Cristã Sobrevivente Do Terrorismo: ‘Rezem Pelo Boko Haram'

22/01/2025
Afordia fala à CNA em Roma, na sexta-feira, 17 de janeiro de 2025, sobre ter sido atacada por terroristas na Nigéria. | Crédito: Alberto Basile/CNA
Afordia fala à CNA em Roma, na sexta-feira, 17 de janeiro de 2025, sobre ter sido atacada por terroristas na Nigéria. | Crédito: Alberto Basile/CNA

Uma mulher nigeriana cujo marido foi morto pelo Boko Haram em 2014 pediu orações pelos cristãos perseguidos e pelo grupo terrorista, "para que eles sejam salvos, para que Jesus se revele ao coração deles, para que se arrependam".

"Eu rezei por aqueles que mataram meu marido e disse: 'Eu os perdoei de coração. Não há problema algum'. Eles não sabem o que estão fazendo. Eles são incrédulos", disse Afordia, que pediu à CNA para ser identificada apenas pelo primeiro nome durante uma entrevista em Roma na semana passada.

Afordia viajou de sua cidade natal, Mubi, no nordeste da Nigéria - onde o extremismo está concentrado - para compartilhar seu testemunho em uma apresentação, em 15 de janeiro, sobre a perseguição cristã em todo o mundo, feita pelo grupo de defesa Portas Abertas.

A World Watch List [Lista de Vigilância Mundial] de 2025 identificou a Nigéria, que vem lutando contra a violência extremista muçulmana desde 2009, como um dos piores países do mundo em termos de perseguição aos cristãos. O relatório constatou que 3.100 cristãos foram mortos na Nigéria em 2024.

Afordia, cujo marido foi baleado na frente dela depois de se declarar cristão, disse que, apesar do que isso lhe custou, ela nunca desistirá de sua fé em Jesus Cristo.

"O que Deus está fazendo é a verdade. O cristianismo é a verdade. Cristo é o único que salva", disse ela à CNA. "Mesmo que hoje eles me matem, despedacem meu corpo - pedaço por pedaço - não deixarei de seguir a Cristo porque ele é o Salvador deste corpo e o Salvador desta vida."

A história de Afordia

O Boko Haram, uma seita extremista muçulmana classificada como grupo terrorista pelo Departamento de Estado dos EUA, atacou Mubi, na Nigéria, em 29 de outubro de 2014.

Afordia descreveu a confusão que se instalou em Mubi naquele dia, quando o barulho de armas e bombas interrompeu as atividades no meio da manhã e os moradores da cidade correram para casa, vindos do trabalho e da escola.

Afordia, que ajudava a sustentar sua família como agente comunitária de saúde e avicultora, e seu marido, pastor da Igreja Pentecostal Triunfo da Fé, entraram em seu carro para procurar seus cinco filhos, que haviam desaparecido no caos do ataque.

Foi então que o casal, sem querer, entrou em uma emboscada.

"Eles me pararam e meu marido e pediram que nós dois saíssemos do carro, o que fizemos, e o Boko Haram começou a lhe fazer perguntas: "Você é muçulmano ou infiel? Ele disse: "Não sou muçulmano. Não sou infiel. Sou cristão". Foi assim que lhe pediram para virar para o lado direito da estrada, o que ele fez", lembrou Afordia.

"Imediatamente, ele se ajoelhou e começou a rezar", disse ela. Os extremistas atiraram cinco vezes na cabeça de seu marido enquanto ela olhava.

Depois de matar seu marido, os homens se voltaram para Afordia e lhe fizeram as mesmas perguntas. "Fechei meus olhos. Estava com muito medo, assustada de ver como eles iriam me matar", disse ela. "Levantei minhas duas mãos para o céu. Estava rezando em meu coração: 'Senhor, receba minha alma hoje porque eu irei vê-Lo'. Então, naquela posição, ouvi um grito do outro lado, do próprio Boko Haram: 'Pare! Quem pediu para vocês matarem essa mulher? Deixem-na em paz'".

Surpreendentemente, os agressores deixaram Afordia sair com seu carro e ir embora. Ela logo encontrou seu filho mais novo, um adolescente na época, e os dois abandonaram o carro e fugiram para as montanhas.

Com ajuda, eles acabaram sendo evacuados para a capital do estado, onde Afordia acabou se reunindo com seus outros quatro filhos adultos jovens. Ela retornou a Mubi cerca de um mês depois, após a cidade ter sido liberada pelo governo. Ela explicou que muitos dos moradores de Mubi, no entanto, nunca mais voltaram após o ataque.

Ela recuperou o corpo do marido, que estava abandonado sob sol, e fez um enterro adequado, mas estava sofrendo de trauma. "Eu estava tão dispersa", ela descreveu. "Noites sem dormir. Eu não era eu mesma. Estava andando como uma mulher louca. Para mim, a vida não significa nada novamente."

O grupo Portas Abertas ajudou Afordia a receber tratamento de saúde mental no Brasil. Eles também forneceram assistência financeira, já que ela havia perdido seu sustento após o ataque.

"Foi assim que consegui me recompor", disse ela. "Naquela época, meu coração estava pensando em lembrar o que Jesus ensinou sobre o perdão. Consegui me lembrar e rezei por aqueles que mataram meu marido".

Hoje, Afordia é uma avó aposentada de cinco filhos que continua a cultivar seus próprios produtos e a ajudar em sua igreja presbiteriana, onde ensina a fé.

Pedindo orações, ela disse que seria melhor ser morta do que ser subjugada à tortura brutal que alguns cristãos na Nigéria e em outros países subsaarianos sofreram.

"Muitas coisas cruéis estão acontecendo. Quero que os cristãos onde há menos perseguição rezem pelos cristãos [na África] para que Deus os liberte, para que Deus os veja e os salve."

"O que me dá coragem?", disse ela. "Em primeiro lugar, Cristo é o único que dá vida. Não há salvação em nenhum outro lugar, exceto em Cristo".

"Quando Deus estava criando Seu mundo, a escuridão o cobria. E quando a escuridão a cobria em Gênesis 1, Deus não se importou com essa escuridão. Ele continuou a dizer que se fizesse a luz, que se fizesse isso, que se fizesse aquilo. Portanto, isso me dá coragem para continuar como cristão, mesmo que o diabo esteja atacando seriamente o que Deus iniciou. Isso não me impedirá de seguir a Cristo porque sei que é a verdade", afirmou ela.

"Qualquer outra religião (...) que surja é apenas para se opor ao que Deus planejou para o homem", acrescentou Afordia. "Ele planejou suas coisas de modo que o homem seja salvo."

Autora: Hannah Brockhaus

Original em inglês: CNA - Catholic News Agency