A Morte De Jesus Foi A Morte Mais Dolorosa Da História?

Embora a crucificação não seja necessariamente a forma mais dolorosa de execução já inventada pelo homem, ainda assim é razoável acreditar que a morte de Cristo foi a mais dolorosa da história.
Primeiro, no nível físico, a crucificação é, sem dúvida, uma das formas mais excruciantes de tortura e execução já inventadas. O próprio termo "excruciante" é derivado do latim ex cruce ("da cruz"), e as dores físicas da crucificação incluíam uma terrível perda de sangue, sufocamento, desidratação, exposição, choque, exaustão, início precoce de infecção e cãibras musculares agonizantes.
Quando usados, os pregos causavam uma quantidade inacreditável de agonia adicional devido ao fato de rasparem constantemente o nervo mediano entre a palma da mão e o pulso, enviando ondas de choque que reverberavam pelo corpo por horas a fio. No caso de Jesus, também sabemos que o procedimento de crucificação envolveu tortura prévia na forma de flagelação, coroação com espinhos e ser forçado a carregar sua própria cruz.
Juntamente com o testemunho do Sudário de Turim, as evidências arqueológicas indicam que a flagelação antes da crucificação foi uma forma extremamente violenta de punição. Pedaços de osso, pedra e cerâmica eram presos às cordas do chicote e depois usados para retalhar as costas da vítima. Devido ao comprimento das cordas, as coxas, o estômago, as nádegas e até mesmo os órgãos genitais da vítima também eram lacerados.
Segundo, no nível psicológico, a crucificação era a forma mais vergonhosa de morte que a mente romana poderia conceber. Jesus foi afixado na cruz quase ou totalmente nu e, em seguida, levantado para que a multidão observasse e zombasse. Mais do que isso, a crucificação na sociedade mediterrânea do século I era amplamente percebida como a morte de um escravo e, portanto, uma punição tremendamente humilhante para um homem livre, especialmente em um mundo em que a honra era um valor prezado acima de tudo.
Penduradas por horas a fio, as vítimas da crucificação sofriam a humilhação de sua total impotência e o conhecimento de que a única saída de sua cruz seria na forma de um cadáver. Podemos imaginar as moscas se aglomerando ao redor das feridas abertas de Jesus enquanto Ele estava pendurado ali por um crime que não cometeu.
De forma perturbadora, o antigo historiador Josefo fala até mesmo sobre pássaros que se aproximavam das vítimas da crucificação e começavam a arrancar seus órgãos genitais e globos oculares antes que as vítimas estivessem completamente mortas. Além de tudo isso, Jesus teve que processar a experiência de ser rejeitado, renegado e traído por quase todos os Seus amigos mais próximos.
Terceiro, no caso de Jesus, as dores físicas da crucificação atingiram um nível impossível para os homens pecadores. A razão teológica para isso, como explica Santo Tomás de Aquino em sua Suma Teológica, é que o corpo mortal de Cristo era perfeitamente constituído. Ele nunca foi tocado pela mancha do pecado, o que fez com que fosse "acutíssimo nele o sentido do tato, com o qual se percebe a dor".
Um prego em nossa carne é horrível por causa de nossa capacidade humana básica de sentir dor. Mas os pregos na carne sem pecado de Cristo eram excruciantes, pois Sua alma estava em perfeita sintonia até mesmo com as menores sensações físicas que Seu corpo poderia sofrer.
Tomás também acrescenta esta consideração sobre Nosso Senhor: "Também a alma, nas suas potências interiores, apreendia com grande eficácia todas as causas de tristeza". Portanto, se alguma vez formos tentados a pensar que talvez Jesus não tenha sofrido muito porque Ele é Deus e pode lidar com isso, devemos perceber que o oposto é verdadeiro: A capacidade de Jesus de sofrer era maior do que a nossa, não menor.
Quarto, Jesus deliberadamente não tomou medidas para diminuir Sua experiência interior da gravidade da dor. Em praticamente todas as outras mortes na história da humanidade, nossa reação natural é fazer o máximo para limitar a dor, distraindo-nos, voltando nossa mente para outro lugar e desviando nossa atenção de todas as maneiras possíveis. Isso não ocorreu no caso de Jesus. Ele abraçou voluntariamente o sofrimento de frente e permitiu que Ele consumisse totalmente Suass potências sensoriais e interiores.
Quinto, além de tudo o que foi mencionado acima, Jesus também assumiu um fardo espiritual diferente de tudo o que foi experimentado por qualquer ser humano na história. Além de todos os outros sofrimentos, por seis longas horas Ele permitiu que cada pecado já cometido se tornasse presente em Sua mente e imaginação, a fim de que pudesse suportá-lo e destruí-lo com amor. Em um sermão extraordinário que vale a pena ler na íntegra, São John Henry Newman descreve vividamente essa experiência de Nosso Senhor:
Qual não terá sido o Seu horror quando Se olhou e não Se reconheceu, quando Se encontrou semelhante a um impuro, a um pecador detestável, portanto coberto de corrupção que O cobria desde a Sua cabeça, até à orla da Sua túnica! Qual não seria a Sua confusão quando viu que os Seus olhos, as Suas mãos, os Seus pés, os Seus lábios, o Seu coração eram como os membros do malvado e não os do Filho de Deus! São estas as mãos do Cordeiro de Deus antes inocentes e agora roxas com mil atos bárbaros e sangrentos? São estes os lábios do Cordeiro, os olhos profanados por visões malignas, por fascinações idolátricas pelas quais os homens abandonaram o seu Criador? Os Seus ouvidos escutam o ruído de festas e combates. O Seu coração chagado pela avareza, a crueldade e a incredulidade… A Sua memória está carregada com a memória de todos os pecados cometidos desde Eva, em todas as partes da terra. A luxúria de Sodoma, a dureza dos egípcios, a ingratidão e desprezo de Israel… Todos os pecados dos vivos e dos mortos, dos que ainda não nasceram, dos condenados e dos escolhidos: Todos estavam lá.
Enquanto estava pendurado no Calvário, Jesus se permitiu sentir e assumir toda a escuridão da humanidade. Como disse o profeta Isaías: "Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos" (Is 53,4).
Com toda certeza, então, a morte de nosso Amado Salvador foi a morte mais dolorosa que se possa imaginar.
Autor: Clement Harrold
Original em inglês: St. Paul Center