está em nossas mãos, mas nas mãos onipotentes de Deus.

Devemos ter fé sobrenatural, confiança, humildade e espírito de cruz suficientes para suportar uma provação tão extraordinária. Em situações tão relativamente curtas (em comparação com 2000 anos), não devemos ceder a uma reação muito humana e a uma solução fácil (declarar a invalidade de seu pontificado), mas devemos manter a sobriedade (manter a cabeça fria) e, ao mesmo tempo, uma verdadeira visão sobrenatural e confiança na intervenção divina e na indestrutibilidade da Igreja.

+ Athanasius Schneider

Original em inglês: 1P5 - 1Pedro 5