A Visitação Divina
![Cristo na casa de Marta e Maria, de Johannes Vermeer, 1654 - 1655 [Galeria Nacional da Escócia, The Mound, Edimburgo]](https://6323b73651.clvaw-cdnwnd.com/24b39ffcea37433b4ba1d3b1f650338a/200002901-90f3790f39/Johannes-Vermeer.jpeg?ph=6323b73651)
Duas irmãs, próximas de Jesus, O convidam para sua casa. Marta e Maria, dedicadas discípulas de Jesus, também se tornariam controversas. Marta reclama porque está preocupada com muitas coisas, ocupada cuidando da casa e da hospitalidade. Maria, contente aos pés de Jesus, mostra que é uma discípula determinada a ouvi-Lo pregar. Ao contrário da irmã, ela não está preocupada. Ela está em paz. As duas irmãs também têm um irmão, Lázaro. Ele também desempenha um papel notório na família: morre apenas para que Jesus o ressuscite dos mortos.
Maria é a figura mais controversa. São Gregório Magno diz que ela é a mesma mulher de quem Jesus expulsou sete demônios. (Embora outros comentaristas não tenham tanta certeza.) De qualquer forma, Lucas apresenta Maria como uma mulher perturbada, cujos pecados são muitos, que cai aos pés de Jesus e quebra um vaso de alabastro cheio de nardo. São Gregório, em sua homilia sobre Madalena, declara: "Ela transformou seus crimes em tantas virtudes, que tudo o que nela havia desprezado a Deus no pecado foi colocado a serviço de Deus em penitência".
Maria unge Jesus não uma, mas duas vezes, como descreve São João:
"Deram ali uma ceia em sua honra. Marta servia e Lázaro era um dos convivas. Tomando Maria uma libra de bálsamo de nardo puro, de grande preço, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com seus cabelos. A casa encheu-se do perfume do bálsamo" (João 12,2-3).
Quem é esta mulher que causa tanta controvérsia?
Em sua carta sobre o gênio feminino, A Dignidade da Mulher, São João Paulo II se refere à Tradição e nos diz:
"O Evangelho de João (cf. também Mc 16, 9) coloca em destaque a função particular de Maria Madalena. … Por isso ela é chamada também «a apóstola dos apóstolos». Maria Madalena foi a testemunha ocular do Cristo ressuscitado antes dos apóstolos e, por essa razão, foi também a primeira a dar-lhe testemunho diante dos apóstolos" (Mulieris dignitatis 16).
Maria Madalena não é apenas a primeira testemunha da ressurreição, mas Cristo também a redimiu de uma vida de pecado.
Muitos consideraram Maria apenas uma prostituta, mas, na realidade, ela estava possuída por sete demônios. Não podemos dizer com certeza quais demônios a possuíam, mas, como em outros exorcismos que Jesus realizou, a dramática expulsão deles foi memorável.
"Legiões" possuíram o homem em Genesaré; Jesus os expulsou e os mandou para uma manada de porcos, que se afogaram. No exorcismo na Sinagoga, os demônios declararam que sabiam quem era Jesus, o Santo de Deus. Eles possuíram um menino que tinha convulsões e espumava pela boca, e Jesus os repreendeu. Um demônio possuiu a filha da mulher siro-fenícia. Com uma palavra, Jesus o expulsou. Essas histórias impactantes revelam uma dimensão diferente e maior de Maria Madalena do que o fato de ser apenas uma prostituta.
Madalena conheceu o mal face a face. Como a maioria dos que sofrem influência demoníaca, ela temia por sua vida. Seus pecados controlavam sua vida enquanto os demônios assumiam um controle maior sobre ela. Desesperada por ajuda, ela se voltou para Jesus. Caindo a seus pés, implorando por liberdade, Jesus declarou: "Teus pecados estão perdoados". (Lucas 7,48) Daquele momento em diante, Magdelene tornou-se discípula.
Esses relatos não podem ser banalizados, reduzidos a pecados da carne. São Gregório diz que os sete demônios são os pecados universais e mortais do orgulho, da inveja, da ira, da preguiça, da avareza, da gula e da luxúria. Sete também é o número da aliança pela qual os demônios fizeram o pacto com ela que destruiu sua vida..
Em um instante, com uma simples confissão, Jesus a libertou desse aliança, removeu todos os seus pecados e a convidou a segui-Lo. Ocorreu uma mudança drástica. Ela se tornou uma apóstola dos apóstolos, cheia de Seu Espírito, pois conhecia a luta contra o pecado e o poder de Jesus.
Por causa de sua experiência com o mal, Madalena se concentra somente em Jesus. Quando Ele vem visitá-la, ela não quer outra coisa senão participar de Sua presença. Ela, uma pecadora, tornou-se uma santa e agora quer permanecer com seu Salvador, saboreando cada palavra dele. Isso pode acontecer conosco também?
Marta, uma mulher com muitas preocupações, estava ocupada. Não que a ocupação seja ruim, mas é preciso estabelecer prioridades. Muitas coisas são importantes, mas, como Jesus nos diz, apenas uma coisa é importante, e Maria "escolheu a boa parte". (Lucas 10,42)
No tempo da nossa Visitação Divina, uma coisa é essencial: Jesus. Ele entra em nossas casas, não como convidado, mas como anfitrião. Ele nos tira de nossos confortos, libertando-nos de nossos pecados. Ele também quer nos livrar de nossos medos, preocupações e desespero e nos dar coragem, paz e esperança. No entanto, Jesus não pode fazer isso se não pararmos, ouvirmos e aprendermos com Ele.
Infelizmente, o mal infesta nossa cultura, e muitos andam distraídos com uma série de atividades que têm importância, mas são dispensáveis. Jesus é indispensável. Ele é a quintessência da vida. Sem Ele, nossa vida fica desgastada. Ao correr para cuidar de tantas preocupações, nossa alma morre de fome. Como vasos vazios, somos vazios e nunca reservamos tempo para nos enchermos da Presença Divina.
Como vasos vazios, somos vazios e nunca reservamos um tempo para nos encher da Presença Divina.
Para romper com nosso pensamento desordenado, Jesus entra em nossas vidas. Fazendo-nos esperar, testando nossa paciência, permitindo que as coisas rompam, que surjam problemas de saúde, que as preocupações financeiras nos preocupem, que os planos fracassem e uma série de outras interrupções, todas destinadas a nos fazer parar, pensar, ouvir e perguntar: O que devo aprender com isso?
Maria demonstra a atitude correta, reconhecendo sua Visitação Divina. Marta, por outro lado, demonstra desconsideração pela impactante presença de Deus bem diante de nossos olhos. Agora é a nossa vez de acertar nossas prioridades. Aceitamos o convite divino de nosso anfitrião, Jesus, que vem à nossa casa para fazer Sua morada conosco? Ou ignoramos Seu convite e nos ocupamos em tentar nos satisfazer e ter sucesso, perdendo nossa Visita Divina?
Autor: Pe. Thomas Kuffel
Original em inglês: The Catholic Thing