Coragem Sob Ataque: Uma Homenagem Ao Papa São Paulo VI

Quando me formei no meu grande colégio público em 1964, não me lembro de jamais ter ouvido a palavra maconha. Quatro anos depois, ao concluir a faculdade, já era possível sentir o cheiro da erva pairando pelo campus. Os protestos contra a Guerra do Vietnã estavam em plena ebulição, e a revolução sexual varria normas morais seculares sobre casamento, sexo e família.

Mas a revolução não era apenas sexual. Ela atingia profundamente o coração dos dogmas e tradições da Igreja e da sociedade. Tudo estava sendo questionado. Se participei de uma? Participei de mais de uma dúzia de palestras que começavam com algo assim: "Até o Concílio Vaticano II, acreditávamos nisso ou naquilo, mas agora vemos claramente que...". O Papa Bento XVI chamou isso de "hermenêutica da descontinuidade e da ruptura". No seminário que frequentei, a atitude geralmente era: "Devemos à Tradição e aos ensinamentos oficiais da Igreja um respeito crítico; agora, pelo restante do semestre, vamos ver o que os teólogos dissidentes mais modernos têm a nos ensinar".

O mundo, católico e não católico, estava virando de cabeça para baixo, pois uma tempestade perfeita de guerras, protestos, dissidências e o abandono de tudo o que veio antes parecia prestes a varrer tudo em seu caminho. Contra essa maré aparentemente invencível de perturbação e destruição estava um frágil, reservado e intelectual servo de Deus e de sua Igreja, elevado ao papado em 1963 como Papa Paulo VI, canonizado em 2018 e agora oficialmente Papa São Paulo VI.

Ele sabia o que o esperava. Ele conhecia a situação da Igreja e do mundo, lamentando em certo momento que a fumaça de Satanás havia entrado nos santuários da Igreja. A supresa não é que ele não estivesse sempre com uma cara sorridente; a surpresa é que esse homem de saúde cronicamente debilitada pudesse suportar o peso da responsabilidade que lhe foi imposta.

Especialistas insistiam que a Igreja deveria mudar seu ensinamento imemorial sobre a contracepção artificial e, por implicação, tudo o que decorre da separação entre os aspectos unitivo e procriativo do ato sexual. Ele manteve-se firme, publicando, em 1968, a mais controversa encíclica dos tempos modernos: Humanae Vitae.

Vendo crescer a confusão entre os católicos a respeito dos dogmas antigos da fé, ele promulgou o magnífico — e pouco conhecido ou valorizado — Credo do Povo de Deus, uma meditação extensa e clarificadora sobre o Credo Niceno-Constantinopolitano.

Profundamente devoto da Santíssima Virgem Maria, procurou fomentar entre os fiéis essa mesma e salutar devoção em duas de suas sete encíclicas.

Por vezes acusado de pender demais para a direita, moral e dogmaticamente, também era acusado de pender demais para a esquerda em questões de justiça social. Ambas as acusações são injustas: seus críticos esqueciam — ou ignoravam — a famosa máxima de Santo Agostinho: "Nas coisas essenciais, a unidade, nas duvidosas a liberdade e em tudo a caridade".

Quando se tratava de manter-se firme nos ensinamentos essenciais da Igreja, Paulo VI era uma rocha. Já quanto aos juízos prudenciais sobre, por exemplo, como conciliar o direito à propriedade privada com a destinação universal dos bens da terra para o bem de todos, ele advertia — mesmo antes do papado — num pequeno livro intitulado 'The Christian in the Material World'(1), que "A prosperidade econômica nos absorve cada vez mais, como se quisesse primeiro nos atrair, depois nos encantar e, por fim, nos escravizar" — um alerta que não difere muito das advertências frequentes de Jesus contra os perigos das riquezas.

Críticos de Paulo VI ainda encontraram razões para atacá-lo após um trágico episódio que marcou o fim de sua vida. Seu amigo, o ex-primeiro-ministro italiano Aldo Moro, foi sequestrado por um grupo terrorista de extrema esquerda, as Brigadas Vermelhas. O Papa Paulo VI escreveu uma carta comovente aos sequestradores, suplicando (de joelhos, disse ele) pela libertação de Moro — o que lhe rendeu a acusação de ter sido indulgente com os terroristas. Seus acusadores deveriam ter considerado que homens de bem — diante de circunstâncias tão trágicas e desesperadoras — podem empregar abordagens diferentes para encontrar o melhor caminho. No fim, o corpo crivado de balas de Moro foi encontrado dentro de um carro em Roma. As feridas do Papa — infligidas por críticos e dissidentes ao longo de muitos anos — eram, sem dúvida, ainda mais numerosas, embora invisíveis.

Muitas vezes se insinua que um papa diferente ou uma abordagem diferente para, digamos, as observâncias litúrgicas, teria poupado a Igreja do trauma de deserções em massa dos bancos, seminários vazios e número cada vez menor de religiosos. Mas, pela minha experiência, em um mundo complexo, povoado por seres humanos igualmente complexos, não há varinhas mágicas ou balas de prata para responder ao que nos aflige. Mas existem dogmas e absolutos morais, que estabelecem os limites fora dos quais nos desviamos por nossa própria conta e risco. Dentro desses limites, há uma ampla latitude na busca de abordagens para resolver problemas e tratar de questões, nenhuma perfeita e nenhuma definitiva, dado o fluxo da história.

O Papa Bento XVI declarou que Paulo VI viveu uma vida de virtudes heroicas. O Papa Francisco o canonizou. Dois papas muito diferentes, unidos na mesma opinião sobre um terceiro. Eu me uno a eles, contra os cínicos, os que julgam depois dos fatos e os críticos de bastidores que difamam o bom nome desse santo homem. E permaneço em admiração e reverência diante de um homem que demonstrou extraordinária coragem e serenidade sob ataque. Sei que jamais teria conseguido fazer o mesmo por tanto tempo e com tamanha dignidade. Duvido que muitos de seus críticos tivessem conseguido. São Paulo VI, rogai por nós.

Autor: Mons. Charles Fink

Original em inglês: The Catholic Thing

Nota:

(1) - Sem tradução para o português. Em uma tradução livre: 'O Cristão no Mundo Material' baixar aqui.

Sugestão de Leitura:

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