A Santíssima Virgem E O Espírito Santo

Nesses últimos dias de maio, rezamos a novena do Espírito Santo (30 de maio a 7 de junho), em preparação para o Pentecostes. E é útil refletir sobre o que o Espírito Santo fez pela Bem-aventurada Virgem Maria, tornando-a Mãe de Jesus e Mãe da Igreja. Com essa abordagem, coroamos nossa homenagem a Maria durante seu mês de maio. Honramos o Espírito Santo e honramos também todos os cristãos que levaram a sério a obra do Espírito Santo, seguindo o exemplo de Maria.
Toda a grandeza de Maria como cristã se deve ao fato de que o Espírito Santo veio sobre ela e que ela viveu na presença de Deus, continuamente consciente de Sua presença em sua vida. Nossa Senhora cooperou com os estímulos do Espírito em obediência amorosa à Palavra de Deus; ela renovou diariamente seu fiat na Anunciação. Maria, a Virgem, atendeu ao plano do Senhor para ela e, assim, tornou-se fecunda.
A vida de Maria foi um Magnificat contínuo; ela era uma mulher de paz e alegria porque deu liberdade ao Espírito de Deus em sua vida. Quando experimentou a sombra do Espírito Santo, ela não O guardou para si mesma; imediatamente saiu para compartilhar essa experiência e seu significado, pois percebeu que uma vida no Espírito necessariamente envolve o serviço aos outros. Assim, sem considerar sua própria situação precária, ela atravessou a região montanhosa para cuidar de sua prima idosa e inesperadamente grávida, Isabel.
O que tudo isso tem a ver conosco? Muito, pois o que aconteceu na vida da Bem-Aventurada Virgem Maria pode e deve acontecer em nossa própria vida. Cada um de nós recebeu o Espírito Santo no Batismo e na Confirmação. Fizemos alguma coisa com o Espírito? Somos mais pacíficos, mais amorosos, mais alegres por termos recebido esses sacramentos? Se não, não ativamos o poder do Espírito em nossa vida.
Aqui está um teste para ver se você é uma pessoa cheia do Espírito. É muito simples: O que você tem feito com os dons que o Espírito de Deus lhe concedeu? Jesus disse: "Pelos seus frutos os conhecereis" (Mateus 7,16). Conhecemos os frutos que Nossa Senhora produziu, pois todos os dias dizemos: "Bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus". Você está possuído pelo Espírito de Deus? Você trouxe Cristo para o mundo em que vive?
Também comemoramos o Dia das Mães neste mês. As mães cristãs encontram sua inspiração e exemplo na Mãe Santíssima. Em uma época em que a maternidade é denegrida, é bom afirmar a insubstituibilidade da vocação da maternidade e, portanto, a dívida devida a toda e qualquer mãe, não apenas a nossa. "A mão que balança o berço governa o mundo!".
Um dos grandes confessores recentes da fé, o Servo de Deus(1) Cardeal Joseph Mindszenty, confrontando a despersonalização e o utilitarismo do comunismo (ver aqui), sentiu-se compelido a escrever um hino às mães, digno de ser relembrado em nossos dias, que reproduziram essa mesma despersonalização e utilitarismo:
A pessoa mais importante na Terra é uma mãe. Ela não pode reivindicar a honra de ter construído a Catedral de Notre Dame. Ela não precisa. Ela construiu algo mais magnífico do que qualquer catedral — uma morada para uma alma imortal, a pequena perfeição do corpo de seu bebê. Os anjos não foram abençoados com tal graça. Eles não podem participar do milagre criativo de Deus para trazer novos santos para o céu. Só uma mãe humana pode. As mães estão mais próximas de Deus, o Criador, do que qualquer outra criatura; Deus une forças com as mães para fazer esse ato de criação. O que, neste mundo de Deus, é mais glorioso do que isso: ser mãe?"
O grande poeta jesuíta Pe. Gerard Manley Hopkins compôs uma obra grandiosa, "A Virgem Santíssima Comparada ao Ar que Respiramos". É interessante notar que, em hebraico, ruach tem vários significados: sopro, vento, espírito - todos os quais entram em cena no Pentecostes. Hopkins reúne tudo isso nessa amostra de seus versos: Ar selvagem, ar que gera o mundo,
Que me envolve num segundo
E em cada cílio, em cada fio
De cabelo, firma seu brio;
Que entra no mais sutil
Floco de neve infantil,
Que a tudo se mistura,
E em tudo a vida fulgura;
Esse ar vital, constante,
Alento sempre abundante,
Meu sustento mais profundo,
Meu alimento em cada segundo;
Este ar, que pela lei da vida,
Meu pulmão sorve em investida—
Apenas para o louvar,
Me faz logo recordar
Dela, que não somente
Acolheu o Onipotente
Reduzido a um infante,
Em ventre e peito amante,
Com parto, leite e doçura,
E toda santa ternura,
Mas que em cada nova graça
Que à nossa estirpe se enlaça
É Mãe, é pura e perfeita:
Maria, a Imaculada eleita,
Simples mulher, e todavia
Com um poder que não havia
Em deusa alguma sonhada,
Nem em fábula entoada;
Pois tem uma só missão—
Deixar fluir a amplidão
Da glória de Deus, que quer
Passar por Ela, e só por Ela ser
Canal de esplendor e luz
Do Deus que nela reluz.
Ao entrarmos espiritualmente no Cenáculo com Maria e os Apóstolos, ganhamos confiança em um novo derramamento do Espírito Santo sobre nós e sobre a Santa Igreja de Deus - porque nós, como aqueles primeiros discípulos, estamos unidos em oração com a Mãe de Cristo, que também é nossa Mãe na ordem da graça.
Um poema ainda mais famoso de Hopkins, "A Grandeza de Deus", nos lembra que o Espírito Santo, sobre este mundo vergado/Vigia com peito cálido e oh! luzentes asas". Esse é o mesmo Espírito Santo que, no início dos tempos, pairava sobre o abismo, tirando a Criação do caos; o mesmo Espírito Santo que pairava sobre a Virgem de Nazaré, fazendo dela a Mãe de seu Criador; e sim, o mesmo Espírito Santo que paira sobre os elementos do pão e do vinho, transformando-os no Sagrado Corpo e Sangue de Cristo.
O fundador do movimento Comunhão e Libertação, Monsenhor Luigi Giussani, estava certo ao incentivar seus seguidores a orar: Veni, Sancte Spiritus. Veni per Mariam ("Vinde, Espírito Santo, vinde por Maria").
Autor: Rev. Peter M.J. Stravinskas
Original em inglês: The Catholic Thing