6 Passos da Tentação Que Nem Adão, Nem Eva e Nem Você ou Eu Entendemos Completamente

25/12/2018

O Mal. Qual é a fonte do mal? Para alguns, a resposta é simples: a fonte do mal é o diabo. Para outros, a resposta se concentra no ser humano: somos maus por natureza. Nossa carne é o que nos faz pecar? Aprofundando um pouco, seria um erro pensar que nosso corpo, nossa natureza, a mesma natureza do Filho de Deus encarnado, é má. Não poderia ser assim. Tomas Spidlik[1] diz "... seria um erro acreditar que nosso corpo é mau. O corpo de Cristo é santo e somos chamados a santificar nossos corpos em união com Cristo".

É o pecado que cometemos sob o consentimento genuíno que traz o mal ao mundo. A realidade da fonte do mal em si ainda é um mistério. Muitas vezes, a tentação vem do diabo, mas às vezes simplesmente decidimos por livre vontade nos afastar de Deus.

A verdade é que o pecado não é cometido por ninguém, mas por você mesmo, e está diretamente relacionado ao uso da liberdade. O interessante é que, da mesma forma que somos capazes de cair em pecado, também temos as ferramentas para nos afastarmos dele. Mas para fugir de algo, primeiro temos que saber que estamos presos e como fomos pegos. E isso muitas vezes não é tão óbvio.

Como o pecado funciona?

"Todo mundo possui seu próprio Paraíso; é o coração criado por Deus, o coração em estado de paz. Cada pessoa também experimenta a serpente que, na forma de um pensamento maligno, penetra no coração para nos atrair."

~Tomas Spidlik

Para responder a isso, precisamos analisar a história do primeiro pecado: aquele cometido por Adão e Eva. A serpente vem para o Paraíso e com seus jogos, mentiras e seduções convence Eva. A serpente conhecia Eva e, da mesma forma, o demônio astuto nos conhece. Ele conhece nossas fraquezas e como pensamos. Nós também precisamos conhecer essas coisas sobre nós mesmos

O Mecanismo do Pecado

1. A sugestão. A serpente sugere uma idéia para Eva.

Nosso coração é um paraíso e da mesma forma que a serpente entrou no paraíso sem que Adão ou Eva percebesse, ela entra em nosso coração. Sedutoramente, ela coloca um pensamento na mente de Eva: "É verdade que Deus não permite que você coma da árvore do paraíso?" Esta primeira ideia vem à mente de Eva e, ajudada por sua imaginação e fantasia, ela pode pensar: "Eu quero comer de todas as árvores do paraíso. Eu gostaria de comer daquelas que são proibidas." O porta de entrada para o pecado é um simples pensamento. Isso não significa que todos os nossos pensamentos nos levam a pecar, mas pode começar por aí.

Neste estágio, não há pecado ainda. Existem apenas pensamentos que podem ser insistentes. Da mesma forma acontece com a gente. Um pensamento entra em nossa mente repetidamente. Eles são como moscas que nos incomodam mais e mais sempre que podem. Estes não são pecado em si; se somos capazes de ignorá-los, eles vão embora. Muitas vezes acontece que não os ignoramos e eles se tornam mais insistentes.

2. O diálogo. Você não pode dialogar com a tentação.

Em vez de ignorar seus pensamentos, Eva começa a dialogar com a serpente: "Sim, Ele nos permite comer de todas as árvores, exceto daquela". A serpente encontra uma janela e mostra a Eva outra idéia que ela acha boa e irresistível:"Vocês serão como deuses ..." Até este momento não houve pecado, mas começar a dialogar com a tentação é perigoso. Quantas vezes começamos a falar com tentação! Quanto tempo e energia gastamos dando espaço a tentação em nossas vidas.

3. A luta e o consentimento. O Mal está feito.

"Depois de uma longa conversa, o pensamento se aninha no coração e não consegue ser facilmente repudiado." ~Tomas Spidlik

Eva continua a dialogar com a serpente e tenta dizer que estão bem sem aquela fruta, mas o argumento da serpente é convincente. Eva sabe o que não deve fazer, mas mesmo sabendo disso, ela continua. A luta é resistir a cometer esse mal. Podemos decidir livremente não fazer as coisas que desejamos. Infelizmente, neste caso, Eva está convencida pela ideia da serpente; ela quer ser como Deus. Mesmo sabendo que Deus não quer isso, ela experimenta o fruto da árvore proibida. Neste estágio, o pecado está feito. A batalha está perdida. Nós livremente escolhemos fazer o mal que nós abominamos e perdemos o Paraíso.

4. A paixão que sequestra nossa liberdade

"Quem sucumbe aos maus pensamentos, muitas vezes enfraquece pouco a pouco seu próprio caráter. Desta forma, uma atração pelo pecado se desenvolve, que pode se tornar tão forte que é quase impossível enfrentá-lo." ~Tomas Spidlik

Eva sucumbe ao desejo de experimentar o fruto da árvore proibida e se torna escrava de sua decisão. Ela perdeu o paraíso porque não resistiu a experimentar o fruto que tanto a atrai. Esse é o estágio final e o mais trágico. Da mesma forma, caímos repetidamente ao ponto de ficar cada vez mais difícil de se levantar queda após queda.

5. A comunicação do pecado

O pecado de Eva não permaneceu apenas nela. Eva dá a Adam o fruto proibido para que ele também possa saboreá-lo. A mesma dinâmica que aconteceu entre Eva e a serpente, se repete com Adão e ele cai. Da mesma forma que Eva não pecou sozinha, também não pecamos sozinhos. Por minúsculo que possa ser o nosso pecado, ele sempre tem consequências para os outros. O mal se comunica e traz mais dano.

6. A vergonha e a culpa por pecar

Depois de comer o fruto, Adão e Eva percebem que estão nus, então sentem vergonha. Essa vergonha reflete a perda da união com Deus. O sentimento de culpa os destrói e os faz acusar um ao outro. Da mesma forma, o pecado causa isso em nós: depois que percebemos o mal que fizemos, vem a culpa, que em vez de compensarmos o mal, nos leva a continuar nos afastando de Deus cada vez mais se não aceitarmos humildemente a nossa faltas e pedir perdão.

Ao sabermos como o pecado opera em nossas vidas, podemos confrontá-lo melhor. É essencial estar ciente de nossas ações. O exame de consciência não é simplesmente pensar sobre o que fizemos de errado durante o dia, mas reconhecer como pensamos e como esses pensamentos nos levam a agir.

Original em inglês: CatholicLink


Nota:

[1] Cardeal Tomas Spidlik: cardeal tcheco, falecido em 2010.