Contestando O Filme ‘Mass Of The Ages'

10/12/2022

Uma análise da propaganda e desinformação encontrada na trilogia 'Mass of the Ages' [A Missa de Todos os Séculos]. Obrigatório para os católicos que desejam encontrar um caminho seguro em meio às confusões litúrgicas que assolam a Igreja no momento.



Bibliografia e Leituras Adicionais:

Catecismo da Igreja Católica (sobre a Sagrada Eucaristia)

Mediator Dei (Papa Pio XII, 1947)

Summorum Pontificum e Carta que Acompanha (Papa Bento XVI, 2007)

Traditionis Custodes e Carta que Acompanha (Papa Francisco, 2021)

Desiderio Desideravi (Papa Francisco, 2022)

Introdução ao Espírito da Liturgia (Cardeal Ratzinger, 2000)

The History and Future of the Roman Liturgy (Denis Crouan, 2005)

The History of the Mass (Abbe Amiot, 1960)

A Reforma Litúrgica (Annibale Bugnini, 2018)

The Banished Heart (Geoffrey Hull, 2010)

Why Catholics Can't Sing (Thomas Day, 1991)

Adoremus

Church Documents on the Liturgy


Notas:


Nota 1:

O objetivo deste gráfico é contrapor à falsa impressão dada no filme "Mass of the Ages" que as igrejas protestantes não viram uma diminuição após a década de 1970 (foram usadas estatísticas de 'mega igrejas' dos EUA. O gráfico trata da participação de fiéis em muitas igrejas nos EUA e observa-se que a mudança na liturgia católica obviamente teve pouco ou nenhum impacto na participação na Missa.


Nota 2:

Padre Annibale Bugnini foi Secretário do Conselho - Consilium - para a Implementação da Constituição sobre a Sagrada Liturgia (1964-1969). O Consilium era constituído por 2 Cardeais Presidentes, 58 Prelados, mais de 74 Conselheiros e 154 Consultores.


Nota 3:

Não houve destruição do rito da Missa. Na realidade, muitos elementos da Missa na forma antiga estão presentes no  Missale Romanum atual, modificados ou não, a saber:

Asperges Me

Confiteor

Ad orientem - opcional

Cantos Próprios - opcional

Glória cantado

Prefácio cantado

Pater Noster cantado

A Missa inteira, incluindo o cânon, pode ser cantada.

Orações do Ofertório

Canon Romano

Ritual do Lavabo


Nota 4:

A imagem idealizada de um desenvolvimento contínuo da fidelidade e pureza litúrgica antes do Vaticano II é uma fantasia. A história litúrgica é, na verdade, um tanto caótica:

Século VIII - Cânon recitado em voz baixa

Século VIII - Agnus Dei inserido pelo Papa Sérgio I, aparecendo no Ordo Romanus I (que é datado                                      entre 687 - 750AD)

Século XI - Credo na Missa adotado em Roma

Século XII - A hóstia começa a ser elevada após a consagração

Século XIII - Sistematização do uso de vestimentas coloridas

Século XIV - O cálice é elevado após a consagração

Século XV - Genuflexões extras do século XV adicionadas ao Cânon

Século XVI - Removidas as orações dos fiéis e a procissão do ofertório.

Século 16 - 'Orações ao pé do altar' adicionadas e o Último Evangelho torna-se obrigatório.

Século XVI - Tabernáculos aparecem em altares

Século XVII - Papa Clemente VIII corrigiu/modificou partes do Missal Romano emitido por Pio V.

Século XVIII - Embelezamento considerável com 'pompa' cerimonial

Século XIX - Renascimento do Canto Gregoriano devido a Dom Prosper Gueranger O.S.B.


Nota 5

O Falso 'Encontro' com Todos os Bispos

O 'Mass of the Ages' dá a impressão de que, quando o Missal de 1970 foi apresentados aos Bispos em uma reunião Sinodal, a maioria não era a favor.  Esta não é uma imagem precisa!

Nem TODOS os Bispos estavam presentes

Das três reuniões de avaliação do Novo Missal (outubro de 1965, outubro de 1967 e janeiro de 1968), apenas uma avaliação se deu no Sínodo dos Bispos (197 presentes). As outras duas avaliações foram assuntos estritamente privados com participantes selecionados.

Lefebvre NÃO estava presente

Ao contrário da impressão dada, o Arcebispo Lefebvre nunca esteve presente em nenhuma das avaliações. Vale notar que o texto final da Missa foi aprovado pela Congregação para a Doutrina da Fé no final de 1969 para certificar a precisão teológica.

Solene demais para bispos de língua inglesa

As maiores preocupações dos bispos de língua inglesa não eram que a Missa experimentais fossem "muito simples", mas que fossem muito "solenes". Eles reclamaram que havia muito canto e entoação (adaptado do Graduale Simplex).

