A Beleza Virtuosa De Maria E A Cruz
![A Crucificação, Fra Angelico, c. 1420–23 [MMA, Nova Iorque]](https://6323b73651.clvaw-cdnwnd.com/24b39ffcea37433b4ba1d3b1f650338a/200002724-759c6759c7/Maria%20e%20a%20Cruz.jpeg?ph=6323b73651)
Rezar a Maria invocando seus vários títulos pode incomodar as pessoas acostumadas a descartar a devoção a Maria como algo extrabíblico. Mas John Henry Newman adverte que os países que "em grande medida deixaram de adorar Jesus e não creem mais na sua divindade" (Meditações sobre Nossa Senhora). A beleza virtuosa de Maria irradia por todos os Evangelhos.
Deus se revela por meio de Moisés, dos profetas, do ministério de Jesus, do testemunho dos apóstolos, das Escrituras e dos ensinamentos da Igreja. A maioria - se não todos - dos pergaminhos originais das Escrituras voltou ao pó. A revelação é como um enxame sagrado de abelhas, dirigido pela Tradição e mantido unido pelo Magistério da Igreja. E Maria - para não exagerar na metáfora - é a Abelha Rainha, intercedendo para resgatar os zangões renegados. Maria sempre nos direciona para as palavras vinculativas de Jesus.
A obediência de Maria nos trouxe a Encarnação, a "mais importante conferência de paz de todos os tempos". (Manual da Legião de Maria) Na Anunciação, Deus e o homem são reconciliados. "Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós." (cf. Lucas 1,38 e João 1,14).
Maria nos ensina a rezar e a viver. Nossa Mãe Santíssima pondera as palavras do Anjo Gabriel em seu coração. Sua obediência engrandece o Senhor. (cf. Lucas 1,46-55). Como Maria, recebemos com alegria a palavra de Deus e nos apegamos às doutrinas que nos foram transmitidas pela Igreja. Maria nos ajuda a identificar as muitas partes do ensinamento da Igreja, reuni-las e, com a graça de Deus, aplicá-las. Com Maria, nós também exaltamos o Senhor em uma vida virtuosa.
Maria nos ensina a obedecer à vontade de Deus. João escreve as últimas palavras registradas de Maria na festa de casamento em Caná: "Fazei tudo o que ele vos disser." (João 2, 5) Como João Batista, Maria, em humildade, diminui à medida que Jesus cresce. Mas Jesus faz a Maria o maior elogio, disfarçado:
"Estando ainda a falar às multidões, sua mãe e seus irmãos estavam fora, procurando falar-lhe. Jesus respondeu àquele que o avisou: 'Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?'. E apontando para os discípulos com a mão, disse: 'Aqui estão a minha mãe e os meus irmãos, porque aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, irmã e mãe'" (Mateus 12, 46-50).
A Imaculada Conceição de Maria e sua perfeita obediência ao Pai irradiam sua beleza virtuosa: "Único orgulho de nossa natureza que decaída"(1) (William Wordsworth).
Jesus confia a Maria a missão de interceder por nós como nossa mãe, tendo São João como seu representante: "Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus, então, vendo sua mãe e, perto dela, o discípulo a quem amava, disse à sua mãe: 'Mulher, eis o teu filho!' Depois disse ao discípulo: 'Eis a tua mãe!' E a partir dessa hora, o discípulo a recebeu em sua casa." (João 19:25-27)
Podemos facilmente imaginar os meses e anos de conversas entre Maria e João durante sua estadia em Éfeso. O Evangelho de João é a jóia da coroa da teologia católica (cf. a oração sacerdotal de Jesus, Jo 17). De certa forma, Maria intercede como a editora sênior dos Evangelhos, com o Espírito Santo como o Editor Executivo. Maria é a guardiã da ortodoxia e alimenta seus filhos com as palavras de Jesus por meio das palavras dos evangelistas.
O exemplo orante e a intercessão de Maria incentivaram as reflexões teológicas dos Padres da Igreja. A desobediência de Adão e Eva arruinou nossa felicidade e trouxe condenação. A obediência de Jesus até a morte O revela como "o Novo Adão", restaurando nossa inocência n'Ele. A obediência de Maria lhe confere a distinção de "a Nova Eva", mãe de todos os vivos redimidos em Jesus.
Maria, a cooperadora da salvação com seu Filho, esmaga a cabeça da serpente, como profetizado em Gênesis 3,15.
Maria trouxe a Encarnação até nós pelo poder do Espírito Santo. Pela graça de Deus, por meio de Maria (a nova Eva), Jesus (o Novo Adão) nos redime. Em união com os sofrimentos de Jesus, Maria sofre compassivamente com seu Filho Divino pela nossa redenção. Assim, nossa humanidade tem o privilégio de Maria sofrer com Jesus na vitória sobre o pecado, o sofrimento e a morte.
Maria nos ensina a sofrer com Jesus ao entrarmos na Semana Santa de Sua Paixão. A Cruz foi um instrumento terrível de tortura. Mas a Ressurreição nos permite ver sua vitória e colocá-la como um artefato glorioso em nossas igrejas.
No contexto dessa bela paisagem mariana, alguns sugeriram piedosamente que Jesus ressuscitado deve ter aparecido primeiro à Sua mãe - a humildade de Nossa Senhora teria protegido a intimidade desse momento.
Maria não se retirou após sua gloriosa Assunção ao Céu. A beleza de Maria continua a irradiar a virtude de seu Divino Filho na Cruz. Ela é a "uma Mulher vestida com o sol, tendo a lua sob os pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas" (Apocalipse 12,1). Ao contrário da atitude dos céticos, Maria é indispensável para nossa fé, adoração e cultura.
Autor: Rev. Jerry J. Pokorsky
Original em inglês: The Catholic Thing
Nota:
(1) - Esta citação é do poema "A Virgem", traduzido abaixo:
A Virgem
Mãe! cujo peito virginal jamais sentiu
A menor sombra de um pensar pecaminoso;
Mulher! entre todas, a mais gloriosa e luminosa,
Único orgulho de nossa natureza caída.
Mais pura que a espuma do oceano, a vagar ao léu;
Mais brilhante que o céu ao nascer do dia;
Como ave mítica, sem fim e sem agonia,
Tua fama sem mácula cruzará todo o céu.
A Terra tem almas belas como em exposição,
Mas nenhum amor terreno é tão duradouro;
Milhares de corações fervem em emoção,
Mas nenhum como o teu é puro e doloroso;
Teus sofrimentos — tão caros à nossa condição —
São dores de mãe, e amor materno amoroso.