Maioria dos Bispos APROVARAM

Em cada série de avaliações, a esmagadora maioria dos Bispos aprovavam os textos, alguns fazendo sugestões que foram posteriormente analisadas e muitas vezes modificados pelo Consilium e pelo Papa.

Vide: 'A Reforma Litúrgica' por A. Bugnini.


Nota 6:

Missal do Papa Pio V

É Necessariamente um Baluarte da Fé Ortodoxa?

Luteranos escandinavos continuaram a usar o Missal Tridentino após a Reforma. A maioria dos Véterocatólicos (um grupo cismático) usa a Antiga Forma da Missa.

A comunidade da Missa Latina Galicana de Santa Rita em Paris (ainda em funcionamento em 2016) usa a Forma Antiga da Missa e eles:

permitem que seus padres se casem

permitem diaconisas

permitem o casamento de divorciados sem anulação da igreja

acreditam na santidade dos animais!

Obs: Sobre a Missa Latina Galicana de Santa Rita: Crouan, D. (2005), 'The History and Future of the Roman Rite', Ignatius Press. p. 84.). Sem tradução para o português.


Nota 7:

Inovações na Liturgia Permanecem ao Longo da História

Século VIII - Cânon recitado em voz baixa

Século VIII - Agnus Dei inserido pelo Papa Sérgio I, aparecendo no Ordo Romanus I (que é datado entre                                     687 - 750AD)

Século XI - Credo na Missa adotado em Roma

Século XII - A hóstia começa a ser elevada após a consagração

Século XIII - Sistematização do uso de vestimentas coloridas

Século XIV - O cálice é elevado após a consagração

Século XV - Genuflexões extras do século XV adicionadas ao Cânon

Século XVI - Removidas as orações dos fiéis e a procissão do ofertório.

Século 16 - 'Orações ao pé do altar' adicionadas e o Último Evangelho torna-se obrigatório.

Século XVI - Tabernáculos aparecem em altares

Século XVII - Papa Clemente VIII corrigiu/modificou partes do Missal Romano emitido por Pio V.

Século XVIII - Embelezamento considerável com 'pompa' cerimonial

Século XIX - Renascimento do Canto Gregoriano devido a Dom Prosper Gueranger O.S.B.

Nota 8:


A Revisão do Novo Missal

"Para conservar a sã tradição e abrir ao mesmo tempo o caminho a um progresso legítimo, faça-se uma acurada investigação teológica, histórica e pastoral acerca de cada uma das partes da Liturgia que devem ser revistas." - Sacrosanctum Concilium § 23, ênfase adicionada.

O Concílio Vaticano II pediu que os livros litúrgicos fossem:

- Revisados o mais rápido possível 

- Especialistas deveriam ser empregados na tarefa

- Bispos deveriam ser consultados, de várias partes do mundo. 

cf. Sacrosanctum Concilium § 25

>TUDO ISSO FOI FEITO<


Nota 9

Restaurações vistas no Novo Missal

Algumas adições ao Missal de 1970 foram restaurações da antiga prática litúrgica:


Nota 10

A Língua Latina: Alguns fatos e história.

• Nos anos 300, a liturgia mudou do grego para o latim, porque o latim era o vernáculo.

• A sugestão de usar o vernáculo foi levantada no Concílio de Trento - muitos Padres Conciliares foram a favor.

- Hubert Jedin, historiador do Concílio de Trento, afirmou que o Concílio deixou as portas abertas para o vernáculo.

- A proibição foi colocada no uso exclusivo do vernáculo para a Missa como salvaguarda da contra-Reforma.

• O latim ainda é a língua padrão do Rito Romano, mas a Igreja permite traduções vernáculas (Cânon 928).

• A tradução vernacular de toda a Missa foi uma resposta ao grande entusiasmo dos bispos de todo o mundo em prol de uma melhor compreensão do mistério celebrado (cf. IGRM 11, 12).

• No entanto, as pessoas devem saber dizer (e cantar) suas partes em latim (GIRM 41).

As Edições Típicas do Missale Romanum são sempre lançadas em latim (1970, 1971, 1975, 2002, 2008)


Nota 11

As Orações do Ofertório

O Concílio de Trento selecionava as antigas orações do ofertório

• de um livro de orações privado

• da oração de abertura do Natal (versão modificada ainda presente no Missal de 2002)

• de outro rito antigo

(Cf: Old Catholic Encyclopedia)

As Novas Orações do Ofertório (1970), em consonância com a Sacrosanctum Concilium §21, enfatizam a apresentação das oferendas, em vez de antecipar o Cânon. - Veja CIC 1350 e Sacramentum Caritatis §47 para explicação. Elas foram inspiradas nas orações do kidush usadas na Refeição Judaica da Páscoa, ou seja, desde o tempo de Nosso Senhor.

(Vide: Jewish Encyclopedia

Nota 12

Orações Eucarísticas 
Não são meras 'inovações'

Em outubro de 1967, a esmagadora maioria dos Bispos no Sínodo em Roma votou "sim" para se ter mais três Orações Eucarísticas. (Cf. Reforma Litúrgica, p.351)

Não é antitradicional fazer várias orações eucarísticas - o Rito Maronita tem pelo menos seis e outros ritos orientais têm muito mais.


Nota 13

Citações Úteis

"Regular a sagrada Liturgia compete unicamente à autoridade da Igreja, a qual reside na Sé Apostólica e, segundo as normas do direito, no Bispo. - Sacrosanctum Concilium, §22

"[A Liturgia pré-vaticano II] estava quase encoberta por sucessivos rebocos ... para os fiéis ... ela aparecia amplamente escondida pelas instruções e fórmulas de oração de caráter privado." - Introdução ao Espírito da Liturgia, Cardeal Ratzinger

"A garantia mais segura que há de o Missal de Paulo VI poder unir as comunidades paroquiais e ser amado por elas é celebrar com grande reverência em conformidade com as rubricas; isto torna visível a riqueza espiritual e a profundidade teológica deste Missal." - Carta que acompanha o Motu proprio Summorum Pontificum, Papa Bento XVI

"Ao mesmo tempo, peço-vos que estejam vigilantes para assegurar que cada liturgia seja celebrada com decoro e fidelidade aos livros litúrgicos promulgados após o Concílio Vaticano II, sem as excentricidades que podem facilmente degenerar em abusos." - Carta que acompanha o Motu proprio Traditionis Custodes, Papa Francisco

"Ao invés de ser uma ocasião para confrontar e odiar uns aos outros, a liturgia deveria nos unir a todos na unidade da fé." - Cardeal Sarah, Discurso de 2017.


Nota 14

O verdadeiro significado de
'Mass of the Age'
- A Missa de Todos os Século -
(CIC, 81345-1347)

1345. Desde o século II, temos o testemunho de São Justino, mártir, sobre as grandes linhas do desenrolar da celebração eucarística. Permaneceram as mesmas até aos nossos dias, em todas as grandes famílias litúrgicas. Eis o que ele escreve, cerca do ano 155, para explicar ao imperador pagão Antonino Pio (138-161) o que fazem os cristãos:

«No dia que chamam Dia do Sol, realiza-se a reunião num mesmo lugar de todos os que habitam a cidade ou o campo.Lêem-se as memórias dos Apóstolos e os escritos dos Profetas, tanto quanto o tempo o permite.Quando o leitor acabou, aquele que preside toma a palavra para incitar e exortar à imitação dessas belas coisas.Em seguida, levantamo-nos todos juntamente e fazemos orações» «por nós mesmos [...] e por todos os outros, [...] onde quer que estejam, para que sejamos encontrados justos por nossa vida e acções, e fiéis aos mandamentos, e assim obtenhamos a salvação eterna.Terminadas as orações, damo-nos um ósculo uns aos outros.Depois, apresenta-se àquele que preside aos irmãos pão e uma taça de água e vinho misturados.Ele toma-os e faz subir louvor e glória ao Pai do universo, pelo nome do Filho e do Espírito Santo, e dá graças (em grego: eucharistian) longamente, por termos sido julgados dignos destes dons.Quando ele termina as orações e acções de graças, todo o povo presente aclama: Ámen.[...] Depois de aquele que preside ter feito a acção de graças e de o povo ter respondido, aqueles a que entre nós chamamos diáconos distribuem a todos os que estão presentes pão, vinho e água "eucaristizados" e também os levam aos ausentes».

1346. A liturgia eucarística processa-se em conformidade com uma estrutura fundamental, que se tem conservado através dos séculos até aos nossos dias. Desdobra-se em dois grandes momentos, que formam basicamente uma unidade:

- a reunião, a liturgia da Palavra, com as leituras, a homilia e a oração universal;- a liturgia eucarística, com a apresentação do pão e do vinho, a acção de graças consecratória e a comunhão.

Liturgia da Palavra e liturgia eucarística constituem juntas "um só e mesmo acto de culto". Com efeito, a mesa posta para nós na Eucaristia é, ao mesmo tempo, a da Palavra de Deus e a do corpo do Senhor.

1347. Não é esse também o dinamismo da refeição pascal de Jesus Ressuscitado com os seus discípulos? Enquanto caminhavam, Ele explicava-lhes as Escrituras; depois, pondo-Se à mesa com eles, «tomou o pão, proferiu a bênção, partiu-o e deu-lho».